quarta-feira, 23 de junho de 2010

PEC, crise, pobreza… e dúvidas



Serão os comunistas pessoas dignas de confiança? Eu sei, eu sei que estas perguntas “difíceis” não devem fazer-se assim de chofre, apanhando as pessoas desprevenidas... mas, na verdade, é de ficar a pensar...

Eu explico. Há dias, acorrendo a um convite do PCP, participei num desfile na baixa de Lisboa. Protestava-se ali contra as medidas deste PEC, contra a governação desastrosa deste governo PS/Passos Coelho, contra os sacrifícios pedidos exactamente aos que menos têm, contra a protecção do sector financeiro em prejuízo de quem realmente trabalha...

Apesar das más razões que motivam estes protestos e manifestações, a sensação de participar é boa. Cinco mil pessoas a gritar o mesmo que nós dá-nos o conforto de não nos sentirmos sozinhos... dá-nos a confiança necessária para seguir em frente, dá-nos alento.

Depois, desfeita a multidão, arrumadas as bandeiras, dados os abraços de despedida, voltam as dúvidas. Eu explico.

Quando já no regresso subia de carro a Avenida da Liberdade, avistei à direita uma razoável multidão que ocupava uma grande extensão do passeio, junto a um edifício que, mesmo sendo ainda dia, estava bastante iluminado. Comecei por pensar que se tratava de um grande acidente... mas vendo o ar uniformemente “lustroso” da multidão, desisti da ideia.

Mais tarde, já em casa, soube que se tratava afinal da grande inauguração de uma loja de luxo de uma das marcas mais caras do mundo: a “Prada”. Segundo li, a festa reuniu beleza, diversão e muita música. A petisqueira esteve a cargo do Ritz, correu tudo muitíssimo bem e os donos estão certos de que vêm aí vendas extraordinárias. «Em tempos de crise as pessoas entusiasmam-se a pensar noutras coisas. Tratando-se de uma marca de moda, vendemos sonhos e estilos de vida. É muito importante fornecer isso em tempos de crise», disse um dos responsáveis pela marca, esclarecendo ainda que «A crise económica é uma oportunidade de negócio para as marcas de luxo».

Quem é que não ficaria assaltado pela dúvida? Será que, apesar de um estudo dizer que cerca de 90% dos portugueses acham que a pobreza aumentou muito, afinal é a calhordas da Ministra do Trabalho que tem razão, quando disse numa Comissão no Parlamento, que se trata apenas de uma “percepção” que esses portugueses têm de pobreza? Perante o entusiasmo e mediatismo à volta da inauguração de uma loja em que uma simples malinha de mão de senhora pode “nas calmas” ultrapassar os dois mil euros... será que esta crise e, sobretudo as dificuldades e a pobreza, não serão uma tenebrosa invenção dos comunistas? Será que aqueles cinco mil manifestantes andaram comigo às voltas na baixa gritando «Este PEC está mal, só interessa ao capital!» apenas para me enganar... mas na realidade estamos todos ricos?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas... ou então os comunistas têm razão! Tanta razão quanta teve o poeta António Aleixo quando escreveu com a demolidora simplicidade com que escrevia tudo:

O pão que sobra à riqueza
Distribuído pela razão
Matava a fome à pobreza
E ainda sobrava pão.

10 comentários:

Antuã disse...

Claro que os comunistas têm razão infelizmente. Antes não tivessem.

Maria disse...

Estava a ver que não conseguia comentar-te...
Crise? Qual crise? PEC?
É só para alguns, muitos, já sabíamos. O que foi dito sobre a nova loja é uma afronta a quem vai receber MENOS dinheiro no ordenado no final deste mês.
Tem dias que só um palavrão alivia. Hoje é um deles.

Abreijos.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

"Serão os comunistas pessoas dignas de confiança?" Quanto a mim foram e são, dignos de confiança; sem qualquer hesitação.

maia disse...

Bom dia Samuel. Estou aqui a pensar se estou rica e não dando por isso, passa-se alguma coisa estranha comigo! Talvez a mim só me caiba a "percepção" de riqueza. Será? Ouvir aquela calhordas (bem encontrada a palavra) tira o tino a qualquer um. Foi dirigente sindical? Esqueçamos isso para continuarmos a acreditar que os sindicatos são o colectivo de trabalhadores, dirigidos por gente séria e que defende princípos. No meio destes calhordas que se serviram dos sindicatos, cip, ministra do trabalho e outros, há Sindicalistas. Há quem lute por ideais. Um dia falaremos de Marx. Este PEC está mal e o capital espreita, chamado prada ou qualquer outro nome. Foi bom recordares aqui António Aleixo e a sua profunda visão das injustiças. Escrevendo, denunciando, lutando, chegaremos a um mundo sem injustiças.
Bom trabalho.

Mar Arável disse...

Temos razão sim

mas não basta

Abraço

Graciete Rietsch disse...

SERÃO OS COMUNISTAS PESSOAS DE CONFIAMÇA? Até hoje ainda não tive razões para não confiar desde os tempos longínquos da sua luta até aos mais recentes pós 1975.
Os comunistas preparam o futuro, com luta , abnegação, sem esperar recompensas. Assim consiga o Povo libertar-se das mentiras e pressões e aderir à construção desse futuro tão desejado.
Um beijo.

Anónimo disse...

Vejamos alguns aspectos, a loja da Prada foi inaugurada com pompa e circunstância, os convidados coitados vieram em carros alugados pela marca, e as roupinhas em muitos casos, eram de empréstimo.

Tudo faz parte do mundo do faz de conta.

Tal como os 5.000 manifestantes no desfile do PCP, talvez mil fosse o numero mais exacto, não acha.....

Também na esquerda, em muitos casos, se vive na ilusão do faz de conta.....

jrd disse...

Tens razão!
Já agora, parece-me que estou a ver o "Diabo" a insinuar-se junto a uma loira explosiva...

Fernando Samuel disse...

Os comunistas inventam cada coisa!...

Um abraço.

cão sem raiva disse...

A crise de muitos é para uns poucos o encher dos bolsos.
Apesar da crise, aumentaram os milionários por este mundo fora, inclusive no nosso portugalzinho.