Fui convidado a comparecer no palco desta manifestação organizada pelo colectivo “Que se lixe a Troika”, para partilhar uma ou duas canções com os presentes, mas, infelizmente, tal não me foi possível... o que para algumas pessoas mais sensíveis de ouvido pode bem ter sido um alívio.
As manifestações não se medem pelo comprimento, mas sim pela intenção e sinceridade dos manifestantes. Assim sendo, não ficarei para aqui a comparar “tamanhos”... quanto mais não seja porque a pré-adolescência “curiosa” já lá vai há muitas décadas.
Arruma-se assim a questão da justeza de motivos que levaram um razoável número de pessoas a sair à rua, exigindo a queda do governo e a partida da troika.
Se tivesse podido ir a Lisboa e encontrasse na manif alguns dos que, insolentemente, tentaram denegrir os participantes na última manifestação da CGTP, faltando ao respeito a muitos milhares de trabalhadores que ali se deslocaram, atravessando a ponte em autocarro, sim!, mas depois fazendo uma grande manifestação, à chuva, sem arredar pé... provavelmente acabaria por nem fazer deste tema um grande caso, apesar do pouco tempo que houve, entre as duas datas das manifestações, para “digerir” essa insolência que, vinda daquela meia dúzia de "híper-mega-super-maxi revolucionários" que tem por missão primeira, há muitíssimos anos, a luta directa contra o PCP, a CGTP e os comunistas em geral... acaba por inquinar as relações destes com os muitos que, sinceramente, são independentes e apartidários, sem serem anti-partidos, ou mesmo anti-comunistas.
Do que vi – e aplaudo – não tenho muito mais a dizer, já que tudo me chegou filtrado pelo crivo, ora imbecil, ora mal intencionado, de um bando de “jornalistas” que as chefias das redacções dos jornais e televisões “lançaram” aos manifestantes.
Ali ouvimos, pela boca de uma “jornalista”, que as velhas e por demais conhecidas “palavras de ordem”, ficam a ser conhecidas como “gritos de ordem”.
Um outro, queria à força que uma manifestante admitisse que não havia alternativa com “os políticos que temos”. Como a manifestante não lhe fez a vontade, respondendo repetidamente que sim, há alternativa, mas que as pessoas ainda não tem coragem ou cultura política para votar nessas alternativas... o “jornalista” terminou a entrevista bruscamente, visivelmente enxofrado.
É sempre um grande aborrecimento, quando a realidade não se encaixa na estória que um “jornalista” quer contar.
Outra, perguntou a Carlos Carvalhas, ex-secretário-geral do PCP, se era a primeira vez que vinha a uma “manifestação não política”.
E lá ficou o Carlos Carvalhas a fazer o esforço de lhe explicar que não estava de todo a ver como é que uma manifestação em que se pedia a queda do governo e o “lixanço” da troika... não era uma manifestação política.
Outra, perguntou ao Arménio Carlos, líder da CGTP, se era a primeira vez que vinha a uma manifestação não convocada pela CGTP.
E lá ficou o Arménio Carlos a tentar convencê-la de que não... que, pessoalmente, tinha vindo a todas as manifestações organizadas pelo colectivo “QSLT”.
Outro, relatava a presença de muitas centenas de pessoas... e muito jovens.
Ora, toda a gente sabe que os jovens não são bem pessoas.
Outra, perguntou a uma jovem que se queixou de estar a trabalhar a troco de 150 euros, tendo duas licenciaturas e falando mais não sei quantas línguas para além do português... se no círculo de amigos da jovem mais alguém sentia essas dificuldades.
Sabendo-se que o desemprego jovem anda pelos quase 50% e dadas as evidentes opções ideológicas da “entrevistada”, que chances pensou a “jornalista” que haveria de o seu círculo de amigos ser composto apenas por jovens com belos empregos e muito bem pagos?
Outro, conseguiu arrancar a um manifestante uma sonora declaração: «estes governantes e senhores da troika deviam ser julgados, condenados e presos».
Por um verdadeiro milagre de interpretação, o “jornalista”, sem pestanejar, informou-nos na passada: Este manifestante defende o julgamento... dos políticos!
Isto podia estender-se por mais não sei quantos parágrafos, mas, para além do texto ir já muito longo, estou inquieto para voltar aos chefes de redacçãodos jornais e televisões... e deixar três perguntas simples:
1. Estes “novos jornalistas” são apenas ignorantes, ou serão mesmo assim tão estúpidos?
2. Os chefes de redacção atiram estes “jornalistas” para a rua com o fim tortuoso de lançar a confusão no público... ou apenas para se livrarem deles por umas horas e descansarem desta incontinente regurgitação de asneiras?
3. Haverá mesmo uma terceira explicação para este “jornalismo”?