Recebi na caixa de correio electrónico, já lá vão três ou quatro vezes, esta verdadeira agressão xenófoba e racista, disfarçada de anedota. Reza assim:
"Num incêndio, num velho prédio no centro de Paris, os bombeiros que acorreram ao sinistro descobriram que uma família de 5 argelinos que ocupavam o segundo andar tinha morrido. Uma família de 14 refugiados de um país da África sub-saariana, que habitava o terceiro piso... tinha igualmente perecido no fogo... mas que, o casal de franceses brancos do quarto andar tinha saído ileso.
Entre protestos de associações de direitos humanos sobre as condições de segurança do prédio, o comandante dos bombeiros esclareceu que o casal de franceses brancos só se tinha salvo... porque tinha ido trabalhar."
Genial, não é? Depois, imagino, muitos dos que recebem esta “anedota”, não só a partilham como a “explicam” aos amigos com a mesma dimensão cerebral:
“Tás a ver, pá? Os pretos e os árabes morreram porque não fazem nada... porque não querem trabalhar... ...”
Há uns dias, como aqui dei notícia, desloquei-me a Paris em funções musicais. Percorri muitas ruas da cidade e, por duas vezes, os vastos “caminhos” do aeroporto de Orly... e rais ma parta se a grande maioria dos trabalhadores e trabalhadoras que vi, logo no aeroporto, tomando conta das bagagens, das limpezas, da segurança, das obras de remodelação do próprio aeroporto, dos trabalhadores que vi pela cidade conduzindo taxis e outros transportes de trabalho, dos trabalhadores e trabalhadoras que, enquanto passeámos, à noite, antes e depois do delicioso jantar de mexilhões, serviam às mesas, trabalhavam nas cozinhas dos restaurantes e “bistrots”, nos mercados de rua, lavavam as ruas, recolhiam lixo, punham a cidade a funcionar para mais um dia... não eram, como já disse, na grande maioria, argelinos, negros, imigrantes vários... trabalhando lado a lado com alguns “franceses brancos” e, sim, claro… também uma boa mão cheia de portugueses!!!
Devo ter andado só pelos lugares errados!!!