Modest Mussorgsky (1839-1881) – Óleo, por Ilia Efimovich Pepin (1844-1930)
Existem pessoas (aos milhares, infelizmente!) portadoras de uma espécie de deficiência que as impede de apreciar mais do que um, vá lá... dois géneros musicais. Algumas, arrogantemente, até se gabam disso...
Aí as vemos, agarradas aos “seus” géneros musicais subdivididos em categorias estanques e quase inimigas, seja na música dita erudita, clássica ou contemporânea, ou jazz, ou rock, ou fado, ou canção de “intervenção”, ou “world”... ou simplesmente música “pimba” importada de todas as partes do mundo.
Muitas dessas pessoas têm como característica comum, possuírem um “ouvido” tão afinado como portões de quinta, sendo incapazes de apreciar ou reproduzir uma simples melodia, incapazes de apreciar o que está para lá do virtuosismo técnico e hermético das sequências de acordes e melodias mecânicas e desinspiradas que são o pão nosso de muita erudita e de muito jazz... para falar apenas nas mais elaboradas e intelectualizadas.
Vem isto a propósito de uma prazerosa experiência que vivi pela primeira vez há muitos anos... e que continua a dar-me imenso gozo. Passo a contar.
Nos idos de 1972, um grande grupo musical da área do rock, os “Emerson, Lake & Palmer”, editaram um disco chamado “Pictures at an exibition”, disco de que gostei logo à primeira audição. Era (e é) um disco temático em que cada trecho musical correspondia a um quadro de uma esposição.
Era inevitável! Que quadros? Qual exposição?
E assim, mesmo sem Google ou sequer internet, lá “cheguei” ao senhor russo, Mussorgsky, de seu nome, que terá visto a tal exposição e os seus quadros... e que decidiu compor, para piano, peças musicais, bastante “gráficas”, diga-se, dedicadas aos ditos quadros. Lá arranjei um LP, tocado por um pianista de quem não lembro o nome (o pianista do primeiro dos vídeos de hoje tinha apenas um ano de idade) e passei a fazer “escuta comparada” dos dois discos.
Isto orquestrado devia ser bestial! – pensei eu, desconhecendo ainda a “ranchada” de pessoas que já tinham pensado o mesmo antes de mim e produzido uma enorme quantidade de orquestrações, arranjos, adaptações... para orquestra, pequenos grupos, ou até para formações de jazz. Finalmente, encontrei a “minha” orquestração, feita por Maurice Ravel... o do Bolero (não a mistura de café solúvel, mas o da música, mesmo!).
E assim, a diversão da “escuta comparada” passou para três discos. Ainda hoje isto me dá um grande prazer. Ainda hoje fico a pensar naquilo que perdem as pessoas (aos milhares, infelizmente!) portadoras de uma espécie de deficiência que as impede de apreciar mais do que um, vá lá... dois géneros musicais. Algumas, arrogantemente, até se gabam disso...
Bom domingo!
“Promenade” – Evgeny Kissin
(Modest Mussorgsky)
“Promenade” – Orq. Filarmónica de Roterdão
(Modest Mussorgsky/Orquestração de Ravel/Maestro Valery Gergiev)
“Promenade” – Emerson, Lake & Palmer
(Modest Mussorgsky/Adap. E,L&P)
6 comentários:
Há pianistas que conseguem soar como uma orquestra. Nada de mais dirão alguns é virtude do piano.
Há orquestras que conseguem soar como uma gigantesca fanfarra tal o ambiente sonoro que criam a ponto de nos elevarem no ar, é para isso que as fanfarras servem dirão outros; papas, bolos e fanfarras.
Há músicos de rock que fazem soar música profana como se tocassem numa catedral.
Todos eles nos relembram como maravilhosa é a música que nos ergue acima do tempo e nos une além do que é mesquinho.
Ora aqui está um post com o qual me identifico totalmente e que em 2011 Samuel, continua a ser actual…
Falta acrescentar “para o ramalhete ficar completo” que os mesmos Emerson, Lake & Palmer no final da década de 70 (a sua década de ouro, sem dúvida) mais precisamente em 1979 publicaram uma nova versão de Pictures at an exibition em que em palco estão eles e uma orquestra sinfónica…
Fazer favor de investigar e se não conseguir, Samuel, diga-me que eu arranjo uma cópia desse espectáculo…pois vale a pena!
Francisco Trindade
Franciscotrindade4@gmail.com
Há por aí muito disso.
Perdem a vida à procura,cheios de tiques,do tal copo de cristal,mesmo que envenenado com chumbo,errado,para beber o tal,sei lá como se chama,estrangeiro claro,certo,do ano de não-sei-quantos,só aquele,ou copo certo para bebida errada,ou vice-versa,não sei.Só sei.isso sim,nunca terão o imenso prazer de beber uma malga de carrascão,daquele verdadeiro,com os amigos,aqueles que valem a pena.Manias.
Um abraço,
mário
Óptima lembrança.. aqui para a malta das velharias...
Gostei!
As mãos do 'mocinho' do video 1 são um espanto...
Que coisa bonita deixaste aqui para um domingo tão cheio como o de hoje!
Abreijo.
A confirmar que os que apreciam um... vá lá, dois géneros musicais, afinal não apreciam nada...
Um abraço.
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