sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Parque Arqueológico do Vale do Côa



Há poucos meses, entre um almoço no “Júlio” (em Gouveia) e um espectáculo musical de alunos de uma amiga, fui de excursão, na melhor das companhias, a Foz Côa, ver as célebres gravuras. Calhou-nos a grande sorte de ter como anfitrião o amigo que dirige as operações (e gere as angústias) de todo aquele projecto.

Já muito se escreveu e se viu sobre estas e outras gravuras, por todo o mundo, logo, sabia mais ou menos ao que ia... mas fica-se sempre impressionado. Fica-se sempre esmagado pelo peso de tanta História. Fica-se sempre minúsculo perante o gigantismo da viagem que conduziu o Homem até aos dias de hoje. Fica-se sempre sem uma resposta para o que levava alguns deles a “fotogravarem” a sua vida...

Sabia ao que ia... só não esperava que a verdadeira estória de amor que esta visita me gravou na memória, fosse afinal a própria história do nosso guia, jovem engenheiro integrado na equipa que se preparava para “liquidar” as gravuras (literalmente) debaixo do lago de uma barragem. O jovem engenheiro apaixonou-se pelas “vítimas”, abandonou o poderoso “exército” agressor, passou-se para o lado certo da História e da cultura e ficou ali, a trabalhar todos os dias, entre pedras, gravuras, falsas promessas e dificuldades de toda a ordem.

Indiferente às minhas “memórias poéticas”, a realidade é bem mais terrena. As gravuras de Foz Côa estão hoje submersas por rios de promessas por cumprir, indiferença, falta de carácter do poder e, aqui e ali, quando uma possibilidade de lucros interessantes espreita, minadas por negociatas mal explicadas.

Cumprindo a sua obrigação para com o país e o seu património cultural, os partidos que compõem a CDU têm-se batido por uma outra realidade para o dia a dia daquele “monumento histórico-cultural”.

Mostrando ter entendido algumas das razões que me levam a alimentar um blogue, mão amiga fez-me chegar um texto que, ontem mesmo, foi lido numa sessão que tinha como convidado Jerónimo de Sousa, na sua deslocação a Foz Côa. Em contraste com o palavreado oficial, um documento com ideias claras e propostas reais. Senão, vejamos:


“Por um Parque Arqueológico do Vale do Côa ao serviço efectivo das populações”

“Camaradas e amigos,

Em 1996 foi aberto o Parque Arqueológico do Vale do Côa, um serviço descentralizado do Ministério da Cultura, que tinha por funções gerir, proteger, musealizar e organizar para visita pública a arte rupestre do Vale do Côa, classificada como Monumento Nacional em 1997.

Em 1998 esta arte foi integrada na Lista do Património Mundial, tendo o Estado português assumido um compromisso perante a UNESCO de preservar este património. Após a criação do Parque, o governo PS Guterres começou logo pelo não cumprimento das promessas em termos de canalização de verbas comunitárias (ProCôa e AIBT do Côa), que viriam beneficiar toda a região.

A estrutura deste serviço assentou desde o seu início na precariedade das relações de trabalho e na subvalorização dos seus funcionários, levando esta situação à saída de muitos, alguns deles para a emigração.

Foi-se assim assistindo a um gradual desinvestimento que veio a provocar, entre outras gravosas consequências...”


11 comentários:

Sal disse...

Isto é um país ... medonho.
Sei de fonte segura que há dois anos atrás a equipa do Parque Arqueológico nem orçamento para fotocópias a cores tinha....

beijinhos

salvoconduto disse...

É Portugal no seu melhor...

Abraço.

Maria disse...

Se ao menos lessem as propostas que fazemos...
No final das eleições voltarei lá. Para ir a Foz Côa...

Abreijos

Daniel disse...

Sempre houve gente que gostou de viver neste cantinho do Mundo. Alguma coisa especial ele terá para que tal amor mereça. Talvez seja preciso e urgente descobrir do que se trata.

Fernando Samuel disse...

Tudo isso a confirmar a «imparcialidade» deste Governo: trata as gravuras de Foz Côa como trata o resto do País,,,


Um abraço.

Justine disse...

Mas a cultura alguma vez interessou estes bacocos ignorantes e deslumbrados que temos como governo? Só se lhes der algum lucro pessoal!
Tristeza e raiva...

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Há muitos anos que se sonha com uma política de Cultura (global e descentralizada) para Portugal, e tal não tendo acontecido não será certamente por culpa do anónimo cidadão, que paga pontualmente os seus imposto, e sabe como tomar opções.
Ora, quanto a mim aqui está o cerne da questão: em Portugal, nunca depois do 25/11/1975, houve uma aposta séria e sem economicismos em sectores básicos, nos quais se demarcam a evolução (ou não) de um Povo, fruto de uma Governação assertiva. Os Portugueses, têm hoje políticas que respondam aos desafios constantes da evolução dos tempos: na Cultura, na Educação, na Saúde, na Segurança Social, e na Habitação?.
Conheço o Parque do Côa, porque procuro, e sei que tal me faz sentir e estar melhor na sociedade; mas ... os Portugueses que não têm a minima hipótese, e assim só sonham com ela?. Que tem feito (???) neste campo o Poder Central?. Só e paulatinamnte indo reduzindo verbas no O. G. E. (Orçamento Geral do estado), na . . . Cultura.

do zambujal disse...

Boas recordações!
E sabes que esse nosso amigo que tão bem nos guiou é 1º de uma lista da CDU?
Se fosse eleito seria uma presença e voz certas na AR.
De que depende? Pensar que depende de votos... e da luta para que estes sejam informados e conscientes!

Um abraço

CS disse...

Já nem dá para nos enraivecermos, é mais desgosto, é náusea.

Camolas disse...

Irei visitar o Vale do Côa.
Quem sabe o que irei descobrir.
Um abraço pela inspiração

samuel disse...

Per tutti:
É o país "que está"! Dizer mais o quê?
Já fazer... pode-se fazer muito!


Abraços!