Raramente se terá escrito um texto tão claro, tão simples e tão certeiro, contra essa aberração que é o racismo. É António Gedeão no seu melhor, trazendo a grande poesia para as coisas aparentemente vulgares do dia a dia.
Para além da leitura, podem ouvir uma das versões cantadas destes versos. Escolhi a que é, talvez, menos conhecida, na voz cristalina do Duarte Mendes, meu companheiro na aventura do disco colectivo de 1973, “Fala do Homem Nascido”, inteiramente dedicado à poesia de Gedeão musicada por José Niza, de que esta canção faz parte.
Bom fim de tarde!
Lágrima de preta
(António Gedeão)
Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado
Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente
Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais
Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o que é costume
Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
12 comentários:
Obrigado pelo belo fim de tarde.
Um abraço.
Era mesmo isto que eu precisava hoje, amigo, nem tu imaginas! Obrigada:))
Apenas o melhor disco que se fez neste país antes do 25 de Abril. Na minha modesta opinião, é evidente.
Obrigada por tanto, hoje.
Abreijo
Muito bom!
Sam
Essa foi na veia.
Um abraço forte.
Uma pequena maravilha e consigo ouvir-te a cantar...
beijos
Sempre belo, muito belo!
Obrigado
Lindo!
Há muito não ouvia esta canção.
A letra sempre actual.
GR
Ouvi o Samuel a cantar este lin do poema, há dias em Palmela, parabens amigo
Para mim, foi um bom fim de noite...
Obrigada Samuel!
Abreijo
Que coisa tão bonita! Há muito que não a ouvia!
Que bom despertar!
Abreijos colectivos!
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