(Um dos vários frescos encontrados em paredes de bordeis, na cidade de Pompeia, destruída no ano 79 DC)
No início da década de setenta do século passado, a jovem de 22 anos e cidadã brasileira Gabriela Leite decidiu tornar-se prostituta. À época, ajudava a mãe (separada) e as irmãs, com um trabalho que tentava conciliar com a frequência de um curso universitário. Quando decidiu, desta maneira radical, mudar de vida, não o fez por desespero, segundo afirma, antes pela atracção da “liberdade” e da vida boémia.
Cedo descobriu que no universo da prostituição praticamente mais ninguém andava pela “liberdade e boémia”, mas sim por desespero, vidas destruídas, ausência de saídas, miséria. Cedo tomou consciência de que entrara num mundo de violência, perseguição policial, discriminação social e doença... física e espiritual.
Fez o que é raro. Decidiu tomar o destino nas mãos e mudar o que estivesse ao seu alcance. Desde a “revolta das prostitutas” de São Paulo, em 1976, contra a violência, perseguição e exploração policiais, nunca mais parou, até hoje. Pelo meio, nestes mais de trinta anos, fica a mudança de vida, o casamento, a criação de associações de defesa de mulheres em risco, de luta contra a SIDA, etc., etc. O mais recente passo na sua luta consiste em candidatar-se a um lugar de deputada.
Durante os últimos dias, esta notícia apareceu em alguns jornais. Mesmo naqueles em que se tentou não “opinar” sobre o caso, ou publicar a notícia na secção de “casos insólitos”, em muitas perpassa uma brisa gelada de moralismo, uma espécie de “ora não querem lá ver esta?!”, a subentendida farpa que se pode adivinhar no título que a maioria dos jornais adoptou, «Prostituta candidata a deputada».
Pela minha parte, para o bem e para o mal e talvez por negação da (miserável e fanática) educação que tentaram impor-me, não possuo um pingo de moralismo quanto às vidas privadas e passados seja de quem for, logo, nada tenho contra uma mulher que, trinta anos depois de ter sido prostituta acha que para seguir a sua luta em defesa das mulheres que têm essa profissão, deve concorrer a um lugar de deputada.
Já o mesmo não posso dizer de outros, que tão bem conhecemos, que tendo chegado ao lugar de deputados com passados em que (pelo menos que se soubesse) não havia nada a apontar, foi exactamente a partir daí que começaram a vender-se, a prostitui-se... desavergonhadamente, repetidamente, diariamente.
Isso sim, é um asco!
8 comentários:
Se esse moralismo relativamente àsprostitutas se entendesse aos filhos das ditas ficavam parlamentos e os govermos muito vazios...
Bom "post", amigo
Um abraço
Para não mencionar outros verbos...
Abreijo.
Mas, esses, não são prostitutas!
- São, isso sim, as nossas "PUTAS"!!!
Rui Silva
O que não falta para aí é filhos da puta bem instalados em cargos políticos e económicos.
Para esses, timing is money...
Um abraço.
Quem defenda qualquer sector do povo da rapina do Capital tem que enfrentar toda a série de ignomínias por parte destes.
Um Abraço.
Concordei quase totalmente com o post. Apenas acho que a prostituição não deve ou não pode ser considerada uma profissão. O que é mesmo importante é lutar para que nunca mais qualquer ser, mulher ou homem, tenha que recorrer a processos desses para sobreviver. E parece-me que essa candidata a deputada, que viveu esse horror, está empenhada em fazer, o que só é de louvar.
Um abraço.
Aposto que esses jornais que passam esta história como um insólito ridículo estão na mão de filhos da puta da mesma estripe dos que governam Portugal.
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