A ideia é tão simples, clara e justa, que consegue colocar de acordo, na sua essência e um pouco por todo o mundo, gente de variadas opções políticas:
O Estado garante o funcionamento de uma máquina fiscal que combata, decididamente, a fuga ao fisco e a fraude fiscal e cobra impostos aos contribuintes segundo os seus reais rendimentos e de forma progressiva. De forma progressiva, já que os 50 euros que correspondem a dez por cento dos miseráveis 500 euros que tantos milhares andam a ganhar mensalmente, custam muito mais a pagar do que os 5.000 euros que seriam dez por cento dos 50.000 que alguns ganham.
Depois é muito simples! O Estado pega nesse dinheiro e paga a nossa segurança, professores, saúde, todo o funcionamento daquilo que é público, que pode ir desde a mais sofisticada montagem de um produto cultural, até à limpeza do pequeno jardim da nossa rua.
Assim e naturalmente, sempre que alguém tem que colocar um filho na escola pública, seja no ensino básico ou na Universidade, sempre que utilizar um transporte público, ou sempre que, infelizmente, tiver que recorrer aos cuidados de saúde, o Estado não distinguirá uns cidadão de outros, não os classificará por convicções religiosas ou políticas, nem os discriminará por etnia, género, ou segundo o seu nível de rendimentos. Cumpridas as nossas obrigações, segundo as nossas possibilidades, todos somos iguais perante o Estado.
Parece simples, não é?
Não para um neoliberal! O neoliberal é uma espécie animal que fica com as tripas revolvidas quando vê que vai pagar o mesmo e ter direito ao mesmo tratamento, seja onde for, que é dado a um velho trabalhador com uma pensão de 300 euros mensais. Não porque ache que poderia pagar mais, como demagogicamente repetem, mas porque ficam roxos de raiva com o facto de o velho reformado, que ganha menos por mês do que aquilo que ele gasta em uísque e charutos, ou num único almoço, ter direito ao mesmo equipamento, ao mesmo médico, ao mesmo autocarro, ao mesmo metropolitano.
Para o neoliberal, todo o não rico é um ser defeituoso e merecedor de castigo. E desses, os mais pobres, eventualmente e no limite, apenas candidatos à caridade. Seja como for, devem ostentar publicamente os sinais e as provas da sua pobreza e necessidades, a fim de serem convenientemente “triados” e postos no seu devido lugar.
É neste contexto que eu entendo a subida desenfreada e brutal dos preços dos transportes públicos... a seguir "remediada" pela criação de vários escalões de pobreza, que os utentes terão que provar para terem direito a tarifas especiais.
Em vez de comentar, quero antes, num espírito "sempre construtivo" e dada a complexidade de se montar toda uma máquina destinada a discriminar os cidadãos segundo os seus rendimentos, de cada vez que comprarem um bilhete ou um passe... contribuir com uma sugestão que, muito provavelmente, poupará muito tempo, trabalho e recursos.
Poderá então ser assim: o fisco, conforme as declarações de IRS, fornecerá aos cidadãos (e seus familiares) pequenas estrelas de pano, que estes coserão nas roupas, em local visível. Conforme os vários escalões, poderão ser amarelas, laranja, rosa (porque não?, como homenagem aos que pavimentaram o caminho às medidas deste governo neoliberal). Desta forma simples e expedita, toda a gente será encaminhada para as diversas categorias de serviços disponíveis...
Eu sei, eu sei... isto parece-se muito com uma ideia já antes avançada por Adolf Hitler para distinguir os cidadãos mais tarde encaminhados para a morte... mas que diabo!, uma grande ideia é sempre uma grande ideia, mesmo que tenha sido inventada pelos Nazis... e para ser franco, não me parece que isso incomode grandemente os nossos neoliberais radicais.
12 comentários:
Sinto grande nojo pela desfaçatez e ofensa desta gentalha maldita (os neo-liberais, em orgia destruidora de tudo o que ainda cheirava a Abril.)
Estes são dignos de Salazar que instituiu o carro operário e já nem sei quem é mais canalha.
LFM
Caracterizaste extremamente bem a postura e pensamento dessa gente. Se não soubesse de antemão que não são aceites comentários meus num blogue duma certa senhora que escreve no Público copiava o teu post e colava-o lá, mas é como dizes, não a incomodaria certamente, o veneno e o preconceito corre-lhe nas veias, é disso que se alimentam.
Abraço.
Brilhante comentário
Conseguir-se-á inverter este rumo recorrendo apenas aos nossos "cravos" ?
Começo a achar que não !
O rumo que estes srs. estão trilhar vai obrigar a medidas muito drásticas para não cairmos numa situação de pobreza absoluta e generalizada.
Excelente post. Gostei muito. Parabéns.
Um beijo grande.
Abençoada má disposição.
Escreveste um excelente texto sobre o que, por outros lados - e sem essa "garra" -, chamam de serviços público em relações sociais que definem capitalismo. Melhor aqui, menos bem ali, assim vamos - alguns - formando o inesgotável puzzle do esclarecimento e da tomada de consciência. A começar, e a regressar sempre, aos próprios esclarecimentos e tomadas de consciência.
O teu "post" de nenhum modo foi extenso, o comentário já exagerou.
Grande abraço
Os SS estão sempre activos.
Certeiro e inatacável. Abraço
Como um texto «muito comprido» pode não ser nada - mas mesmo nada - comprido...
Um abraço.
Nem mais!
Abraço
A ANÁLISE É BRILHANTE E ESCLARECIDA COMO SEMPRE.
Como sempre, brilhante este texto e com um conteúdo tão cruel. Tão cruel como são esses canalhas neoliberais. Ai! Ai! os meus cravos de Abril!...
Mas, quer queiram quer não a luta vai ser grande.
Um abraço muito forte de quem não o conhece pessoalmente.
Vicky
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