(Pina Bausch - Fot. Atsushi Iijima)
Nunca tive uma boa relação com a dança. Não danço. A minha indiferença por esse “fenómeno”, indiferença que por vezes roça a aversão declarada, cobre um vastíssimo leque de manifestações dançantes, que vão da atabalhoada abanação em qualquer festarola, da patetice dos concursos televisivos, da abominável e inestética “modalidade desportiva” das danças de salão praticadas por autómatos... até ao limite, a grande dança clássica ou contemporânea, mesmo naqueles casos em que realmente “admiro”, pelo menos, os extraordinários textos escritos em “psicologês artístico”, que ilustram os programas, fatalmente carregados de “interpelações”, coalhados de relações com “o outro” e com milhares de quilómetros de “viagens aos nosso interior”, sempre com escala nas várias estações e apeadeiros da “memoria colectiva”. Infelizmente, não poucas vezes, esses textos são a única coisa realmente criativa do evento.
O deserto algo agreste deste meu desamor pela dança sempre teve os seus oásis de frescura e prazer. De um deles, o grande Maurice Béjart, já aqui falei um dia. De outro, pelas piores razões, falo hoje.
A fragilidade, a timidez, a energia, a claridade das imagens, a elegância das “palavras”, que Pina Bausch juntava na sua maneira de contar histórias, sempre me pacificou, sempre me fez parar para ver, mesmo num qualquer acidental zapping de televisão... e ficar ali, como um miúdo que inesperadamente tivesse aberto um livro surpreendente, feito de histórias onde até eu gosto de dança. Onde numa distracção... talvez até dançasse!
7 comentários:
Olha se gostasses da dança e de dançar...
Um abraço.
Que texto mais bonito...
Abreijos
Ora aqui está uma coisa que eu gostaria de fazer, de excelência. Dançar.
Eu gosto de dançar, mesmo não sabendo, porque é bom. E reconheço
que a dança é arte, e que apesar de arte tem regras básicas e outras que são virtuosismo. E para ser belissima, exige esforço. Quase sempre.
Não sei Samuel se é sempre assim esta coisa que falo, do esforço.
Conheço cantigas e agora estas cantigueiras palavras, que são encantatórias e elegantes, e deslizam, parecendo fáceis.
Como as coreografias de Pina Bausch.
Subscrevo sem esforço e com desgosto a sua perda.
O que tem qualidade impressiona sempre quem tem sensibilidade...
Abraço.
A dança perdeu uma das suas melhores coreógrafas. Se alguns tiveram o "privilégio" de ver como mexia (nada de analogismos, com algum apelido) no teatro/dança, certamente terão saudades.
Uma pessoa mais, que deu muito aos outros e que iniciou "a viagem sem retorno". Uma Senhora, na verdadeira acepção da palavra.
O minha net não acede ao link de Pina Baush. Tb confesso que nunca fui dado a ver espectáculos de dança.Mas aquando da minha passagem pelo teatro, tive o privilégio de ver nascer uma coreografia, e fiquei deveras curioso.
Quanto a danças, sempre gostei de dançar.a minha passagem por um bairro social(onde se misturavam vários credos , nacionalidades e culturas), foi uma espécie de escola dos sentidos.
E samuel, um tango argentino bem acompanhado, é sempre um bom preliminar...
abraço do vale
Abreijos colectivos!
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