quarta-feira, 7 de abril de 2010

O silêncio dos criminosos





Já todos em alguma ocasião ouvimos falar do super juiz espanhol Baltazar Garzón. Confesso que não é figura que me inspire simpatia, mas aceito que isso possa dever-se à minha grande desconfiança para com pessoas que detêm demasiado poder, o que nunca é bom.

De qualquer maneira, este juiz ficou famoso por ter tentado julgar o ditador chileno Augusto Pinochet e pela insistência implacável a roçar muitas vezes a paranóia, com que persegue o movimento separatista ETA... perseguição que se fosse dirigida exclusivamente aos autores de crimes de sangue, facilmente se entenderia, concordando ou não, mas que, ao perseguir amigos, conhecidos, gente que lhes disse “bom dia!” na rua, o gato, o periquito, alegando que tudo é a mesma coisa, entra decididamente num caminho de cegueira persecutória de conotações preocupantes. Seja como for, o juiz Garzón, tinha-se habituado aos aplausos quase unânimes em “casa” e no estrangeiro.

Certamente para ficar na História, ou reforçar a ideia de não estar apenas virado para a ETA, decidiu iniciar um processo de investigação sobre os milhares de desaparecidos na Guerra Civil e, em geral, sobre o caudal de crimes do caudilho, o assassino Francisco Franco. Foi um passo maior do que a perna, pois desta vez mexeu com o “sagrado direito ao esquecimento”, que a extrema direita espanhola terá imposto para não provocar uma nova guerra civil, quando a Espanha fez a transição para a democracia que hoje vive, silenciamento a que chamou “Lei de Amnistia Geral”.

De nada lhe adiantou ter entretanto desistido das investigações. A direita espanhola, que ainda tem no seu seio, vivos e de boa saúde, os criminosos e cúmplices dos hediondos crimes praticados pelo fascismo espanhol, não lhe perdoa ter sequer tocado no assunto. Quer vê-lo sentado no banco dos réus, julgado e condenado.

Nós, na realidade, não tivemos um banho de sangue como foi a Guerra Civil de Espanha e, segundo os historiadores que estão na moda (e lavam mais branco do que o OMO), tivemos uma PIDE que «prendia pouco» e, como ditador, um criminoso que «matava pouco». Mesmo assim, o que aconteceria se alguém publicamente se propusesse investigar em profundidade e divulgar abertamente os crimes de Salazar e do fascismo português?

5 comentários:

Fernando Samuel disse...

Este Garzon... confesso que tenho medo dele...
E «surpreende-me» sempre com os resultados das suas investigações: consegue tudo o que quer em relação aos independentistas bascos,por exemplo, mas não consegue nada em relação a outros alvos (mesmo o Pinochet, o que ele «conseguiu» foi evitar o julgamento do ditador no Chile...
(para minha segurança, espero que ninguém lhe vá dizer que eu não gosto dele...)

Um abraço.

Maria disse...

Às tantas era preso... exagerei, ok. Mas acho que não seria muito bem tratado parte de alguma classe política...

Abreijos

Diogo disse...

Garzón é apenas um subalterno. Sozinho não se metia em tão altos vôos.

Curioso do Mundo disse...

Se fosse cá? Ora isso é do foro privado de cada um...não se pode mexer.Garzons também não obrigado.Por ex.que é feito dos pides que fugiram de Alcoentre?

Abraço

maria povo disse...

Por cá, o que a aconteceria, é que "quereriam vê-lo sentado no banco dos réus, julgado e condenado!" até porque muitos dos senhores jubilados dos tribunais superiores, foram, senhores juizes dos tribunais plenários!!!

acho que seria assim que aconteceria em portugal!!