Eu sei, eu sei que estamos na sexta-feira alegadamente santa, que falo muito deste papa (e também de Sócrates)... mas prometo que assim que estes trastes me desampararem a loja passarei a falar de coisas mais interessantes, como a temperatura da água na praia de Moledo do Minho e o preço do lingueirão nas esplanadas do Algarve. Por ora, dado que a omnipresença da Igreja Católica pode ser um pau de dois bicos, quando vêm a lume notícias como as que inundam a imprensa mundial, a Igreja fica em maus lençóis com tanta exposição.
E então porquê mais este post sobre o senhor Ratzinger? Exactamente porque ele, cheio de um inspirado sentido de oportunidade, escolheu uma altura como esta para, depois de produzir umas inanidades sobre os padres e sobre as “alegrias” que estes devem dar às comunidades em que se integram, o que, dados os dias sombrios que a igreja está a viver, poderia até parecer uma ironia “finíssima” mas algo retorcida, escolheu esta altura, como dizia, para acabar a defender que «Os cristãos não devem aceitar as injustiças, mesmo que estas sejam consagradas no ordenamento jurídico dos países».
Ora aí está – pensarão vocês – uma frase que até é bonita! Também eu acharia, estivesse sua “santidade” a falar da guerra que ceifa milhões de vidas, ou da fome que mata milhões de crianças e adultos, ou da miséria que traz a fome, ou da exploração criadora da miséria... mas não!
Desgraçadamente, para o senhor Ratzinger, que ficará certamente na História como um papa minúsculo, a grande prioridade do momento, a grande mensagem para o seu rebanho é afinal «não aceitar uma injustiça que é elevada a direito, por exemplo, quando se trata do assassinato de crianças inocentes ainda por nascer». Bem me parecia que o grande problema que aflige a Humanidade por estes dias é a Interrupção Voluntária da Gravidez!
Não estivesse eu devidamente informado de que o senhor Ratzinger é extremamente culto, representante de Cristo na Terra, cristão dos quatro costados, candidato automático a santo logo que falecer... e praticamente infalível (dantes eram!)... e pensaria tratar-se de um discurso de um qualquer... digamos assim... pronto, agora não me ocorre nada, mas teria certamente uns bons adjectivos para lhe agrafar nas santas vestes.
6 comentários:
Garanto-te que não sei o preço do lingueirão mas sei que a água da praia do Moledo é fria comó carago! Eu até desconfio que é lá que eles vão buscar os blocos de gelo para conservarem o peixe.
Já quanto às “alegrias” que devem dar às comunidades em que se integram, há padres que levam à risca as palavras de Ratzinger, tal é o exemplo que hoje dou lá no meu blogue.
E porque é que temos nós de estar hoje a falar neles? Será por ser sexta-feira santa?
Santa ou não, bom fim de semana.
E eu a pensar que era um apelo à insurreição armada...
:))))
Ao contrário dos de Deus, os desígnios de SS não são nada imperscrutáveis...
Um abraço.
Os teus post são uma maravilha de lucidez e ironia.
Obrigada.
Um beijo.
Perdoa-me, Samuel, mas tenho ums sugestão melhor: canoniza-se este energúmeno ainda em vida, já que os paspalhos ganharam o jeito de se ajoelhar...
E recordo, então, uma estória no DL nos primeiros anos da nossa Revolução, passada na longínqua Nicarágua, a viver também, por essa altura, momentos empolgantes - só que já retomara o rumo: contava a jornalista que assistira a uma Missa do Padre Molina que, à pergunta "nao se ajoelham?" respondeu "não, Deus não fez os homens para eles andarem de gatas...". Afinal, o contrário do que estes trastes porfiam em não mexer. É lá com eles...
Salvoconduto:
É uma espécie de penitência para não crentes... ☺ ☺
Maria:
Estão “armados”, estão...
Fernando Samuel:
Começam mesmo a tornar-se a única coisa transparente daquela colectividade.
Graciete Rietsch:
☺ ☺
Elísio Alfredo:
Os padres que descobrem que o homem não existe para se curvar... não vão longe!
Abraço colectivo.
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