À hora a que escrevo este texto, para que ele depois entre pelo seu próprio pé e automaticamente às 00:01 horas, já percebi qual o género de noite que vou ter: mais uma noite em claro! Resultado de um dia tremendo, anestesiante, nauseante... daqueles em que só se está relativamente bem, de olhos fechados, dormitando, sem ver nem ouvir nada.
O resto foi passado entre alguns encontros imediatos com televisões ligadas... e lá estava sempre mais um pedaço de discurso soporífero "cavacal", apelando hipocritamento para o regresso dos portugueses à terra, terra que ele, mais que ninguém, ajudou a despovoar, mais uma ou outra curiosidade sobre a anestesiante vida privada de Sócrates, mais medalhas... sempre mais medalhas, a “discrição” de Portas e Passos quanto às suas negociações, jornalismo esterilizado... e, claro, a náusea, o asco mesmo, da imagem e do som da voz de António Barreto, invocando o nome de Portugal, das Comunidades e de Camões em vão, clamando que é urgente "adequar" a Constituição a estes novos tempos, pois «é demasiadamente programática, anacrónica e, sobretudo, barroca!»
Certamente a contrastar com o cérebro de Barreto, esse, do mais puro rococó.
Vão valer-me algumas séries de televisão que tenho gravadas... um ou outro DVD... e a certeza de que só haverá outro dia como este, daqui por um ano. Quando amanhecer, já não será “Dia de Portugal”... e a venda a retalho do país continuará a seguir o seu curso... cumprindo à risca o plano arquitectado por todos estes trastes.
E agora, para abrilhantar a sessão...
Valsinha das medalhas
(Carlos Tê e Rui Veloso/Rui Veloso)
Já chegou o dez de Junho, o dia da minha raça
Tocam cornetas na rua, brilham medalhas na praça
Rolam já as merendas, na toalha da parada
Para depois das comendas, e Ordens de Torre e Espada
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha
Encosta o teu peito ao meu, sente a comoção e chora
Ergue o olhar para o céu, que a gente não se vai embora
Quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos
Já chegou o dez de Junho, há cerimónia na praça
Há colchas nos varandins, é a Guarda d'Honra que passa
Desfilam entre grinaldas, velhos heróis d'alfinete
Trazem debaixo das fraldas, mais Índias de gabinete
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha.
Valsinha das medalhas – Rui Veloso
(Carlos Tê e Rui Veloso/Rui Veloso)
10 comentários:
Obrigada, amigo Samuel, por este admirável texto tão cheio de ironia mas também de conteúdo.
A valsinha das medalhas, eu não conhecia, mas também gostei muito de a ouvir.
Um beijo.
Delicioso.
Até que... «qualquer dia, qualquer dia», o Dia de Portugal será mesmo isso: de Portugal, a sério.
Um abraço.
Pois é, Samuel.
Custa mesmo!
Cavaco, Barreto & Cia. Lda.
É uma tristeza. Mas, sendo um fado de faca e alguidar, não é o nosso fado.
Para isto, A LUTA!
Grande abraço
Sabes o que mais me doi? Não são as palavras vãs e sem vergolha desses biltres todos,de quem não esperávamos outra coisa. Mas ver aquela gente toda em Castelo Branco a alinhar, a festejar, a GOSTAR - isso sim, isso tira um pouco a coragem...
Qualquer dia é igual ao 10 de Junho de 1973. as cruzes de guerra são substituídas por outras cruzes.
Este ano foi a Valsinha das medalhas, das cerejas e do Barreto bolorento.
Um abraço.
Pois é, mas o Rui Veloso também já é um dos peitos portugueses com comenda. Enfim...
Quando será que o dia de Portugal será na realidade para homenagear os portugueses que narealidade fizeram algo de bem a Portugal?
Com estes "ernestos..." que fazer senão lutar!
Saudações
Vicky
Pois é Samuel tem toda a razão, mas o Cavaco apenas continuou o trabalho do António e da sua célebre lei Barreto,de arrasar a agricultura e de despovoar o País.....
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