quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Alberto Giacometti - “O homem que anda”... para onde?


"L'homme qui marche" . Alberto Giacometti . 1960

Na estúpida guerra de recordes travada há muito entre a pintura e a escultura, agora foi a vez de uma escultura ocupar o primeiro lugar. Na Sotheby's de Londres, a (belíssima!) obra “O homem que anda”, do suíço Alberto Giacometti, foi leiloada e vendida a um comprador anónimo por quase 75 milhões de euros.

Embora não tenha uma solução milagrosa para o "problema" das obras únicas, como são quase sempre as pinturas e as esculturas, sempre me irritou esta espécie de superioridade arrogante que têm sobre as outras artes, tantas vezes mais belas, tantas vezes, até, efémeras.

Vivam a música e a literatura, que estando muito longe de serem formas de arte inferiores à pintura ou à escultura, há muito souberam libertar-se desta ditadura do mercado, da tara possessiva de milionários, da especulação desbragada, da arrogância das encomendas privadas (salvo uma ou outra excêntrica excepção), numa guerra de cotações que tantas vezes é ditada por interesses que nada têm de artístico.

Vivam a música, a literatura... e todas as artes que souberam democratizar-se!

12 comentários:

Fernando Samuel disse...

Bem visto! Muito bem visto!

Um abraço.

svasconcelos disse...

De facto, Samuel...não tinha pensado nisso e tens toda a razão.
beijos,

Pata Negra disse...

Uma coisa eu sei: nunca daria semelhante dinheiro por uma dessas obras! Estou de acordo contigo: a música e a literatura são mais democráticas! Não só porque são de acesso mais fácil mas também porque qualquer um de nós pode assobiar ou escrever umas linhas de comentários nos blogues. Quanto a pintar ou esculpir, sou uma lástima, valha-me a auto-satisfação de me sentir uma escultura com pinta.
Um abraço em leilão

Joaquim Moedas Duarte disse...

Exactamente! Subscrevo!

Saravá!

Sal disse...

Samuel, desta vez tenho de comentar. Não discordando do que dizes na generalidade, não posso deixar de fazer um pequeno reparo: a Literatura, a Música, o Teatro democratizaram-se, é um facto. Mas a escultura também! Disso é exemplo a fantástica bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante, ou a bienal de Cerveira (arte contemporânea). São de acesso ao público - podes contemplá-las e até fazer se para isso tiveres mãos.
Então e por que somas são vendidas partituras originais de Beethoven? E a primeira impressão de Romeu e Julieta quanto não valerá se fôr possível vendê-la no mesmo local?
Não é um pormenor de democratização, mas antes da forma como a ideologia capitalista manipula determinadas artes para atingir os seus objectivos. Ou achas que o facto de agora todos os adolescentes terem um ipod, um telemóvel, ouvirem mp3 a torto e a direito faz deles pessoas mais conscientes e emancipadas? Nada disso. faz deles uns alienados, futuros adultos que se comportarão exactamente da forma como o capital quiser. O capital diz que "agora é Harry Potter" que está a dar, e é o que acontece. O capital diz "agora é Marisa que está a dar", e promove-a até não poder mais. (Independentemente do valor intrínseco dos exemplos que citei).

A escultura foi cara? Pois foi. Interessa dizer ao mundo que uns são ricos e outros não, e que essa é a "ordem natural" das coisas!

Mas tu e eu sabemos que não é.
Instrumentalizar a arte sempre foi um dos meios de fazer vingar uma ideologia.

Desculpa um comentário tão grande,
olha, não sei o que me deu!.. lol
Beijinhos

Maria disse...

Muito bem dito!

Abreijos

anamar disse...

:))
Pontos de vista, mas que é exagero, é....
abreijo

Anónimo disse...

que vivam os movimentos contra-culturais! viva a arte efémera!
abraço do vale

LAM disse...

Samuel, a conversa tinha pano para mangas e este não será o local mais eficaz para a ter. À partida diria só que são meios que dispõem de formas incomparáveis de chegar às pessoas. Pode fazer milhares de exemplares de um livro ou de um disco, não o poderá fazer na pintura ou escultura. Cada apreciador do disco ou do livro poderá desembolsar (?) 20 euros para o comprar. Se o pintor ou o escultor vender uma obra por esse preço nem o tabaco paga.
Quanto ao resto, das "cotações", o mesmo se passará na literatura e na música poderá até dar mais exemplos do que eu.
Abraço.

Miguel Jeri disse...

Nunca tinha pensado nisso mas... concordo!

Daniel disse...

A nossa amiga Sal tem razão e não tem. E o Samuel tem e tem.
(Quanto custará a "Rapariga com brinco de pérola", uma das pinturas mais fascinantes de todos os tempos?)
Ah, a vantagem da literatura! "Levantado do Chão", "O Trigo e o Joio", "O Hóspede de Job" por exemplo (a "minha" trilogia alentejana), vendem-se ao preço de um qualquer outro livro do mesmo tamanho.

samuel disse...

Fernando Samuel:
É, pelo menos, uma maneira de ver... ☺

Smvasconcelos:
Bom... alguma hei-de ter... ☺

Pata Negra:
Essa é a atitude certa! ☺ ☺

Méon:


Sal:
A escultura e a pintura deram passos apenas...
A escultura, com mais dificuldade; a pintura, perdendo parte da arrogância e deixando-se reproduzir.
A possibilidade de ver exposições, não conta. Não é fácil ver um trabalhador sair de uma exposição de pintura com um original de vários milhares de euros (os mais baratos) debaixo do braço. Nem na Bienal do Avante!... ☺ ☺
E claro que tens razão quando dizes que a “democratização” da música e literatura não ajuda a uma maior qualidade. Infelizmente, muitas vezes, é exactamente o contrário.
Resumindo, há muito a fazer!

Maria:
É um desabafo.

Anamar:
Exactamente.

Duarte:
Que infelizmente apenas ficam para a posteridade... na memória de quem viu...

LAM:
Criar, gravar e editar um disco, também não custa vinte euros. Se o compositor ou cantautor, vender a obra por esse preço, também duvido que pague o tabaco.
É uma questão da atitude perante a obra de arte e da maneira de a fazer chegar aos outros...

Miguel Jeri:
Pelo menos dá para conversar sobre o assunto...

Daniel:
Apanhaste o espírito da coisa! ☺ ☺


Abreijos colectivos!