terça-feira, 7 de junho de 2011

Pós-reflexão (2) – Política em “dégradé”


Para mim, um grande aplauso – por exemplo, num espetáculo – é dizer quase só para mim “Boa!”... e ficar ali, batendo palmas apenas para não “fazer feio”, mas, por dentro, transbordando de satisfação pela visão da felicidade do artista. Se for eu o objeto do aplauso... então ainda é “pior”, tudo se resumindo a um arrepio de pele. Para mim, uma grande festa é memorizar o brilho de cada uma das caras felizes à minha volta... e fazer disso combustível para o caminho.
Seja como for, para saber tudo isso é preciso conhecer-me bem... o que pode induzir as outras pessoas (quase todas) a pensar que o meu «motivo de satisfação» com que celebrei o resultado eleitoral dos meus amigos da CDU, não é de facto uma celebração e uma festa... como se eu não entendesse em que condições esses resultados foram conseguidos.
Na verdade, no meio de uma campanha que classificava quase como “traição” toda e qualquer atitude que não fosse a de total subserviência ao acordo com a “troika”; que dava como inevitável a aceitação desse acordo; que classificava como “inúteis” todos os votos que não fossem no sentido da “maioria” exigida pelos mercados, tudo isto como condimentos extras para a antiga receita anticomunista, servida por uma comunicação social hostil, censória, sabotadora, vendida, mentirosa... no meio de tudo isto, dizia, é notável que a CDU mantenha a sua influência, a sua votação e aumente a sua representação parlamentar em um deputado. Isso é motivo de festa, sim!, por mais que a minha cara e os meus modos aparentem outra coisa.
Daí que seja delirante assistir ao esforço que alguns envidam para terraplanar a chamada “derrota da esquerda”. Em colunas de opinião e alguns blogues a coisa já toma proporções de alucinação. Um “blogueiro” (a quem não farei o favor de dar visibilidade) diz mesmo que «perante esta derrota da esquerda, se os dirigentes do BE e do PCP tivessem um mínimo de coerência... deviam fazer o mesmo que Sócrates». Como se Sócrates fosse parte da esquerda! Como se a derrocada indescritível da indefinição ziguezagueante de Louçã e do BE tivesse qualquer relação com o rumo definido e a consolidação (e reforço!) da CDU. Como se num colectivo - quando verdadeiramente o é - as vitórias, ou as derrotas, pudessem ser averbadas individualmente a este militante, àquela dirigente, ou aqueloutro apoiante.
Quanto ao resto... a paciência é revolucionaria e o adversário permanece exatamente o mesmo: a mesmíssima política de direita. Se o espectro político parece ter mudado de cor, como a imagem aí em cima ilustra, isso não passa de um efeito especial, da aplicação de um “filtro” diferente, de uma manipulação de imagem... ou, se quiserem, de uma simples ilusão de ética, perdão... ilusão de ótica.

17 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Mudam-se os nomes, não se mudam as vontades e as opções!!!!!

Um beijo.

Justine disse...

Vamos lá então arregaçar as mangas...e continuar o que estávamos a fazer ontem, e antes de ontem,com a mesma força e a mesma consciência e lucidez!

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Os Portugueses que têm votado, contribuíram para que hoje em Portugal pós 37 anos do 25 de Abril de 1974 (Dia da Liberdade) haja: 1 presidente da República do centro (...político); 1 primeiro ministro do centro (...político); uma maioria de centro - direita na Assembleia da República. Mais palavras para quê?.
Sim, também eu sinto muito orgulho na razão das propostas e do resultado eletoral da C. D. U. (Coligação Democrática Unitária), em 5/6/2011, como desde sempre.
A luta continua ... ...

Fernando Samuel disse...

Ética, ótica... para o caso tanto faz...

Um abraço.

Anónimo disse...

Samuel
Já hoje ouvi os trapaceiros da UE a dizerem que baixaram os juros para a Grécia e que vão renegociar a divida. Quando o mesmo se passar com estes troca tintas cá estamos para ouvir qual a desculpa que vão dar. Hoje nas noticias de rádio toda a manha ouvi que Portugal pagou juros mais altos pela "sua" divida e que a culpa era do problema Grego. Primeiro a culpa era de não pedirem o empréstimo externo agora a culpa é do problema Grego e a seguir do que será?. E comem estes ladrões todos os dias o pão amassado por quem eles roubam.
Vitor sarilhos

Graça Sampaio disse...

A Justine é que tem razão!

Ó Samuel, meu querido, com todo o respeito que tenho - e sempre tive pelo PCP - o menino queria pôr o país a ser governado pelo seu vetusto partido? Eu não sou pessoa de armar discussões políticas a não ser com os "tipos" do PSD, mas o menino lembra-se do que foi o PCP, puro e duro, a governar em 75?

samuel disse...

Carol:

Primeiro, adoraria ainda ser menino…

Segundo, se isso é respeitar o PCP… :-)

Terceiro, o PCP nem é "meu", nem "vetusto". A exploração do homem pelo homem, contra a qual os meus amigos comunistas lutam, tem infinitamente mais anos de existência.

Quarto, presumo que em 75 deva ter existido um governo do PCP, "puro e duro"… mas deve ter sido só para si, já que não consta de nenhum manual de História… pelo menos dos sérios.

Seja como for, mesmo sem ter o prazer de ter conhecido esse "governo do PCP", de 75 guardo muito boas recordações.
Devemos ter andado por lugares muito diferentes… :-))) :-)))

Anónimo disse...

Amigo! Viva a nossa luta, pois é pela nossa forma de agir que conseguimos ter mais um deputado! O que não seria se tivessemos a Comunicação "um pouquinho"ao nosso lado.
Saudações
Vicky

Antuã disse...

Este é o pluralismo que Soares nos deixou depois de combater o socialismo de miséria e nos ter dado este socialismo da abundância de fome, de doença e de ignorância.

Anónimo disse...

Caro Samuel,

Celebrar o resultado eleitoral da CDU, que teve menos 6 mil votos do que em 2009, não lhe parece estranho? Os únicos vencedores destas eleições, infelizmente, foram os partidos da direita. A esquerda, essa, com o PC incluído, levou um tombo de que não há memória. A direite teve, portanto, uma vitória eleitoral, uma vitória esmagadora. Esperemos, agora, que também não tenha uma vitória social.

Saudações

JPP

samuel disse...

JPP:

Não... não parece.
Na tal esquerda, se contarmos o PS, que perdeu meio milhão de votos, o BE, que perdeu 8 dos seus anteriores 16 deputados... e a CDU, que de facto perdeu 5000 votos, mas subiu de 15 para 16 deputados, só se pode dizer que toda a esquerda "levou um tombo monumental" se estivermos a fazer a média. Ora, isso não me parece um modo correcto de fazer as contas.
Sempre que o PS e o BE subiram as suas votações, não me lembro de algum deles ter incluído a CDU na vitória. É portanto justo que agora a CDU não seja incluída nas suas copiosas derrotas.

Saudações.

Anónimo disse...

De "reforço" em "reforço" até à evaporação final. Pronto, ok, há toda a eternidade para encontrar o paraíso. A malta vai-se f... com o lirismo de idiotas que apontam para eden? Em 37 anos chegaram a 7%. E temos todo o tempo do mundo...
PS: Eu percebo a técnica espertíssima de ajudar o inimigo a conquistar o governo deitando abaixo os rivais do coração: O poder é tóxico, logo o PSD e o CDS morrerão intoxicados.Avante!
Mexilhão cobaia

samuel disse...

Mexilhão:

Profundo!

caracois dourados disse...

Conseguimos eleger mais um deputado, mas a luta não pára ai, a luta continua! e tenho a certeza que a CDU vai lutar sempre até ao fim :D

Gostei do teu blog (vim aqui parar por causa das escadas monumentais, está fantástico esse post) vou estar mais atenta ao teu cantinho :)

Anónimo disse...

Talvez o maior erro de Louça , foi ter feito naquela altura , uma reunião com a direcção do PCP.

Anónimo disse...

Apesar de o PS ter perdido 500.000 votos e o BE 250,000 o PCP não conseguiu penetrar nesse eleitorado, e ainda perdeu 4.000 votos.

Pode ter garantido o seu eleitorado, mas está numa encruzilhada, não avança nem recua, estagnou.

Maria disse...

Os anónimos continuam a gostar muito do que escreves... e eu do que lhes vais respondendo, quando tens paciência :-))))))))