A minha amiga “Justine” tem um dos melhores blogues que conheço, o “Quarteto de Alexandria”. Os seus posts são sempre uma mágica, sensível e inteligente combinação de textos tão curtos quanto bem escritos, ilustrados com imagens sempre a propósito, sempre de grande bom gosto e quase sempre saídas da sua inseparável pequena máquina fotográfica digital, tudo acompanhado com certeiras escolhas de “banda sonora”. São uma espécie de “shots” de beleza e cultura.
Desta vez a “Justine” fez-me descobrir um acontecimento cultural já passado... mas que não podia ser mais atual (e atuante). Apesar de pouco ou nada se ter ouvido falar, o MUDE (Museu do Design e da Moda) teve a bela ideia de utilizar os antigos e luxuosos cofres privados da caixa forte do BNU, para fazer uma exposição... de sementes. Exatamente, sementes. Sementes vulgares, de milho, de trigo, de alface, cenouras, batatas, etc., etc.
Chamaram à exposição “Sementes – valor capital”, ou «uma riqueza de toda a Humanidade».
Só os mais distraídos não terão visto e sentido que se tratou de uma ideia claramente transgressora, que afronta diretamente a “teologia” vigente neste tempo que vivemos: afirmar, desta maneira tão poderosamente simbólica, que a verdadeira riqueza da Humanidade não está no ouro, na especulação, nas bolsas de valores, nos lucros virtuais desta “economia de casino”, mas que está, como sempre esteve e estará, na produção, na força de trabalho, nas mãos que deitam as sementes à terra e na energia vital e interminável que as faz germinar.
Esmagadoramente simples!
13 comentários:
Pôr Portugal a produzir!!!
Abreijos.
Que ideia a propósito e com teror tão elucidativo. O remate do teu post ressume toda a riqueza da humanidade! E é verdade, é tão simples!
bjs,
É tão bom pôr Portugal a produzir!
Ora é aí que reside o busílis - gerir a força e o trabalho.
Forçar o trabalho - explorando as energias e as vontades individuais - ou criar riqueza acreditando e valorizando as potencialidades e energias dos cidadãos.
Temos assistido ás investidas brutais contra o trabalho e os direitos tanto comuns como individuais - forçar as vontades, amedrontando-as e criando a caça às bruxas - atirar areia para os olhos de quem já desorientado, facilmente cai na esparrela de um bode expiatório - a função pública e a "falta" de educação dos seus educadores!(salvo seja)
Quando até,para roubar as sementes dos nossos antepassados guardadas como verdadeira riqueza que é de gerações em gerações,se preparam,não podia vir em melhor ocasião.
Há que gritar,também dessa maneira.
Quando estiverem bem assustados,bater forte com os pés no chão.
Um abraço,
mário
Tanta terra sem produzir! Tanta fábrica ao abandono e esventrada! Tanta riqueza escondida no solo! Tanto Mar!!!!!Tanto dinheiro a flutuar!!!
E ainda dizem que Portugal é um país pobre!!!
Precisamos de um governo que em vez de explorar os trabalhadores, ponha os trabalhadores a explorar as suas riquezas para seu próprio benefício e engrandecimento do País.
A isso é que eu chamo patriotismo.
Temos que pôr Portugal a produzir e a gerir a sua riqueza de modo a que nunca mais haja explorados nem exploradores.
Um beijo.
Meu caro
Obvia mente
Abraço
Esta Justine tem cada ideia!... Pela imagem até parece que a conheço!
Um abraço cantigueiro para a Justine
Uma interpretação muito interessante. Contudo, não estaria demais aproveitar o post da "Justine" para lembrar que essa herança, também cultural, as sementes, têm vindo a ser patentadas desde há uns anos a esta parte. Onde? Pois.
«Esmagadoramente simples», de facto.
Um abraço.
CRN:
Grande observação! A merecer um longo post, só por si...
Ah, como o olhar da amizade vê com generosidade, tolerância e exagero! E a "olhada" fica feliz, reconhecida,orgulhosa("that someone so unforgettable thinks that I am unforgettable too"...)
Depois disto resta dizer que foste tu que, agarrando no meu post-chamada de atenção, lhe deste a dimensão política que lhe faltava! Obrigada, amigo:))))
Justine:
O meu olhar está de boa saúde... e não, não "lhe faltava" nada. :-)
Beijo.
Enviar um comentário