O jornal “Destak” é um jornal engraçado, mas só aparece cá na aldeia quando o Zé Justino, que trabalha em Lisboa, vem a casa e não o deixa no Expresso da Rodoviária. Diz ele que é de borla e que o arranja no Metropolitano, a caminho do Terminal de Sete Rios, seja lá isso o que for.
Este último que trouxe e que já tem uns dias, diz que aquele senhor do Governo, o que tem nome de “grego morto”, como diz a nossa professora, quando está mesmo muito mal disposta, ou de jogador brasileiro reformado, como dizem os amigos do meu pai, para gozar com ele (acho que por ter votado no tal senhor e agora estar arrependido...), disse no Algarve, que até Abril, quer as escolas todas com Internet de Banda Larga!
Nós ainda não temos, mas ficamos muito felizes, porque não somos nenhuns matarruanos e sabemos que a Internet é uma coisa muito boa e útil para as escolas e para os alunos. Pode-se escrever muito rapidamente para todos os amigos e amigas, acho que até se pode falar com eles e a vê-los no computador, podemos aprender muitas coisas sobre Portugal e os outros países, os animais e as plantas, o espaço, ver notícias...
Acho que até se pode fazer visitas virtuais a outras escolas... onde o tecto não deixa entrar água quando chove, os aquecimentos funcionam e o vento não entra pelas janelas e portanto os meninos conseguem segurar nas canetas como deve ser e não como nós, que quando temos as mãos geladas, deixamos cair tudo, parece que algumas até têm refeitórios também quentinhos, onde há refeições boas e não está sempre a faltar o leite dos pequenos almoços e dos lanches, escolas em que os professores não chegam de manhã com um ar muito cansado e sem paciência para nada, por terem feito umas enormes viagens para chegar, como na nossa, mesmo sabendo que aqui na vila, perto de nós, há uma professora que foi dar aulas para muito longe e a filha da senhora Isaura Modista, aqui da aldeia, começou a ser professora este ano e em vez de ficar cá, foi ensinar para uma terra que é a duzentos quilómetros e acaba por gastar o ordenado todo no quarto que teve que alugar lá e nos transportes e anda muito triste e a querer arranjar outro emprego, logo ela que era tão bem disposta e estava sempre a dizer que queria ser professora...
Tomara que chegue depressa a Internet, mas só se for a tal de Banda Larga!...
20 comentários:
Pois olha, eu gosto muito da Internet, mas nunca fui à Banda Larga! Um dia hei-de lá ir, isto claro se o meu pai deixar...
"há mar e mar,há ir e voltar"
alex o’neill
De-li-ci-o-so!
Ex-ce-len-te!!!
Mas apetece-me bater em alguém, de tão verdadeiro é o teu post....
... achas que posso ir ali ao Rato bater no senhor que manda no palacete cor de rosa? (o tal grego que já morreu e ninguém deu conta, ou mesmo o jogador reformado...) Posso? Vivô!!! Eu posso!!!!
Abreijos
Pois está claro, que mais depressa se forma uma Banda de Musica, do que chega a Banda Larga (que posse ser um excelente título para a Banda da aldeia... Já estou a ver o "Grego ressuscitado" a fazer a inauguração da "Banda Larga", grupo musical aí da aldeia, hein, que tal.
excelente texto.
Abreijossssssssssssssssss
Nessa Banda Larga de que tqamanho é o bombo?!...
Samuel
Pois a realidade é uma coisa, essas escolas virtuais que o senhor com nome de grego morto fala, são outra muito diferente, de facto para além dos dramas da colocação ou não dos professores, da falta de material e condições nas Escolas, da falta de condições nos edificios, da falta de equipamentos complementares (pavilhões desportivos, bibliotecas, etc), para além do preço de manuais escolares, para além da falta de auxiliares de acção educativa, temos ainda os Profgramas Escolares a vazarem como um balão furado...
Eles precisavam era de uma fisga com banda muito largo que os pusesse a milhões de milhas de quaisquer decisão.
beijos
O grego só sabia que nada sabia; o português só sabe que sabe tudo, e então em banda larga é um poço da sabedoria...
Abraço.
o mais triste é vermos que há quem acredite e defenda toda esta demagogia, Samuel...
mas quando se olha para o país, transversalmente, acontece isso...
Trabalhei já em mais de uma escola parecida com esta aqui retratada.
A impostura e a demagogia nojenta sempre me arreliaram e revoltaram.
Pretende-se ignorância (para mais facilmente governar?) enquanto se leva a RTP a tiracolo para a pre-época eleitoral das criaturas rosas.
E o povo, ainda acredita?
Saudações do Sineiro.
Olha se tens ido a Lisboa! O que se perdia!Excelente texto.
Grande abraço
Daqui de longe, da terra das desigualdades, fico em duvida se este texto é obra puramente ficcional...Custa-me crer que exista em terras responsaveis pela nossa colonização esta desestrutura. Somos iguais em lingua e pobreza...E principalmente no cuidado dos que deveriam ser responsáveis pois se dispuseram e na verdade não o pretendiam?
As amigas e amigos, desculpem eu só responder à Dona Sra. Urtigão... mas ele veio de muito mais longe :)))
Cara amiga,
Na realidade, confesso, eu não sou um pequeno aluno de uma escola básica da aldeia... :)))
Abreijos
Que tristeza de pais, onde tudo é "feito" para desmotivar !
onde existe escolas nesse estado e ao lado disso fazem grandes autoestradas onde bmw's, Mercedes e Audi's andam a mais de 200 km/h...
muito triste....
Samuel, gostaria, se quizeres, que participasses no pequeno pedido, no meu blog..
Obrigada
um beijo
E que tal antes da banda larga em todas as escolas, o saneamento básico e a água canalizada em banda larga por todo o país?
Saudações em banda curta do Marreta.
Samuel,
Gostei muito do seu texto. Um "triste cenário", que faz parte da realidade.
Abreijos e um sorriso :)
Não é possível ? tu tens a certeza?
Isto acontece no Portugal que foi de Abril, e agora é do dito grego, que gosta de banda larga o magano!
Samuel só podemos brincar com tudo isto!
Abraço
E aqui está, preto no branco e com a ironia que morde, o retrato da política deste país!
Grande post, Samuel:))
Desprezem os professores, dignifiquem os computadores!
Meninos, limpem o rabo com o dedo e aqueçam-se nos microprocessadores!
Ministros deixem o governo e trabalhem em exclusividade para o Bill Portas
Um abraço banda larga
Por acaso, há uns tempos comentei a banda larga escolar assim:
(A propósito de uma crónica de António Barreto,
que ironizou com o facto de faltar tudo à escola
de Medrões, menos a banda larga.)
Somos de pura raça lusitana,
De indómita firmeza e dócil trato,
Herdeiros de um incerto Viriato
Que nunca andou aquém do Guadiana.
Damos a lã, para comprarmos “lana”,
Vendemos a cortiça ao desbarato,
E até produz mais fogo o nosso mato
Do que oxigénio o arvoredo emana.
Mas se nos incomoda, acaso, a vida,
E se nos pesa muito qualquer carga,
Basta alijá-la logo na subida.
Já ninguém usa lança nem adarga,
Os burros são espécie protegida,
E a escola de Medrões tem banda larga.
Daniel de Sá
:))))))))
Abraço
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