sábado, 11 de setembro de 2010

Um eléctrico chamado desejo



Na quinta-feira passada fui assistir à estreia da peça teatral escrita por Tennessee Williams, “Um eléctrico chamado desejo”, levada à cena no Teatro Nacional D. Maria II. Devo dizer, para não deixar para depois, que fiz muito bem. Desde a primorosa direcção de Diogo Infante à concepção cénica, passando pelos actores e actrizes - aqueles que dão sempre mais nas vistas – toda a gente ali vai muito bem. A confirmar, pelo menos, duas coisas: primeiro, que é possível fazer muito bom teatro em Portugal (como se não soubesse!...); segundo, que Alexandra Lencastre, a protagonista, nunca devia pôr os pés num estúdio de telenovela... assim o permitisse o estado da cena teatral portuguesa.

Toda a moeda tem o seu reverso. Neste caso, como em qualquer estreia “badalada” que se presa, o foyer do teatro (para quem tiver o meu feitio) é um lugar "abominável" para se estar. Duma assentada contei Jorge Lacão, Augusto Santos Silva, a Ministra Canavilhas... e podia ir por aí fora. Felizmente, houve um ou outro aceno simpático, para além do abraço ao Luís Cília, sempre acrescido do eterno projecto de uns almoços...

Claro que quando se fala em “Um eléctrico chamado desejo”, a primeira coisa que vem à baila é a grande versão para cinema, no filme clássico de Elia Kazan, com Marlon Brando, Vivian Leigh (“Óscar” para melhor actriz) e Kim Hunter (Óscar para melhor actriz secundária), respectivamente nos papéis de Stanley Kowalski, Blanche DuBois e Stella. Se é verdade que nesta produção do Teatro D. Maria II não entram estes mitos do cinema, também não é menos verdade que as actrizes e os actores portugueses estiveram longe de se deixar impressionar (ou influenciar) pelos fantasmas dos seus “oscarizados” colegas… e isso vale para todos: Alexandra Lencastre, Albano Jerónimo, Lúcia Moniz, Pedro Laginha, André Patrício, Estêvão Antunes, José Neves, Marques D’Arede, Paula Mora e Sofia Correia.

Já que, como julgo que se percebe nesta minha “crónica social”, decidi optar por valorizar os aspectos positivos da minha “noite de estreia”, permitam-me que destaque dois, importantíssimos!

1. Ao contrário do famoso (e excelente) filme de 1951, esta produção não está de forma alguma ligada ao nome de Elia Kazan, esse miserável canalha e denunciante, que durante o período negro do fascista senador McCarthy e motivado por um anticomunismo cego e demencial, ajudou a colocar na célebre “Lista Negra” inúmeros realizadores, actores e argumentistas, arruinando as suas carreiras e vidas privadas, feito de que se gabou até à morte.

2. A frágil e encantadora personagem da Stella é feita por uma das minhas duas enteadas favoritas, a Lúcia Moniz, que está cada vez mais bonita, melhor compositora e cantora... e melhor actriz!

Mas que credibilidade pode ter a opinião do padrasto? Menos “credível” ainda do que a minha apreciação, só mesmo a da mãe (que entretanto já está menos nervosa) ou do pai...

Logo, o melhor é verem pelos vossos olhos. É já ali, ao fundo do Rossio lisboeta... e elas e eles prometem estar por lá até finais de Outubro, espero que com as casas cheias que largamente merecem.

12 comentários:

svasconcelos disse...

Obrigada pela partilha e divulgação do Teatro, em Portugal,tão menosprezado pelos pretensos responsáveis da cultura.
Conto não perder este trabalho. A Alexandra Lencastre é uma das nossas maiores actrizes contemporâneas! Demonstra-o há décadas, trabalho após trabalho (mesmo nas pouco artísticas e menos apreciadas telenovelas, esta senhora demarca-se pela qualidade performativa e técnica e pelo seu poder de presença).
A Lúcia, nunca vi em palco, mas na tv também lhe reconheço um talento imenso. Colmatarei este aspecto em breve.:)
O Teatro é de uma grandeza tal, mas nem todos o dignificam...e provavelmente os "pavões" que encaraste na estreia eram disso exemplo, até pelos cortes sucessivos de apoio a esta arte...
beijos,

Antuã disse...

E viva o Teatro.

Maria disse...

Se a minha vizinha do lado sabe disto é limpinho que não me larga até eu a levar lá... pois se ela, que nunca andou de avião porque tem medo, diz que agora até ia ao Japão... :)))

Dois abreijos especiais para vocês.

Clube Europeu ESJAL disse...

Ora Bem! Esta crónica foi feita mesmo à minha medida...! Parabéns devidos, aí na família, pelo sucesso e por este interessante texto!

Justine disse...

'Tá bem, eu não acredito numa única das tuas palavras tendenciosas e irei "ver para crer"

Graciete Rietsch disse...

Eu também queria ir ver. Será que a peça virá ao Porto, ou terei que ir a Lisboa, o que é um bocadinho difícil?

Um beijo.

duarte disse...

por aqui não devemos ter esse privilégio.
E sim , o teatro está cada vez mais condenado a cenários minimalistas(tanto no palco como nos orçamentos).
abraço deste vale , longe da urbe.

Anónimo disse...

Maria!!!!!

:))))))!!!! ...

beijocassssss
vovómaria

Daniela Lima disse...

A Lúcia é e continua a ser a melhor!! FORÇA Lúcia!! beijinhos tua fã Dany

Luis Nogueira disse...

Falar de teatro, ouvir falar de teatro... que bom que isto é, depois dos críticos minimalistas desses jornais de "reverência" que só dizem bacoradas.

Obrigado, Samuel.

Luis Nogueira

Fernando Samuel disse...

Sendo assim, é para ir ver...

Um abraço.

Anónimo disse...

Olá

Só agora tive oportunidade de ver a peça. Contrariamente a algumas opiniões a Alexandra Lencastre desiludiu...não esperava. Já a Lucia Moniz é muito boa, com uma expontaneidade fantástica. Albano Jerónimo e Laginha muito bem.
Maria Beatriz Almeida