Nos últimos dias tenho recebido vários mails relatando as dificuldades técnicas, mais concretamente, «problemas de impressão», segundo o nosso Expresso, que impediram o jornal francês Libération de sair em Portugal, no último dia 18 de Março. Este último que recebi da Maria, foi a gota de água. Não resisto mais à pressão... vou dizer o que “realmente” penso sobre o assunto!
Eu sei que o mais das vezes aponto o dedo a Sua Excelência o Presidente do Conselho pela sua manifesta falta de apego à verdade, pela trapalhada que é o seu passado académico, pela fealdade do seu passado profissional manhoso, pelo estado miserável em que está a deixar o país, pela forma delinquente como tira a milhões de remediados e pobres para dar a meia dúzia de ricos, alguns dos quais, seu amigos ou “boys”, mas quase sempre me esqueço de realçar o aspecto mais relevante deste homem: o azar! Um azar de dimensões bíblicas! Azar com os membros da família que lhe calharam em sorte; azar com quase todos os amigos e, sobretudo, com os telefonemas da treta que alguns lhe fazem; azar aos jornalistas... perdão, com os jornalistas portugueses, etc., etc., etc.; azar até com os jornais estrangeiros.
E perguntam vocês “ó Samuel, e por que diabo é que esta estória do Liberation é azar?” Exactamente pelo estupor do dia que escolheu para ter «problemas de impressão». Podia ser num dia em que não tivesse uma linha sobre Portugal, como é o costume de quase todos os jornais estrangeiros, podia ser num dia em que, a falar de Sócrates, fosse para lhe gabar a forma atlética, a excelência na escolha dos fatos, sei lá... mas não! Tinha que ser logo no dia em que um enviado especial a Lisboa desancava o primeiro ministro português, a sua política económica, a sua débil reeleição, as suas dificuldades no novo Parlamento, o envolvimento já recorrente do seu nome em escândalos de vária ordem... uma vergonha, digo eu, mesmo sendo escrito em francês... que sempre fica “mais fino”. Tinha que ser logo num dia assim que o raça do jornal havia de ter «problemas de impressão»... e não sair!
Desconfiados como andamos, quem é que mesmo sem querer, não fica com a impressão de que ali houve qualquer outra coisa? Como é que isto vai logo acontecer a um primeiro ministro e a um governo que toda a gente sabe perfeitamente incapazes de manobrar ou pressionar, fosse como fosse, para provocar os tais «problemas de impressão»? Uma coincidência destas é ou não é um azar impressionante?
13 comentários:
Também tenho a 'impressão' que o problema está na liberdade de 'expressão'.
Pois eu tenho a impressão que os problemas de impressão foram devidos à (im)pressão, e que traria problemas se a impressão fosse feita.
Ai este português... impressionante...
Abreijos, sem (im)pressão
O artigo esta aqui :
http://www.liberation.fr/monde/0101625174-jose-s-crates-le-portugais-ensable
Tenho habito de ler esse jornal todos os dias mas por azar nessa semana estava em Portugal...
Bjo
É impressão minha ou já estou a ficar com azia?
Eis um exemplo de liberdade de... impressão!
Mas, neste caso, o que mais impressiona é que até é estúpido. O que passaria por uma desagradável circunstância tornou-se em uma prova de falta de carácter. Aquela coisa que dizm que querem assassinar mas não pode ser assassinado porque não existe!
Abraço
Os defeitos de impressão são muito convenientes quando a expressão da verdade é inconveniente.
Um beijo.
Belo texto, resume tudo aquilo que possamos pensar sobre o calhorda que nos governa. Será que tudo isto ainda não causa "impressão" a este povo sereno e pouco habituado a pensar. A mim causa-me muita impressão que não cause impressão aos portugueses ( aos restantes que não pensam como nós)e que ainda permitam gente desta por cá.
Bom trabalho
Lídia
As impressões são coisas muito subjectivas - a não ser que sejam digitais porque, nesse caso, deixam marca impressiva...
Um abraço.
E eis aqui a tradução do que tanto amedrontou Sócrates... que até se "avariaram" as rotativas do "Libération":
José Sócrates, o Português assoreado
Nada está trabalhando a favor do primeiro-ministro socialista, cujo nome está associado a casos de corrupção, num contexto de crise económica grave.
(Por FRANÇOIS MUSSEAU envoyé spécial à Lisbonne)
A inimizade de boa parte dos média, a crise política que se transforma num impasse institucional, uma situação social explosiva, um desastre económico obrigado a medidas drásticas a curto prazo ... Como se isso não bastasse, o impetuoso José Sócrates (fracamente reeleito nas legislativas de Setembro de 2009) tem agora de enfrentar uma revolta do Parlamento que poderia forçá-lo a demitir-se ou a chamar a família política para encontrar um sucessor socialista como chefe de governo. Começa hoje em Lisboa o trabalho de uma comissão parlamentar de inquérito que, pela primeira vez desde o fim da ditadura de Salazar, envolve diretamente um Primeiro-Ministro. E vai forçá-lo a aparecer fisicamente, ou melhor por escrito. "Portugal é um barco bêbado, onde o capitão é o suspeito maior de toda a tripulação", desferiu um colunista do canal privado SIC.
Segundo os economistas, de todos os países europeus sobre a banca, Portugal é certamente o elo mais fraco. Ainda mais do que a Grécia, o pequeno país ibérico sofre com problemas estruturais, as exportações a meia haste, um registo da dívida externa e um défice de 9,3%. Bruxelas espera de Lisboa as medidas concretas a respeito do “plano de austeridade "ao qual José Sócrates se comprometeu. Mas estas medidas, que prometem ser duríssimas, são esperadas ... Especialmente quando José Sócrates está ainda mais enfraquecido pelos seus problemas político-judiciais.
"Reformador". Isto é muito parecido com um julgamento político supostamente ligado a um caso de intervencionismo. Durante dois meses, um grupo de deputados vai tentar lançar luz sobre o papel desempenhado por José Sócrates na tentativa da gigante Portugal Telecom (PT, controlada pelo governo socialista) para comprar a televisão TVI, hostil ao governo. Trata-se de saber se o líder socialista tem manobrado para colocar a cadeia de TV sob seu jugo. Em junho de 2009, perante o Parlamento, Sócrates tinha solenemente negado o conhecimento de tais negociações. Se este inquérito, que vai ouvir dezenas de testemunhas, provar que o primeiro-ministro mentiu, os dias de quem prometeu "transformar Portugal em Profundidade" estarão contados.
(cont.)
(cont.)
Num harém político dominado por doutores, este socialista sem título prestigioso, irrita e rompe com o status quo. À maneira de um Sarkozy Português, Sócrates é um cavador, um comunicador zeloso que fagocitou o seu partido e personalizou até ao extremo o exercício do poder. Outras semelhanças: ele não tem medo de esculpir no vazio, suporta mal as críticas, perde facilmente o controle dos nervos e cultiva a permeabilidade entre política e negócios - como Jorge Coelho, um dos seus próximos, ex-ministro Socialista que entrou com a sua bênção no conselho de administração da construtora Mota-Engil.
À força de brincar com o fogo, José Sócrates encontra-se em terreno movediço, seis meses após sua difícil reeleição (uma pequena maioria no Parlamento) embora o seu índice de popularidade não pare de cair alegremente? "A priori, todos os elementos o oprimem, diz Ricardo Costa, director do semanário Expresso. Felizmente para ele, as circunstâncias protegem-no." O consenso geral, o Presidente da República, Cavaco Silva, mentor do grande partido de direita (PSD), não está interessado em convocar eleições antecipadas. Por razões de estabilidade institucional, e também porque uma votação de hoje certamente não muda muito a situação. Até janeiro de 2011, data das presidenciais, Sócrates não vai arriscar a sua pele. A menos, claro, que a comissão parlamentar de inquérito, que abre hoje, exija a sua demissão.
Sacrifícios. Mesmo que permaneça no lugar, todos lhe prognosticam um caminho da cruz até o final de 2010. Após ter concedido generosidades sociais, Sócrates irá ter que aplicar desde já o plano de austeridade ditado por Bruxelas por meio de cortes nos gastos sociais (saúde, subsídio de desemprego, os subsídios, o acesso ao RMN ...). "Durante dez anos, o poder exigiu que o Português fizesse sacrifícios", diz Manuel Villaverde Cabral, o politólogo. Eu não acredito que iremos suportar isto por muito mais tempo. "
José Sócrates, preso entre a bigorna social e o martelo financeiro? "Ele tem as mãos e pés atados", acrescentou José Manuel Fernandes. O modelo industrial Português, velho de cinquenta anos, está muribundo, e nada o substitui. O país produz entre 30 e 40% do que consome. A margem de manobra de Sócrates é muito baixa."
Será que ele vai se recuperar? Ricardo Costa, do Expresso, e outros observadores estão convencidos: "Este tipo tem mais vidas que um gato. É muito duro, muito resistente, ele sabe encaixar os pregos. Um verdadeiro monstro político que põe as suas garras para fora quando está mais fraco ".
(cont.)
"Embora tenha sido uma parte da solução para o país, Sócrates é agora parte do problema", diz José Manuel Fernandes, ex-editor do diário de referência Público, cuja demissão é devida a relações tensas com o líder socialista. Como muitos outros críticos, Fernandes reconhece que o tonitroante Sócrates foi, no início de seu primeiro mandato - 2005-2007 - um chefe de governo corajoso, que baixou um enorme déficit para 3% (novamente hoje cerca de 10%), reformou o sistema previdenciário (idade e tempo de avaliação aumentada), aumento das receitas fiscais, criou 150 000 postos de trabalho, fez uma limpesa na gestão de topo ... "Um bom equilíbrio entre pró-reforma, que tem mantido uma garantia para a esquerda e direita, "disse o analista político Manuel Villaverde Cabral. Ele deslocou um monte de gente em lugares altos, que agora são outros tantos inimigos. "Mas se José Sócrates é tão contestado, é também porque a sua carreira é marcada por sombras e atividades suspeitas”.
Desde os seus primeiros passos municipais na região da Beira Baixa, a leste do país, ele foi envolvido em uma dezena de escândalos. Um diploma de engenharia obtido em circunstâncias suspeitas, licenças de construção concedidas duvidososamente no município de Castelo Branco, o caso "face oculta" (as escutas telefónicas ligam-no a um empresário desonesto, com um quase- monopólio industrial) ... Ou o caso do "Freeport", uma empresa britânica que instalou um centro comercial em Alcochete, um subúrbio de Lisboa, sobre um terreno protegido... com a luz verde de Sócrates, então ministro do Meio Ambiente ! "Na verdade, de todas as vezes, não há nenhuma prova formal", disse José Manuel Fernandes. Mas nada é verdadeiramente claro quanto a ele. "
Jovem lobo. Enérgico e carismático, com uma ousadia que eletrizou uma rígida política, José Sócrates também emerge como um líder intransigente, autoritário e irrascível, cuja ambição ardente irrita muitos. "A sua formação é a de um jovem lobo, sem ideologia, oportunista, um puro produto do “aparelho”, que subiu a escada de cabeça fria, assim o descreve Fernando Rosas, historiador e membro do Bloco de Esquerda. “Ele sempre esteve numa borderline. E os seus acessos de autoritarismo renderam-lhe uma imagem deplorável nos média que não são gentis com ele." Sócrates levou bem deles: vários jornalistas estrelas de TV (Mário Crespo, Manuela Guedes ...) denunciaram a " censura "exercida sobre eles pelo Primeiro-Ministro. Uma Comissão de Ética foi criada em janeiro, para esclarecer a questão. "Um dos grandes problemas de Sócrates é que ele perdeu o apoio das elites, segundo a análise de José Manuel Fernandes, o ex-chefe do Público. “Ninguém mais tem confiança nele, toda a gente tem medo de ser enganado por esta personagem conflituosa e ambígua."
(cont.)
Eu como não acredito em coincidências... sou levada a suspeitar que não foi mero problema de "impressão".
bjs,
Isto está tudo uma miséria. Até onde chegam os tentáculos do polvo...?
Enviar um comentário