Cavaco – Nem coberto de medalhas...

Amílcar Cabral foi um homem grande. Liderou a luta dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde pela independência e libertação do jugo do colonialismo português até 1973, quando foi barbaramente assassinado em Conacri, capital da vizinha República da Guiné. O seu assassínio foi fruto de uma teia de traições, intrigas e de uma maneira de “fazer política” que, desgraçadamente, marcam até hoje o dia-a-dia da Guiné-Bissau, onde a vida de um opositor vale tanto, ou menos, do que a bala usada para o assassinar. Não é esse, felizmente, o caso de Cabo Verde!

Em Cabo Verde, terra de música doce e gente que, como lembrei ontem e segundo as palavras de Saramago, «Fabrica o seu próprio chão, inventa a sua própria água, repete dia-a-dia a criação do mundo», foi instituída como mais alta condecoração do país, a Ordem Amílcar Cabral. Justíssimo! O problema é que, embora o mais das vezes, estas condecorações honrem tanto quem lhes deu o nome, como quem as concede, como quem as recebe... acabam fatalmente por, um dia, serem penduradas ao peito de um qualquer Aníbal Cavaco Silva deste mundo.

Enquanto milhares de jovens, entre 1961 e 1974, davam o melhor de si, dos seus sonhos e da sua inquietude, o que não poucas vezes foi a própria vida, uns por patriotismo e pela conquista da independência dos seus povos, outros, aqui em Portugal, solidariamente e também por patriotismo e luta pela liberdade, o cidadão Aníbal Cavaco Silva, que no início da Guerra Colonial tinha 22 anos e no seu fim, já 35, escondeu-se “corajosamente” atrás de uma qualquer das inúmeras desculpas que tantos como ele inventaram para “não se meterem em política”.

Mesmo vendo-o condecorado com a Ordem Amílcar Cabral, tenho vergonha deste Presidente da República Portuguesa!