quinta-feira, 24 de julho de 2008

"Viva la muerte!"



O Fernando Samuel do blog "Cravo de Abril" utilizou uma frase tristemente célebre do general fascista espanhol Millán Astray (em cima, a preto e branco, à direita do seu dono, o criminoso "generalíssimo" Franco), para ilustrar um texto sobre o assassino Álvaro Uribe (em cima, a cores, à direita do seu dono, o criminoso Bush). O texto está tão bem feito que me limitarei a aqui à sua reprodução integral, dada a grande importância de se ir entendendo o que se passa realmente na Colômbia e sendo certo que não veremos estas informações na nossa, digamos assim, comunicação social.
O meu contributo limita-se a esta introdução e à montagem fotográfica, que mais parece uma lixeira a céu aberto.
Um abraço.


«Viva la Muerte!»

«Viva la Muerte!», era uma das frases utilizadas pelo general fascista Millán Astray para exibir a sua dimensão... humana.

Em 12 de Outubro de 1936, no decorrer de uma sessão na Universidade de Salamanca, Millán Astray enriqueceu a ideia, acrescentando à frase um novo condimento: «Muera la Inteligencia! Viva la Muerte!».
Aí está o que bem poderia ser a palavra-de-ordem do poder capitalista dominante, hoje.



Vem isto a propósito da forma como os jornais portugueses têm tratado os acontecimentos na Colômbia.

Com efeito, lendo-os parece estarmos perante uma tradução adaptada ao tempo actual da frase do fascista espanhol, em que os elogios a Uribe e aos seus homens de mão soam como autênticos gritos de Viva la Muerte! gritados à maneira actual, ou seja, decorados com os habituais enfeites pseudo democráticos - e complementados com a desinformação dos leitores, quer divulgando notícias falsas sobre a realidade colombiana, quer silenciando cuidadosamente os brutais crimes do regime de Uribe.



Por isso aqui ficam mais alguns dados sobre a realidade colombiana nessa matéria, desta vez tirados de um relatório da Amnistia Internacional (AI).

Informa esse relatório que, «em 2007, aconteceram na Colômbia 280 execuções extra judiciais». As vítimas, na maioria camponeses, foram apresentadas pelos militares como sendo «guerrilheiros mortos em combate».

Por seu lado, os grupos paramilitares cometeram 230 assassinatos no mesmo ano de 2007.

Ainda em 2007, estes grupos paramilitares - ligados, como se sabe, ao narcotráfico - «roubaram 4 milhões de hectares de terra a camponeses pobres».



Sempre segundo o relatório da AI, os que se queixam destes crimes à justiça correm sérios riscos, tal como os seus advogados de defesa. 
Exemplos: Yolanda Isquierdo, advogada de várias famílias vítimas dos paramilitares, foi assassinada no dia 31/1/2007; a advogada Carmen Romaña, que representava vítimas de roubos de terras, foi assassinada a tiro no dia 7/2/2007.



Quanto aos sindicalistas - que Uribe considera serem «elementos subversivos» - são alvos preferenciais da repressão.

Assim, informa a AI, durante as duas últimas décadas, foram assassinados 2. 245 sindicalistas e desapareceram 138 (estes desaparecimentos correspondem, regra geral, a assassinatos) - e 3. 400 sindicalistas estão ameaçados de morte.

Mais de 90% destes casos não foram sequer investigados - aliás, segundo a AI, «mais de 40 legisladores são suspeitos de ligação aos paramilitares»...



Eis, em resumo muito resumido e parcial, um retrato do governo de Uribe - que os média portugueses não se cansam de elogiar e apresentar como um exemplo de governo democrático...

Publicado por Fernando Samuel, "Cravo de Abril", em 24.07.08

19 comentários:

Sal disse...

É verdade tudo.
Até o pormenor da lixeira.
bjs

linhadovouga disse...

Excelente texto do FS.
Ó Samuel, não sei se algum dia terás postado algo de tão pestilento (e não me refiro ao texto...)!

GR disse...

"A verdade a que temos direito"

Este texto tem que ter asas, que voe pelo mundo inteiro, sem esquecer a Colômbia!

GR

Maria disse...

Gostei dessa da lixeira a céu aberto...

É verdade tudo o que está aqui relatado. (Hás-de me ensinar a escrever em bold e itálico...)

Abreijos

Anónimo disse...

É necessário e urgente que enviemos este texto para todos os nossos contactos.

Anónimo disse...

Que mundo é este que produziu/produz este tipo de gente.

Sei/sabemos que num lindo campo de papoilas existem ervas daninhas, mas será que as mesmas fazem tanto mal às ditas como esta gente fez/faz ao seu semelhante???...

Abraço

Fernando Samuel disse...

E que contributo!: aquela «lixeira a céu aberto» é por demais elucidativa...

Abraço amigo.

MonteMaior disse...

E viva a democracia

L * E disse...

Muito bem!

Um abraço.

jrd disse...

Hoje um "Milan Astray", o Carniceiro de Códoba,das pampas, foi condenado a pena perpétua.
O tempo será implacável para os biltres como Uribe.

Justine disse...

Que força dá, sentir este movimento de divulgação e de denúncia. Alguém há-de ficar informado...

Anónimo disse...

Conheço bem esse episódio na Universidade de Salamanca, e não creio que o louco Millán Astray tivesse dito “¡Muera la inteligencia!” Disse, sem dúvida, “¡Viva la muerte!”, o seu grito de guerra. Nesse dia, 12 de Outubro, comemorava-se o “santo” de Doña Carmen Polo de Franco, Nossa Senhora do Carmo. Millán Astray era uma figura terrível, zarolho, coxo e sem um braço, seus motivos de glória. Unamuno, que começara por apoiar o levantamento de Franco, cedo percebeu que este era ainda pior do que os Republicanos. E respondeu ao louco com um pequeno discurso que começa mais ou menos assim: “Tenho construído muito paradoxos, mas nenhum como este.” E terminava dizendo “Vencereis, porque tendes a razão da força mas não tendes a força da razão.” Como se encontrava de saúde muito frágil recolheu-se a casa, e não mais saiu e lá. Franco mandou que dois guardas civis o vigiassem constantemente na sua própria casa e à cabeceira da sua cama, para que ele não dissesse mais “inconveniências”. E foi entre os dois, como Cristo entre os ladrões, que expirou o grande Miguel de Unamuno, admirador de Antero (chegou a fazer um soneto inspirado num dos mais famosos do nosso poeta, que chamou precisamente “En la Mano de Dios”) e de outros portugueses, como Manuel Laranjeira, com quem trocou abundante correspondência.

Anónimo disse...

É complicado lidar com certas mentalidades. era terrível zarolho, coxo e sem um braço. perante afirmações destas só nos resta ter pena!... os nazis também identificaram as pessoas com deficiência assim. Conheço cegos, coxos, surdos, amputados, com plurideficiência que estão à frente das grandes lutas pelos direitos humanos nonomeadamente defendendo a sua inclusão concumitantemente com a libertação das pessoas mais desprotegidas como são os trabalhadores com ou sem deficiência. Será que estamos na Idade média onde a deficiência era um castigo de Deus?!!...

BlueVelvet disse...

Já tinha lido no blog da Maria, e confesso humildemente a minha ignorância.
Não sabia isto tudo.
Horrendo e revoltante.
Oportunamente copiarei, com sua licença, e colocarei no meu blog.
Todos não somos demais a denunciar.
Abreijinhos

GR disse...

Daniel de Sá,

Por vezes há palavras que ferem, mesmo não tendo sido a sua intenção.
“Millán Astray era uma figura terrível”
Acredite, M. Astray não era terrível pela sua deficiência física, mas sim pela sua ideologia fascista.

Inúmeros homens e mulheres conseguiram perpetuar os seus nomes na História, não pela sua deficiência física, mas pelo seu desempenho brilhante das suas actividades; na literatura, na ciência, na escultura, na música, no cinema, no desporto, na pintura, na política, entre muitas outras.

Andrea Bocelli, cantor (cegueira)
Ray Charles, cantor (cegueira)
Célia Leão, deputada brasileira (paraplégica)
Hans Christian Andersen, escritor (dislexia)
Albert Einstein, cientista (dislexia)
Helen Keller, escritora (cegueira e deficiência auditiva)
Itzhak Perlman, violinista (poliomielite)
Lord Byron, poeta (pé defeituoso) (coxo)
Ludwig Van Beethoven, compositor (deficiência auditiva)
Richard Pryor, actor de cinema (esclerose múltipla)
Stephen Hawking, físico e matemático (esclerose amiotrófica)

GR

Fernando Samuel disse...

daniel de sá: não é que isso tenha importância por aí além, mas nesse dia de 12 Outubro de 1936, na Universidade de Salamanca, o fascista Astray acrescentou ao seu grito de guerra «Viva la muerte!» (a que Unamuno chamou «necrófilo e insensato grito») um «Muera la inteligencia!».

Anónimo disse...

Antuã, Bluevelvet, GR
Vocês não têm culpa de não ter compreendido. Eu é que não expliquei bem. Disse que o Millán Astray era uma figura terrível (zarolho, coxo e maneta) porque tudo isso lhe aconteceu em acções de guerra e ele exibia ostensivamente as suas deficiências como medalhas de honra. Foi um dos carrascos de Sevilha, onde era chefe militar. Foi por aí que verdadeiramente Franco começou a ganhar a guerra, com o apoio deste louco e a abertura da fronteira portuguesa.
Fernando Samuel
Aquilo de que não nos lembramos não pode ser tido como certo. Portanto, se te lembras desse pormenor, obviamente não o nego. Tanto mais que a "inteligência" já tinha sido assassinada, entre Alfacar e Viznar, em Granada, creio que no dia 18 de Agosto. Não seriam "las cinco en punto de la tarde"...

Anónimo disse...

gr
E lembro-me de mais uns quantos, que admiro muito:
Edith Piaf
Somerset Maugham
António Francisco Lisboa (o “Aleijadinho”)
António Feliciano de Castilho
Toulouse-Lautrec
Cervantes
Mário Jorge Garcia (natural de Ponta Delgada, pianista, compositor, cantor e professor de música)
Homero
Camões
E há muitos mais, mas estes foram os que me vieram para já à ideia. E volto a pedir desculpa por não me ter explicado bem, mas não pensei que nem todos poderiam saber que Millán Astray era general. Chamo no entanto a atenção para o exibicionismo do facínora, com o braço esquerdo (que não tinha) ostensivamente tapado com um pano branco.
E vai abaixo parte do discruso de Unamuno:
“Pero ahora acabo de oír el necrófilo e insensato grito "¡Viva la muerte!" Y yo, que he pasado mi vida componiendo paradojas que excitaban la ira de algunos que no las comprendían he de deciros, como experto en la materia, que esta ridícula paradoja me parece repelente. El general Millán-Astray es un inválido. No es preciso que digamos esto con un tono más bajo. Es un inválido de guerra. También lo fue Cervantes. Pero desgraciadamente en España hay actualmente demasiados mutilados. Y, si Dios no nos ayuda, pronto habrá muchísimos más. Me atormenta el pensar que el general Millán-Astray pudiera dictar las normas de la psicología de la masa. Un mutilado que carezca de la grandeza espiritual de Cervantes, es de esperar que encuentre un terrible alivio viendo cómo se multiplican los mutilados a su alrededor."

GR disse...

Daniel Sá,
Claro que compreendi(mos).
Sei que não foi com intenção de realçar a pessoa com deficiência, mas para destacar o orgulho (injustificado) de um porco carrasco fascista.
Aqui deste lado, qualquer um de nós pode ler e comentar, contudo, quem lê não imagina como foi lido ou escrito. Quantas vezes lemos magníficos textos escritos em computadores normais, esquecendo que muitos são escritos com uma tecnologia mais complexa, dando oportunidade a todas as pessoas, até àquelas que são pessoas com deficiência terem a liberdade de escrever, ler, comentar, sem serem apontados como diferentes.
A net tem esta vantagem, todos somos iguais. Porém, quando alguém realça a deficiência mesmo sendo dos outros, há vozes que se insurgem.

Um abraço,

GR