quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Professores “precários” –Um testemunho



Durante anos o poder do bloco central, ou seja, da direita, fez o que lhe foi possível para tentar dobrar a força reivindicativa dos trabalhadores. Chamou-lhe o PS, pela boca do seu ministro Maldonado Gonelha e pouco depois da Revolução, “partir a espinha à Intersindical”. Nunca conseguiram!
Ainda assim, não desarmaram. Optaram por desregular o mundo do trabalho, criando o conceito do trabalho precário. Da insegurança. Do medo. E lá vieram os milhares de desnecessários contratos a prazo, o trabalho por conta de outrem mascarado de trabalho independente, a troco de recibos verdes, ou, no ensino, os professores “contratados”.
É uma multidão que passou a ter a sua liberdade condicionada, sabendo que uma simples manifestação, ou uma greve, podem significar o fim do seu modo de vida e do sustento da sua família. Uma multidão para quem a democracia começa a ser um conceito longínquo.
Numa altura em que a prioridade do governo para a Escola Pública... é a sua destruição, com o fim de favorecer o negócio do ensino privado, em que os professores serão tratados como simples empregados de uma qualquer empresa, ao serviço, exclusivamente, do lucro da empresa... os professores “contratados” são, mais uma vez, o elo mais fraco. Carne para canhão colocada à porta do despedimento puro e simples.
Chegou-me, ao post anterior, um comentário acompanhado de um pedido para falar neste assunto.
Não é costume (nem passará a ser) neste blog transcrever comentários, ou falar de assuntos “a pedido”... dado que, o mais das vezes, esses “pedidos” não passam de provocações disfarçadas. Não é o caso deste!
Para quê ficar aqui a teorizar sobre um problema, quando tenho o testemunho de quem o vive? Aqui fica:
“Caro Samuel, acompanho o seu blogue, tal como fazem muitos democratas. Por isso mesmo gostaria de lhe pedir para, se puder, falar também dosprofessores contratados.
Somos milhares em risco de desemprego no fim de Agosto - a juntar aos milhares que já ficaram desempregados. Muitos de nós têm quinze, vinte ou mais anos de serviço e agora somos corridos como se fossemos uns cães pelos fascistas que nos desgovernam. Durante anos já fomos roubados porque fazemos o mesmo trabalho que os do quadro e recebemos menos. Um ano colocado em Bragança, outro em Viseu, sempre sem qualquer estabilidade, a pagar casa, viagens, etc.
É verdade que ninguém nos mandou sermos professores, mas também é verdade que o estado tem a obrigação de vincular quem tem mais de três anos de serviço. Sempre fomos vistos pelos governos como mão-de-obra mais barata, apesar de termos as mesmas habilitações dos outros.
Agora os fascistas que salvaram o BPN e o Banif preparam-se para "poupar" despedindo milhares de contratados. Enquanto isso continuam os milhões para as escolas "privadas", que de privadas não têm nada porque são pagas pelo contribuinte. Escolas controladas pelos amigos. Recordo que a obrigação do estado em relação a essas escolas é de financiá-las quando não houver oferta pública. Isso não se passa. Nas Caldas da Rainha, por exemplo, as duas secundárias da cidade perdem alunos enquanto as "privadas" os recebem pagos pelo estado. Em outras zonas passa-se o mesmo.
Deixo aqui este alerta até porque os canalhas rejubilaram com a descida do desemprego há um mês, mas agora que ele vai subir com os professores que são dispensados vamos ver o que dizem. Certo é que estão a destruir a escola pública. Peço desculpa por permanecer anónimo, mas como os bufos do governo devem passar por aqui prefiro não arriscar.
Cumprimentos e obrigado.”

15 comentários:

Anónimo disse...

Comunas a falar na defesa dos que têm emprego, vocês querem os privados a trabalhar para vos sustentar, ideias comunas, defendem quem trabalha e quase não ganha para comer, não os têm emprego certo e ganham 2000 euros por mês, se são são professores e não têm emprego, façam como os outros do privado, arranjem uma escola privada e dêem aulas, não esperem pela obrigação do estado de lhes dar emprego, o Estado já lhes deu o curso à nossa custa. Jerónimo.

samuel disse...

Jerónimo:

Fantástico!

Já vi novelos de lá menos confusos... mesmo depois de terem servido de brinquedo ao gato! :-) :-)

Zequinha disse...


Jerónimo, você zurra muito mal. Nem para burro serve.

Aristides Rodrigues disse...

também há Jerónimos que, coitados, não dão uma para a caixa. É o caso deste coitadito! O problema é que são estes jerónimos que põem a canalha no poder!

Antuã disse...


A Educação pública não nos é dada, nós pagamo-la muito bem com os nossos impostos. O nosso dinheiro é que é roubado para os senhores que dominam jerónimos e outros animais com inteligência de galinha.

Anónimo disse...

Não costumo responder a anormais mas desta vez, ó Jerónimo, é só para dizer que, ou andaste a estudar à custa de alguém e presumes que todos fizeram o mesmo, ou és um recalcado. Eu tirei um curso e, se houve quem o pagou, foi o meu pai, com os seus impostos, com o seu esforço, pois trabalhou (para privados) desde muito novo e até morrer. Todos os professores pagam impostos. Recebem salário e então? Também queria que fossem escravos?
Maria Gomes

augusta disse...

Sim. "a obrigação do estado em relação a essas escolas é de financiá-las quando não houver oferta pública". mas não é isso o que se passa, em nenhum canto deste país. Está em curso o ataque mais que brutal à Escola Pública, à escola dos nossos filhos, à escola das portas que Abril abriu. Para que serviu o concurso? Fechar milhares de vagas deixadas pelos milhares de professores que se reformaram nos últimos 4 anos. 3 docentes colocados a nível nacional?!!!! E continuamos parados, calados, à espera do que aconteça? Um dia vem a velha e zás... e era uma vês uma nêspera...

Uma vergonha o modo como os professores contratados são tratados. explorados. descartados. o medo instalado. medo da sindicalização. até os descontos para os sindicatos, me chegaram a pedir para não serem feitos através da escola.. e e há os que esperam... esperam... e nunca são colocados. depois de tantos anos de trabalho, na aventura do faça turismo cá dentro, substituição aqui um mês... substituição a 500 km dois meses seguintes... quando começa a saber os nomes dos alunos agarra nas trouxas e zarpa... quantas vezes para o desemprego. Aqueles professores que mal acabam as aulas ficam sem contrato - até que meio ano depois - se tudo correr bem - arranjam mais umas horitas... e há aqueles que, se os pais ainda os podem ajudar, "ainda pagam para dar umas aulitas"... apenas pelo tempo de serviço...

Pobre país que tão maltrata que tão bem deveria tratar. Eu sei que tudo tem um objectivo, tudo tem uma explicação... e ela está aí bem à vista...

como bem à vista está tanta "inteligência" na cabeça de uma só pessoa... Jerónimo - este que por aqui hoje passou.

pela partilha, obrigada, Samuel.

Anónimo disse...

Caro Samuel, muito obrigado por ter colocado o meu testemunho no seu blogue e pelo seu apoio. Quanto ao Jerónimo, queria apenas dizer que anda mal informado. No meu caso, dou aulas há dezanove anos e nunca ganhei mais de 1100 euros, tal como qualquer professor contratado. Não me queixo, mesmo assim, porque gosto do que faço, embora considere injusta a situação de ganhar menos pelo mesmo trabalho, mas pronto. O meu maior problema, e o de milhares, é o que se avizinha. No ano passado já estive alguns meses sem dar aulas, este ano não sei como será. E é triste porque gosto do que faço, como muitos, e fiz alguns sacrifícios para poder continuar a dar aulas. Dei aulas pelo distrito de Coimbra, Castelo Branco, Portalegre e Lisboa, onde fiquei desde há uns anos pensando que teria mais possibilidades de colocação. Agora pergunto-me se valeu a pena estar longe da família pois o mais certo é não ser colocado ou ir parar, mais uma vez, a muitos quilómetros de casa. Quero ainda dizer ao sr. Jerónimo que, do meu salário, em quase todos os anos me saía uma parte para pagar casa, transportes, etc. Apesar de tudo, e tendo em conta a situação de muitos portugueses, tenho-me considerado com sorte: 1000, 1100 euros é mais do que muitos ganham e faço aquilo que gosto, foi para isto que estudei. Neste momento já estou desempregado ( os contratos por substituição terminam em Julho para não nos pagarem Agosto) e vamos ver o que traz Setembro. Volto a dizer: lamento se não tiver colocação: dar aulas é o que gosto de fazer, creio que o faço bem, foi para isso que estudei e é aí que me sinto realizado. Aos quarentas mudar é complicado. E mudar para fazer o quê, neste momento? imagine o Samuel que, aos 40 anos, lhe diziam que tinha de abandonar a música... imagina facilmente o que sinto, e muitos outros. E depois ainda há quem nos olhe com inveja e insista que não fazemos nada e ganhamos muito. Sim, para esses esta política do governo deve ser excelente. Para os outros, para os milhares de desempregados e precários a realidade é menos risonha. Mais uma vez, obrigado e abraço! (já agora, quando saírem as colocações digo-lhe se fui colocado ou não) E só mais uma observação: até este ano éramos colocados em Agosto, no final. Em 2013, para pouparem mais uns euros, só vai haver colocações em meados de Setembro. É pena que não sejam tão poupados em outras coisas. Abraço camarada!

Anónimo disse...

Agora, gritem pela Lurdinhas!...

Graciete Rietsch disse...

Querido amigo Samuel
Queria que soubesses quanto te admiro pelas tuas análises corretíssimas em todos os post que escreves e que denunciam, cada vez mais intensamente, o caminho fascizante que estes 30 e muitos anos de governos vêm percorrendo.
Ajudam-nos a reafirmar a necessidade de luta e a conservar a esperança que um dia se torará certeza.

Obrigada Samuel e um beijo.

samuel disse...

Anónimo (22:50):

E poderá dizer-me, caro anónimo simpatizante do PS, que razões me poderiam levar a "gritar pela Lurdinhas", para além de uma grave bebedeira, ou uma "paragem cerebral"? :-) :-)

Tenho pena… mas como tantos outros, o ditado popular que diz "atrás de mim virá quem de mim bom fará"… é muito estúpido.

Ninguém se torna bom por, eventualmente, ser sucedido por alguém ainda pior!!!

Saudações.

Medronheiro disse...


Eu gritava pela Lurdinhas para lhe dar um tiro nos miolos. Apesar do actual criminoso ela não deixou de ser criminosa.

Anónimo disse...

Quando nos aparecem Jerónimos pela frente com ideias que lhes estão inculcadas na mais profunda das entranhas, não me parece plausivel umataque directo à sua posição. Não deixa de ser a sua posição e não se contribuiu nada para esclarecer o Jerónimo (que já nãopode ter solução) mas para esclarecer quem do outro lado está a ler e tem ideias parecidas ou dentro da área do Jerónimo. Todas as ideias são possiveis mas para se poder esclarecer há que desmontar os conceitos que as produzem e explicar o outro lado da questão. Água mole em pedra dura tanto dá até que fura.

samuel disse...

Anónimo (11:00):

"...há que desmontar os conceitos que as produzem e explicar o outro lado da questão."


Tem toda a razão!

Pena, é que não se possa "desmontar" a máquina que produz esses conceitos... e deitar as peças fora! :-) :-)

Anónimo disse...

Jerónimo, "para burro só lhe faltam as penas mas, como o burro não tem penas já não lhe falta nada".
Bem haja Samuel pelo seu artigo e obrigada.
Saudações
Vicky