segunda-feira, 12 de abril de 2010

Direita popular e colorida



Há muito, muito tempo, era eu uma criança... (mas chega de plagiar o José Cid) que descobriu a maneira de se livrar da Mocidade Portuguesa de Salazar. Muito simplesmente, decidi inscrever-me em tudo o que era actividade circum-escolar, com grande prioridade para o atletismo... e pronto. Adeus à fardinha idiota, aos desfiles sem sentido e à gritaria dos “direitaaaaa vooolver!!!” insuportáveis, que desta maneira só aturei por umas três vezes. Claro que fui ajudado pelo facto de, nessa altura, em Águeda, a Mocidade Portuguesa não ser propriamente a actividade ou ideia de diversão juvenil mais popular.

Vem isto a propósito da forma displicente (nalguns casos apologética) com que a generalidade dos politólogos e comentadores oficiais observam a “viragem à direita do PPD-PSD de Passos Coelho, como se isso fosse o mais natural e necessário para o país. Assim como que uma espécie de sol na eira... ou chuva no nabal.

Com a espantação própria dos parolos, aplaudem a chegada atrasada a Portugal de um discurso neoliberal – como se ele não estivesse já entre nós – depois de este ter feito por todo o mundo os estragos que se vêem. Claro que o discurso neoliberal tem sempre ouvintes receptivos. O discurso neoliberal, para ser propositadamente redutor, resume-se a pegar nas baboseiras reaccionárias que correm nas tascas, nos táxis, nos barbeiros, subúrbios de cidades, campos dominados por senhores e párocos retrógrados e em todos os meios profundamente despolitizados e ignorantes, onde foi fácil amadurecer ideias furiosamente individualistas e anti-sociais, transformadas em cartilha contestatária do sistema político e dos políticos em geral, abrilhantada pelas eternas frases feitas tipo “eu quero é o meu”, “pra quem quer trabalhar há sempre trabalho”, “cada um que se oriente”, “os políticos são todos iguais”, etc., etc., etc... e intelectualizá-las. Juntar-lhes a teoria recorrente do “Menos Estado” e a cegueira não menos recorrente da “Revisão da Constituição”, é a cereja em cima do bolo.

Um político neoliberal, como Passos Coelho, tem apenas que vestir estas “bocas” de tasca com umas roupagens de teoria económico/filosófica, exactamente como fizeram antes dele alguns “gurus” da economia e filosofia (nos quais dirá inspirar-se...) e aí vamos! Direitaaaaa vooooolver!, acompanhados pelos fantasmas de Margareth Tatcher, Pinochet, Reagan, Bush ou Tony Blair, entre outros trastes, perante o ar enlevado dos comentadores e politólogos, encantados com a “indiscutível viragem à direita do PSD”, viragem que, somada à de Sócrates, é precisamente o que está a fazer falta a Portugal. Então não é?

A imagem aí em cima não é de uma manifestação dos delegados deste Congresso do PPD-PSD. Não! É mesmo de um desfile, em Lisboa, da velha Mocidade Portuguesa de Salazar. Faz a sua diferença... mas há que ficar atento!!!

13 comentários:

Maria disse...

O homem também não podia virar à esquerda, senão era ultrapassado pela direita pelp ps. Decidiu distanciar-se à direita e fez muito bem.
Atentos teremos de estar, pois claro!

Abreijos

JMJ disse...

com tanta volta para a direita, já o país vai tonto sem sair do mesmo sitio.

Preparemo-nos então para as desventuras de mais presidente do psd.

Graciete Rietsch disse...

Ainda dizem que o Júlio Diniz era um escritor menor! Vejam lá os nossos Joãozinhos das Perdizes, as conversas nas tascas, o Conselheiro tão adaptado às viragens da época, as criancinhas descalças à porta da quinta numa noite de rigoroso inverno, os malefícios da religião mas também o progrssismo das leis liberais, etc,ete. Talvez lhe falte a luta de classes, mas não podemes esquecer a época Apesar de uma esccrita doce e romântica ele denunciou muita coisa. Eu gosto muito de Júlio Diniz.
Mas isto vem a propósito de quê ? Ah! já sei dos "grandes revolucionários" tão unidos e cheios de reformas para reconstruir, digo, destruir o país.

Não voltaremos atrás.

Um beijo.

Anónimo disse...

Ontem fiquei impressionada...a televisão ligada, e eu noutro espaço, ouvia o que supunha ser o Socrates...de repente vou a sala, e espanto dos espantos! era o Passos Coelho...não bastava ser ele o Ken do PSD (imitanndo asssim o Ken do PS) como ainda por cima contrataram o mesmo professor de dicção... são definitivamente clone um do outro, que interessa o conteúdo programaático de cada um...o objectivo é levar à liderança do país um boneco eficaz na angariação das simpatias do povo!
Mgantes

irlando disse...

Penso que uma das diferenças,é que actualmente os filmes são a cores.

rvn disse...

sam,
já te vejo a plagiar o José Cid, mais dia menos dia é certo: hei-de apanhar-te a votar Passos Coelho...

credo, mais um caso perdido em Portugal!! até os melhores caem, vejam só!!!
:-))

abraço-te na mesma, pois que hei-de eu fazer...

Unknown disse...

O grande problema é que as pessoas continuam a acreditar nestas tretas. Pelo que já ouvi, estão todos contentes, afinal este fica melhor nos televisores. A questão da direita é secundário para o pessoal reaccionário.

Fernando Samuel disse...

Há ali um que me parecia mesmo, mesmo, o PP Coelho...

Um abraço.

jrd disse...

Queres dizer cinzenta?!...

Antuã disse...

Mais um coelho a precisar duma cacetada atrás das orelhas.

Alien8 disse...

Tenho que subscrever as palavras da Maria!

Ah, também arranjei forma de me safar das manobras da MP!

Agora vamos ver se me safo, se nos safamos, das manobras dos neoliberais do PS, do PSD e outros que por aí andam a apregoar os estribilhos que tão bem identificaste, alguns mesmo sem sequer se darem ao trabalho de os intelectualizar.

Congelem, filhos, congelem...!
Privatizem, filhos, privatizem...!

(Pois, lembrei-me do FMI do José Mário Branco...).

"... E chegará o dia das surpresas." - agora é a vez do Saramago pela voz do Manuel Freire. "Ouvindo Beethoven".

"...e vêem o futuro a chegar ao alcance das mãos." Se bem me lembro. Esta é de quem? :)

Abraço.

Unknown disse...

o Marcelo Rebelo de Sousa era o meu Comandante de Castelo...

septuagenário disse...

Este blog até tem motivos para ser seguido.

Mas esta da Mocidade do Salazar ligada a Passos Coelho...

O Passos Coelho se existisse em 1950 teria a pinta mais pura de um Marxista-Leninista à portuguesa.

E em 1960 seria barbichas à Fidel ou Ché...

Este post é um chuto na atmosfera.