Identidade
Matei a lua e o luar difuso.
Quero os versos de ferro e de cimento.
E em vez de rimas, uso
As consonâncias que há no sofrimento.
Universal e aberto, o meu instinto acode
A todo o coração que se debate aflito.
E luta como sabe e como pode:
Dá beleza e sentido a cada grito.
Mas como as inscrições nas penedias
Têm maior duração,
Gasto as horas e os dias
A endurecer a forma da emoção.
Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'
Adenda: Por obra e graça da Maria Maia, fiquei a saber que este lugar é na Noruega, sobre um fiorde. Podem saber mais aqui e ver mais aqui.
9 comentários:
Belo poema.
Dito, em poesia que a emoção, o afecto, os sentimentos, os princípios, os valores, não amolecem o homem (e a mulher). Dão-lhe identidade. Isto é, endurecem-no no que é, tornam-no consistente.
E bela, também, a foto. De onde e de quem é?
Um abraço
Lindo! Tudo!
Que maravilha....
Abreijo
Miguel Torga pelo seu "Mar de penedos" além Marão, foi capaz de dar voz às mais bonitas emoções da humanidade.
bjs,
Sílvia
Miguel Torga, qual transmontano de raízes duras, mas sempre fiel, e que até "pensava" deste modo, que a seguir se trancreve:"Converso até onde me vejo obrigado, (...) largo-o logo que posso e regresso a um convívio menos tenso e mais fecundo, (...) sem esperança nos letrados, (...) junto dos analfabetos encontro ainda o riso, a indignação, o espanto...".
Um grande senhor ...
Do Zambujal:
Bem tentei saber o nome do autor e do local... mas tal foi impossível.
Decidi imaginar que aquilo, lá em baixo, era o seu muito querido Douro.
Maria:
O Torga “faz-se”!... ☺ ☺
Sílvia:
E que voz!
Manuel Norberto:
Enorme ser humano!
Abreijos colectivos!
Esta foto e este poema fizeram-me lembrar... «se serão rendas que parecem pedras, se serão pedras que parecem rendas»...
Um abraço.
Fernando Samuel:
As duas coisas?...
Abraço.
Torga?
Por vezes, fulgurante mas sempre... rijo...rijo!...
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