Klaus Barbie – O amigo “americano”

Antes de ontem segui na televisão um documentário sobre esta figura nojenta. Não vi todo o documentário, ou melhor, vi-o com as intermitências a que o meu problema de estômago me obriga nestes casos extremos de asco.

Trata-se da besta nazi Klaus Barbie. Ficou tristemente célebre o seu empenhamento em Lyon, tanto contra judeus como contra comunistas e outros membros da Resistência. Jean Moulin, dirigente da Resistência (torturado até à morte), foi talvez a sua vítima mais conhecida. A particular crueldade com que torturava os prisioneiros e o (provado) assassínio de crianças valeu-lhe o título de “carniceiro de Lyon”. Para um chefe nazi se destacar dos restantes pelo seu “zelo”, podemos imaginar a bestialidade que o caracterizava.

A parte do documentário que fui seguindo, relatava a sua aventura na América Latina, para onde escapou, depois da 2ª Guerra Mundial, acompanhado de mais um bom punhado de outros nazis. Esse grupo de nazis esteve na base de várias das ditaduras que ensombraram e ensanguentaram a América Latina nos anos que se seguiram... até aos nossos dias. Podemos encontrar vários deles como especialistas em tácticas de terror, mestres em técnicas de tortura, conselheiros privados de ditadores, como Pinochet.

Klaus Barbie escolheu a Bolívia. Imediatamente se colocou ao serviço do ditador da altura, o General Meza, para além de se tornar agente secreto dos Estados Unidos da América. Mais tarde, já ao serviço de outro ditador, o general Barrientos, idealizou a operação militar que, em colaboração com a CIA, levaria ao assassinato de Ernesto Che Guevara, em 1967. Mais para o fim, ainda teve tempo e apoios para fundar na Bolívia aquilo a que chamou “o 4º Reich”, regime nazi delirante que acabou por durar pouco, já que os seus “patrocinadores” decidiram que a presença ali de uma tal aberração lhes era, afinal, mais prejudicial do que útil, para a construção da sua sonhada cintura de ferro contra o comunismo.

Quando o cinismo de todos os “democratas” internacionais, que já não podiam esconder que sabiam quem ele era e onde estava, embora usasse nome falso, quando a passividade desses “democratas”, que pouco faziam para o prender e julgar, se tornou insustentável, lá houve, finalmente, um “democrata” que encontrou motivos de interesse (em boa parte, pessoal) para o fazer capturar e julgar, em França. Francois Mitterrand.

Klaus Barbie, começou a ser julgado em 1987. Condenado a prisão perpétua, morreu vitimado por um cancro, em 1991. Tinha 78 anos. 78 anos a mais do que devia!

Embora não constituindo nenhuma surpresa, aquilo que me foi dando maiores voltas ao estômago ao longo do documentário foi a complacência, a colaboração, o apoio, o financiamento, a presença constante dos Estados Unidos da América e da CIA em todas as maquinações, golpes, contra-golpes, assassinatos, ditaduras, que desde há tantos anos e ainda agora, como nas Honduras, ou na Colômbia, tingem de sangue a História daquele Continente, que teve a má fortuna de ter aqueles vizinhos a Norte.