sexta-feira, 26 de junho de 2009

Por uma democracia baratinha



Segundo a dupla Cavaco Leite/ Manuela Ferreira Silva, o que Portugal precisa é de uma democracia que fique baratinha. Campanhas eleitorais de duas horas, em vez de quinze dias, feitas só na televisão e num único Tempo de Antena. Uma democracia baratinha, comprada na mesma “loja dos trezentos” em que Cavaco e a Dona Manuela compram as suas ideias.

No momento em que todos os partidos, com excepção do PSD, tornaram claro que entendem ser melhor para a clarificação de posições, defesa de programas e ideias, não misturar a campanha para a eleição de Deputados da República, de onde sairá o próximo Governo de Portugal, com a não menos importante campanha para a eleição local de milhares de candidatos às Câmaras, Assembleias Municipais e Juntas de freguesia, com toda a confusão que daí podia nascer, Cavaco “descobriu várias sondagens” que lhe dizem que a maioria dos portugueses querem as duas eleições no mesmo dia. Dando de barato a refinada lata que é preciso ter para se sair com uma estória destas, todas as razões que tanto o Presidente como Ferreira Leite invocam para justificar a coincidência das eleições, são no mínimo muito fraquinhas.

A questão do dinheiro que custam as campanhas e as eleições é apenas mesquinha e “miserável”. Muito mais baratinho, seria seguir a sugestão da Dona Manuela, suspender a democracia por seis meses, escolher entre a família e os amigos os futuros Deputados da República, Presidentes de Câmara, de Assembleia Municipal e de Junta... e nomeá-los directamente por "mail" ou "sms". Eleições para quê?

O facto de os portugueses serem ou não serem capazes de distinguir o Presidente da Câmara do Primeiro Ministro, ou da Mula da Cooperativa (a maioria é, efectivamente), não altera a realidade de serem campanhas diferentes, com programas e problemas específicos diferentes, em centenas de cidades e vilas onde muitas vezes se vota de maneira diferente para a Autarquia Local ou para a Assembleia da República. São campanhas com Dinâmicas políticas próprias, o que em muitas cidades e vilas leva a que se façam acordos e coligações que não têm nenhuma correspondência com a realidade político-partidária nacional. Dá para imaginar a esquizofrenia de uma campanha em que de manhã os candidatos estivessem coligados para a Câmara e lá mais p’rá tardinha já fossem adversários na outra campanha?!

O choradinho sobre a terrível abstenção que um “excesso” de eleições pode provocar é uma falácia. O que afasta os cidadãos das mesas de voto e da participação democrática, é o desânimo, é sentirem-se enganadas eleição após eleição, por aqueles a quem confiaram o seu voto e a seguir ignoraram tudo o que prometeram em campanha, são os tristes exemplos que vêm de cima, é a corrupção, são as estórias sempre mal contadas, envolvendo gente ligada ao poder, quando não é mesmo gente do poder. Isso é que faz os cidadãos descrer e desistir da participação.

Não existe excesso de democracia ou de eleições! Existe, sim, um enorme défice de credibilidade! É preciso demonstrar, claramente e com os milhares de bons exemplos que conhecemos, que os partidos não são todos iguais, como querem fazer crer exactamente aqueles que, enquanto choram lágrimas de crocodilo pela democracia, fazem de tudo para a boicotar, como bem sabemos.

Adenda: Porque é que ilustrei este texto com uma fotografia do Woody Allen e da Scarlet Johansson? Primeiro, porque sim! Segundo, porque são duas pessoas muito mais interessantes e inteligentes do que os protagonistas do post. Terceiro, porque se publicasse outra vez fotografias do Cavaco e da Ferreira Leite, iria novamente e como já vai sendo hábito, ouvir “ralhetes e protestos” dos queridos leitores... e hoje não me apetece!

17 comentários:

Pata Negra disse...

Se as sondagens valem, para quê eleições?!
Um abraço com votos

LAM disse...

Isto está a ficar deveras perigoso.
A Presidência da República a transformar-se cada vez mais em, como é que se diz?...correia de transmissão do PSD não augura nada de bom.
Já só falta o PR Cavaco vir para a estrada fazer os comícios que a drª Manuela acha uma chatice.

Anónimo disse...

É mais uma das desvantagens de ter a fazer as vezes de PR um labrego, a dar ares de pessoa culta...

Rui Silva

salvoconduto disse...

Ora aí está, Cavaco que já andava há algum tempo a berrar que lhe andavam a roubar competências, de repente dá conta que tem a competência de marcar as legistativas. Como um puto faz birra e ameaça marcá-las a gosto da Maria...

Abraço.

Maria disse...

Depois de Manuela F-L ter dito o que disse, era de prever que o PR fosse atrás...
O teu post é excelente, Samuel!

Abreijos
Até (quase) já

Nelson Ricardo disse...

Nem todos os partidos são iguais, daí um deles, nós sabemos qual, ter 88 anos de vida e continuará a ter muitos mais enquanto houver quem esteja disposto a lutar por um mundo melhor.

Porém, não acredito que a fraca participação política se deva somente à falta de credibilidade dos políticos. Aliás, se as pessoas desistissem da política por causa dos maus exemplos que esta dá, a Civilização não tinha durado mais de uma hora.

Não é por haver maus políticos que as pessoas perdem a capacidade de olhar o país e reflectir, observar a sociedade e os meandros que a fazem trabalhar desta maneira, não são maus políticos que retiram ao indivíduo a capacidade de análise crítica da realidade e das ideias.

É algo mais, é um completo desprezo pela intelectualidade, pela discussão de ideias, pela assunção de linhas de pensamento que não ultrapassem o cliché generalizado e geralmente aceite.

Na minha perspectiva, essa foi a vitória absoluta do Capitalismo, transformar as pessoas em autómatos sem capacidade crítica, promover a acefalia militante como característica a adoptar socialmente.

Estes são tempos negros para a democracia, como espaço de livre discussão e acção de ideias, pois impera um ódio aceite e militante a tudo o que pense "fora da caixa".

Mesmo os casos de sucesso da política (BE, Obama), ressurgem além da promoção mediática, pois o seu próprio carácter é de consumo descartável.

É uma forma de política que se consome no voto, sem requerer a acção junto dos cidadãos e dos trabalhadores. Com clara excepção dos candidatos em campanha.

Além dos políticos desonestos é o próprio Zeitgeist das actuais sociedades democráticas (em especial as Ocidentais).

O pior é que a política vai continuar a ser feita, mas desta vez não é pelo povo, mas pelos lobbies económicos e financeiros privados.

E mesmo na sociedade existe um medo premente. Nos locais de trabalho, os trabalhadores não se sindicalizam com medo de serem despedidos, ou então se se sindicalizam é às escondidas do patrão. Mesmo os poucos que contemplam a participação na vida cívica e política não o fazem por medo de represálias, ligadas à sua vida profissional. É um medo não oficial, que não vem em forma de Estado mas que se estende sobre toda a sociedade como um manto, causando um mal-estar geral.

Junte-se esta apatia geral à vontade insaciável do Capital em desmantelar tudo o que são direitos dos trabalhadores e dos cidadãos...

Antuã disse...

Estes cavacos e estas manuelas mesmo dados ficam caros à nossa inteligência. Quem os fez bem podia ter feito uma gaita.

Anónimo disse...

Oh ComRevDe
Escusavas de escrever esse lençol.
Bastava dizeres: Vota PCP, ops CDU

Anónimo disse...

Estes governantes da treta estão espalhados por todo o Portugal, claro que os exemplos piores estão no governo,mas, depois tudo que é empresa ou congénere tem lá uns cavacos e uns sócretinos ( não confundir com cretinos)a impedirem que as mesmas andem e a empatarem. O que esta gente se esquece é que quando chega as eleições somos todos iguais, e ai o povo que eles tanto desprezam pode tirar-lhes o "bolo" da mão.

Fernando Samuel disse...

Cavaco Silva está a entrar em parafuso - coisa que é grave em qualquer cidadão, mas é mais do que grave num cidadão reaccionário, pouco inteligente, inculto, pedante e sem vergonha.


Um abraço.

Ad astra disse...

gosto mesmo da foto do Woddy, porque sim!

Um abreijo amigo

do Zambujal disse...

Excelente post. Por todas as razões... até pela foto: o modesto Sócrates e a bela Manuela em foto de praia à la minuta tirada pelo senhor Cavaco, não é?!
Parabéns e grande abraço

José Faria disse...

Que pobreza de ideias e quanta banalidade de pensamento.Parece que afinal não é só o Cavaco e a Manela que vão à loja dos trezentos. Aliás, se o forem, sempre são preferíveis às dos chineses.

samuel disse...

Pata Negra:
Boa pergunta!

LAM:
Já é mais ou menos isso que está a fazer...

Rui Silva:
Dar-se ares é de facto o pior!

Salvoconduto:
Durante uns dias tem um poderzinho.

Maria:
Os dois... em fila indiana...

ComReDe:
As pessoas são um pouco dadas ao comodismo e a parasitarem o empenhamento dos outros, É a isso que teremos que dar a volta...

Antuã:
Muito caros!

Anónimo 7.25:
Pois...

Anónimo das 8.06:
Esperemos que não se esqueçam disso...

Fernando Samuel:
Com todas essas “qualidades”, querias que o homem tivesse vergonha de quê? ☺

Do Zambujal:
A foto é que salva a coisa... ☺


Abreijos colectivos!

samuel disse...

José Faria:
O que quer? Sou pobre e banal...
De qualquer maneira, se fosse a si, ia ver esse foco de xenofobia em relação aos chineses. Começa assim, de mansinho, mas quando se vai a ver, já cresceu, alastra aos pretos, aos árabes, aos judeus, aos ciganos, aos gays, aos vizinhos... a todos...
Pode ser fatal!

Cris disse...

Samuel
Você é grande!
E a cada passo que dá o respeito ainda mais.
Isso é pelo post,pelos comentários,pelas músicas e etc...
Grande Samuel! É isso o que tenho para dizer.
Abreijos

Aurora disse...

O Anónimo das 7:25 é um crânio, como ele viu logo que o propósito do post era um apelo ao voto no PCP.
Que inteligência, que esperteza, estou a tremer com tanto saber.
Bem haja pelo esclarecimento.
A BEM da NAÇÃO