sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Era tão diferente!...


Maurice Béjart, coreógrafo,   1.Jan.1927 - 22.Nov.2007


Morreu o grande bailarino e coreógrafo Maurice Béjart! Tinha 80 anos. Era diferente de tudo, excitante, culto, divertido, não fazia sobre a dança esta espécie de discurso manhoso que agora aqui e ali se ouve e que tanto dá para vender performances de bailado, como instalações de qualquer coisa, como cestos de vime...
Deixa um lugar imenso por preencher. A liberdade que ajudou a trazer para a dança foi uma felicidade para os nossos sentidos, mas também em alguns casos (é sempre o ponto fraco da liberdade), uma porta aberta para os "espertos".
Em 1968, no Coliseu dos Recreios, interrompeu a "função" para vir à boca de cena falar de Martin Luther King e das vítimas do fascismo, para quem pediu um minuto de silêncio. O minuto de silêncio fez-se! Silêncio de grande qualidade...  Conta quem viu que se "ouviram" cair no chão algumas lágrimas do público, que terminado o minuto, fez "a casa vir abaixo" com palmas e gritos de "Viva a Liberdade!"
Béjart nessa noite ganhou novos amigos. Uns, os "da onça", os elementos da PIDE que nessa mesma noite o foram buscar ao Hotel e pôr na fronteira, de madrugada. Outros, muitos, a malta muito nova como eu era nessa época, que ainda não fazia ideia de que a dança também podia ser "aquilo".

Obrigado Béjart!

8 comentários:

Maria disse...

E foi exactamente como dizes....
Anos mais tarde, em 1973 (ou seria em Março de 74?), era Pátxi Andión quem nos falava, no mesmo Coliseu, que um povo não pode ser livre enquanto oprimir outros povos, e cantou "El Maestro", professor que ensinava a História verdadeira e não a que os outros queriam....
Tive a sorte de ver Béjart no Coliseu.
Já hoje regalei os olhos com os Youtubes onde Nureyev, Plisetskaya e Nijinski dançam coreografias dele....

Abraço

Gasolina disse...

ESte post é-me particularmente querido quer pelo homem que apenas se ausenta da vista, quer pelas minhas ligações à dança e coreografia.
Redecorou os passos rigidos sem esquecer a técnica, deu leveza a um hermetismo e ainda mostrou como dançar são palavras de força em que a ferramenta é o corpo.
Retrato de uma memória.

Isamar disse...

"Deixa um lugar imenso por preencher"

Exactamente como dizes ,Samuel.
Inesquecível! Irreparável!

Beijinhos

vovó disse...

belo e tocante texto!
também aqui se "ouviram" algumas lágrimas.
obrigada Béjart.
obrigada...

Luis Eme disse...

Só por esse episódio, Béjart, merece todo o nosso respeito.

O Coliseu é uma grande casa cheia de histórias...

Fernando Samuel disse...

Também lá estive, nessa noite GRANDE.
Por essa altura, estiveram cá também, no S. Carlos, a Fonteyn e o Nureyev: fui, com um amigo, tentar convencê-los a não dançarem em solidariedade com o Béjart. Ficámos com a ideia, eu e o meu amigo, de que nem ela nem ele sabiam o que queria dizer «solidariedade»...

Anónimo disse...

"uma porta aberta para os "espertos"... sensato e sublime...ao estilo "CANTIGUEIRO", Samuel no seu melhor... e o melhor são as entrelinhas! Um abraço.

Cristina Caetano disse...

Morreu um gênio!
Bjs