Durante anos o poder do bloco central, ou seja, da direita, fez o que lhe foi possível para tentar dobrar a força reivindicativa dos trabalhadores. Chamou-lhe o PS, pela boca do seu ministro Maldonado Gonelha e pouco depois da Revolução, “partir a espinha à Intersindical”. Nunca conseguiram!
Ainda assim, não desarmaram. Optaram por desregular o mundo do trabalho, criando o conceito do trabalho precário. Da insegurança. Do medo. E lá vieram os milhares de desnecessários contratos a prazo, o trabalho por conta de outrem mascarado de trabalho independente, a troco de recibos verdes, ou, no ensino, os professores “contratados”.
É uma multidão que passou a ter a sua liberdade condicionada, sabendo que uma simples manifestação, ou uma greve, podem significar o fim do seu modo de vida e do sustento da sua família. Uma multidão para quem a democracia começa a ser um conceito longínquo.
Numa altura em que a prioridade do governo para a Escola Pública... é a sua destruição, com o fim de favorecer o negócio do ensino privado, em que os professores serão tratados como simples empregados de uma qualquer empresa, ao serviço, exclusivamente, do lucro da empresa... os professores “contratados” são, mais uma vez, o elo mais fraco. Carne para canhão colocada à porta do despedimento puro e simples.
Chegou-me, ao post anterior, um comentário acompanhado de um pedido para falar neste assunto.
Não é costume (nem passará a ser) neste blog transcrever comentários, ou falar de assuntos “a pedido”... dado que, o mais das vezes, esses “pedidos” não passam de provocações disfarçadas. Não é o caso deste!
Para quê ficar aqui a teorizar sobre um problema, quando tenho o testemunho de quem o vive? Aqui fica:
“Caro Samuel, acompanho o seu blogue, tal como fazem muitos democratas. Por isso mesmo gostaria de lhe pedir para, se puder, falar também dosprofessores contratados.
Somos milhares em risco de desemprego no fim de Agosto - a juntar aos milhares que já ficaram desempregados. Muitos de nós têm quinze, vinte ou mais anos de serviço e agora somos corridos como se fossemos uns cães pelos fascistas que nos desgovernam. Durante anos já fomos roubados porque fazemos o mesmo trabalho que os do quadro e recebemos menos. Um ano colocado em Bragança, outro em Viseu, sempre sem qualquer estabilidade, a pagar casa, viagens, etc.
É verdade que ninguém nos mandou sermos professores, mas também é verdade que o estado tem a obrigação de vincular quem tem mais de três anos de serviço. Sempre fomos vistos pelos governos como mão-de-obra mais barata, apesar de termos as mesmas habilitações dos outros.
Agora os fascistas que salvaram o BPN e o Banif preparam-se para "poupar" despedindo milhares de contratados. Enquanto isso continuam os milhões para as escolas "privadas", que de privadas não têm nada porque são pagas pelo contribuinte. Escolas controladas pelos amigos. Recordo que a obrigação do estado em relação a essas escolas é de financiá-las quando não houver oferta pública. Isso não se passa. Nas Caldas da Rainha, por exemplo, as duas secundárias da cidade perdem alunos enquanto as "privadas" os recebem pagos pelo estado. Em outras zonas passa-se o mesmo.
Deixo aqui este alerta até porque os canalhas rejubilaram com a descida do desemprego há um mês, mas agora que ele vai subir com os professores que são dispensados vamos ver o que dizem. Certo é que estão a destruir a escola pública. Peço desculpa por permanecer anónimo, mas como os bufos do governo devem passar por aqui prefiro não arriscar.
Cumprimentos e obrigado.”