Tenho a mania suicidária (pronto... não será suicidária, mas faz muito mal ao estômago) de jantar exactamente à hora dos telejornais, e a vê-los (essa é a parte indigesta). Ontem já ia passado o primeiro quarto de hora de “notícias” e nem RTP, nem SIC, nem TVI, tinham conseguido falar de outra coisa a não ser da TAÇA, que fica no Porto, de Jesualdo Ferreira, que fica igualmente no Porto... enquanto eu trincava a massada de cogumelos, da minha autoria, e pensava “E se os critérios jornalísticos e prioridades noticiosas dos nossos órgãos de informação continuarem a ser estes, o país fica na merda!”
Só que depois saí e fui ver o espectáculo que a "Associação Theatron", aqui de Montemor-o-Novo, nos oferecia. São um grupo de teatro amador, que neste espectáculo foi dirigido pela Maria João Crespo, de que ainda não conhecia nenhum trabalho e pelo Professor Vítor Guita, a alma seja do que for em que se empenhe, um ser humano estranho, que “já não se usa”, mas que muita gente daria um braço para ter como amigo. Resolveram atirar-se, de uma forma absolutamente surpreendente, a um texto de Carlos Cebola, que nos levou a um “episódio” das Invasões Francesas, em Montemor, vistas e vividas de dentro das portas da Taberna do Armando. No meio do horror da guerra, confirma-se que é sempre o povo quem paga mais caro o amor à sua terra, enquanto a burguesia e a nobreza se curvam e a realeza foge. No final da estória ficamos com o mais importante: um amor improvável e impossível, o mergulho irremediável do coração de uma aguerrida montemorense no verde fundo e inexplicável dos olhos de um jovem soldado francês, que não a matou (quando podia) e que ela acabou por matar (e não queria).
Tudo, num espectáculo musical ou teatral, sempre dependente da memória, do talento, da técnica, da inspiração do momento, da sorte (palavra que nem se pode dizer), da aceitação do público, tudo, como dizia, está sempre a um segundo ou um milímetro do fiasco e do fracasso. É exaltante assistir a estes momentos em que as “Leis de Murphy” são mandadas às malvas e tudo corre bem!
De um espectáculo assim, sai-se alimentado para mais alguns dos dias que temos pela frente. De qualquer modo, se quiserem saber mais alguma coisa sobre o dito, mas escrito por alguém que se vê logo que sabe o que está a dizer, então farão o favor de se dirigirem AQUI.
9 comentários:
Já tinha lido ontem o Cloreto de Sódio. é bom sairmos de um espectáculo bem "alimentados" por dentro... a semana vai ser dura...
Abreijos
São momentos como esse que nos dão força para tudo (inclusive para suportar os telejornais...)
Um abraço.
Grandioso mundo, o do Teatro.
Massa com cogumelos acompanhada de uma boa salada e um branco fresco.
Ai a inveja que eu tenho de vocês!!! Sei que me perdoam mas que eu gostava de ver, gostava!!!
Abreijos (uma beijoca à vóvó...)
Reatámos os assaltos
Deixou-me assim a modos que atrapalhado! Forte abraço
Quando houver reposição, ou melhor, se houver, avisarei. Pelo menos os mais chegados poderão assistir...
Abreijos!
As meninas alentejanas e não só as freirinhas, sempre tiveram uma tendência para os soldados franceses...o que acaba em tragédia!( ainda bem que esta não escreveu cartas...)
Virita:
Deviam ser os cabelos louros e os olhos azuis ou verdes, grande exotismo para o Alentejo da época...
Abreijos.
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