sábado, 11 de outubro de 2008

Hipocrisia em "rosa-parolo"



Os políticos e cidadãos comuns que não conseguem separar aquilo que pensam do que lhes foi ensinado nos bancos da igreja, tendem a só conseguir ver o casamento como um “sacramento” e o conceito religioso de família, como o único admissível e acima de tudo, “sagrado”.

Embora reconheça que o meu entendimento desta questão possa estar prejudicado pelo facto de não acreditar em praticamente nada do que o nacional-catolicismo vende, devo mesmo assim dizer que “sagrada família” houve apenas uma (segundo consta) e mesmo nessa, o primeiro filho foi concebido fora do casamento... mas adiante.

Fica claro, para quem quer ver, que o que estava aqui em causa, era o simples reconhecimento de um direito, com um ponto de dúvida na questão da adopção (para mim...  e apenas isso, um ponto de dúvida, discutível...), a cidadãs e cidadãos a quem a Constituição Portuguesa garante não poderem ser discriminados em função da sua orientação sexual, etc, etc, etc.

Que os deputados conservadores, que não se afastam quase nunca dos ditames do Vaticano (ou das outras Igrejas), uns porque sim, outros para parecer bem, gritem histericamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, parece-me perfeitamente natural, mesmo para aqueles (muitos) em que esse discurso serve apenas para esconder a homofobia troglodita e não poucas vezes, para esconder exactamente o que fingem atacar.

Que os auto proclamados socialistas façam a triste figura que fizeram, dizendo às escondidas que são a favor, mas votando contra, porque “este assunto ainda não está devidamente debatido na sociedade, não é consensual e está longe de ser uma prioridade para a maioria dos eleitores”... é trágico!

Primeiro, gostava que algum deles me dissesse quando é que um direito de uma minoria, um que seja, foi alguma vez consensual e considerado uma prioridade para qualquer uma das maiorias, que normalmente desprezam, discriminam, perseguem e oprimem essas minorias. Será que nunca reparam que a admissão de um direito de uma minoria é sempre arrancado a ferros à incompreensão, hostilidade, ou simplesmente à inércia e ao “estar-se-no-tintismo” que é a relação normal das maiorias com as minorias?

Segundo, gostava de deixar claro o que penso sobre as reais causas que levaram os “socialistas” a invocar as esfarrapadas desculpas que inventaram para adiar para “talvez um dia, quem sabe?” esta discussão, como as que já antes apontei e claro, a melhor de todas, o “facto de não estar no programa eleitoral do PS”.
Penso que são puro calculismo e contabilidade eleitoralista, portanto, hipocrisia... e como quase sempre na hipocrisia, cobardia politica.

E alguns deles, serão até capazes de ter a suprema lata de afirmar que os homossexuais é que são “uns maricas”!...

20 comentários:

BlueVelvet disse...

De facto, o argumento do Partido Socialista é ridículo, mas como penso fazer um post sobre este assunto, guardarei o resto da minha opinião para lá.
Assim, sempre tem que andar um bocadinho para lá ir ler, o que só lhe faz bem ao coração.
Bom fim-de-semana e abreijinhos

Maria disse...

É exactamente o que dizes, é uma questão de calendário político/eleitoral, logo hipocrisia total...

Abreijos

Pata Negra disse...

Se os heterosexuais se podem casar não vejo porque é que os homosexuais não o possam fazer. Mas pergunto a ambos:
-Para que é que o fazem? Porque é que submetem à autoridade do Estado a autenticidade das vossas relações?
Um abraço bem casado

Anónimo disse...

O velho do restelo falou de novo... Perdemos uma oportunidade de afirmação como país progressista e justo... Vergonha, Vergonha, Vergonha...

Abraço

Anónimo disse...

Há uma tribo da Amazónia cuja “cerimónia” de casamento consiste (ou consistia) no seguinte. O rapaz pegava na rapariga por quem estava apaixonado, fugia com ela para a floresta, uniam-se sexualmente e voltavam à aldeia. A mãe da rapariga dava-lhe uma grande descompostura, e ficavam casados.
Alguns defensores do casamento entre homossexuais atrevem-se até a dizer que o casamento só existe depois da Revolução Francesa. Um absurdo ou uma ignorância de espantar. Desde os primórdios da humanidade que o casamento existe, e, na maior parte dos casos, monogâmico, até nas tribos mais primitivas, como aquela da Amazónia. E sempre entre homem e mulher.
A discussão do “casamento” entre homossexuais está a desviar a atenção de outro problema que poderia ser resolvido ao mesmo tempo que este. Há muitas pessoas que têm necessidade de viver em comum (como irmãos solteiros, por exemplo), e que, por partilharem casa e mesa, deveriam ter as mesmas regalias sociais que as famílias baseadas no casamento tradicional. Ora a isto, vá-se por onde se for, não se pode chamar casamento. Que se lhe chame “família afectiva” ou qualquer coisa do género. É que, afinal, as palavras existem para designar coisas, acções, sentimentos, etc., e, por mais que se ande às voltas, nunca, mas mesmo nunca, uma união entre dois homens ou duas mulheres será o mesmo que tem sido o casamento, com milhares de anos de história. Na questão das palavras, sou inflexível. Para uso pessoal, entenda-se. Por isso nunca digo “géneros” em vez de “sexos”, pois que género remete para a gramática e sexo para a biologia. Mas como estamos no tempo de mudar os nomes à realidade (por exemplo dizendo “invisuais” em vez de “cegos”), obviamente sem mudar a realidade, chame-se-lhe o que se quiser.
Digo claramente que não me oponho, nem tenho nada que opor-me, à união de parelhas do mesmo sexo, mas não com o nome das uniões entre sexos diferentes.
Serei bota-de-elástico? Serei casmurro? Serei um troglodita? Pois prefiro ser isso tudo a alinhar em algo que me parece um disparate do tamanho de muitos a que o nosso tempo assiste.
Nada do que penso e disse tem que ver com preconceitos da Igreja Católica. Nem sequer com influência dela. Eu sou católico desde pequenino, já estudei a minha (e outras religiões) o suficiente para perceber que vale a pena pertencer a esta, e creio que não me fez mal nenhum, nem faço eu em nome da religião. O mal que possa fazer não resulta do que aprendi na catequese, mas de não ser capaz de pôr em prática essas lições.
Desculpai ter estendido o lençol das palavras.

Isabel Faria disse...

Tenho que concordar que a tua foto é bem mais bonita...só a acho bonita de mais. Digamos que também acho um cadito injusta para a rosa, mesmo parolo...
Quanto ao resto, é exactamente o que escreves.
Com a única alteração, que a vida me ensinou a perder a tua duvidazita.
Não que tenha experiência nos resultados da adopção de crianças por casais do mesmo sexo...mas porque tenho experiência em criar um filho duma forma que certamente as mentes retorcidas dominantes e trogloditas, não achariam "normal" nem "recomendável". Que deveria tornar-se primeiro numa criança infeliz, depois num homem cheio de traumas...e o meu filho é um tesouro. (desculpa a dose de mãe babada...mas, às vezes, acho que os exemplos da vida real, conseguem derrubar muitas barreiras e acalmar alguns pontos de dúvida que legitimamente se nos colocam perante situações que não conhecemos nem conhecemos os resultados).

GR disse...

Que dizer deste post?

Uma análise progressista e inteligente.

Quanto à atitude do ps, em 2009 (!) estudará melhor o problema, parolos reaccionários como a "rosa de cor parola",

GR

AC disse...

Considerar ser-se progressita quem apoie casamentos gay,é um disparate total.
A par com diferentes problemas congénitos,nos quais incluo a homossexualidade,para além de não ser não é uma doença contagiosa,não me afecta a existência destes híbridos...nada indica que não seja um defeito da "vasilha",para a qual,creio que a ciência e a medicina,um dia nos trarão a sua resolução.

Sérgio Ribeiro disse...

A primeira e (única!) vez que a televisão me entrou casa dentro, com todo o aparato de gravação de som e imagem, foi num regresso do Parlamento Europeu em que fizera uma intervenção sobre esta questão dos homossexuais poderem legalizar o seu viver em comum (chame-se-lhe o que quiser e há aí comentários acima colocando questões muito pertinentes). Lembro-me que, entre as respostas que dei a quem vinha à procura de escândalo e de tensões no interior do Partido - e que, depois, não foram públicas, claro... -, disse que eram questões do foro íntimo, que não aceitava discrinações e que o que condenava nas opções de sexo e afecto era o exibicionismo, fosse ele homo ou hetero.

Já falei demais... Só quero dizer que esta discussão na praça pública me incomoda por todos os motivos, em que avulta a palavrinha hipocrisia. Que tu, Samuel, tens sido obrigado a usar, e bem adequadamente, para reflectir a perversão da "democracia" em que vivemos, num permanente cálculo eleitoral e numa obsessiva filia pelo poder, ou pelo que julgam ser poder por estarem ao serviço... dos poderosos.

Desculpa a verborreia e um grande abraço (aquela da "sagrada família" a conceber fora do matrimónio é genial)

samuel disse...

Daniel

E eu lá quero saber do nome da cerimónia?!... Quero é que se solucione o problema, de preferência em paz e com debates inteligentes, que não venham acompanhados das condenações e castigos divinos que normalmente certos religiosos de todos os "modelos" (infelizmente) costumam acoplar às suas opiniões.
Conversando-se sobre este problema nos termos e com a elevação com que o fazes, o teu "lençol das palavras" é sempre bem-vindo.

Abraço

Fernando Samuel disse...

Bom texto.

Também acho que são essas as causas do voto contra do PS - e, assim sendo, é bem provável que essas venham a ser as causas que hão-de levar o PS a votar a favor... quando for «oposição»...

Um abraço.

F Nando disse...

A hipocrisia tem sexo? A hipocrisia "casa" com eleições e esperam muitos votinhos para continuarem a serem muito felizes e a malta que se lixe!

Anónimo disse...

Acho que as igrejas estão a ser burras ao serem contra os casamentos de homo-sexuais. parece-me que, nos tempos que correm, estes são os únicos a quererem casar-se. aproveitem sacerdotes caso contrário deixarão de ter cerimónias matrimoniais nos vossos templos.

éme. disse...

Depois de ler também o comentário do Daniel, pois é, é como volta a dizer aqui o Samuel: quero lá saber do nome da cerimónia! É preciso é dar solução à questão.
O que importa, por estes dias e com estes sujeitos a abordar o assunto, é mesmo a questão política: e este governo enjoa-me cada vez mais! É de um brincar à políticazinha que faz envergonhar qualquer cidadã/ão...

Anónimo disse...

"Este assunto ainda não está devidamente debatido..." É mais ou menos claro que não está. Penso que há mesmo muita gente por esse país fora (que não se reduz a Lisboa) a quem o assunto diz pouco ou nada ou discorda. Um debate alargado e honesto é indispensável antes da aprovação de qualquer lei.
"contabilidade elitoralista..." ai de quem a não fizer. Pode ser a favor do casamente de homossexuais e de outras coisas, se desprezar a dita contabilidade só aumento a probabilidade de nunca levar à prática o que defende. Próprio de quem prefere a discussão teórica a executar o que quer que seja.

samuel disse...

Caro anónimo das 16:23

Pode ter razão... mas quando um partido, neste caso o PS, já deu provas de defender, estando no poder, exactamente o contrário do que defendia na oposição, a desconfiança sobre as suas motivações é, no mínimo, justificada.

Volte sempre.

Lúcia disse...

Bom - eu ainda não percebi essa da discussão na sociedade- Há assuntos que até entendo. Agora isto. Simples: direita vota contra (como se espera), esquerda a favor (como se espera)e ponto.
Mas porque é que se há-de discutir se os homossexuais deverão ter direito a casar ou não?Posso parecer arrogante - mas os direitos deles devem ser assegurados. Está em Constituição, naõ está? Então discutir o quê?
AH! E este PS portou-se inclassificavelmente!

Susete Evaristo disse...

Bom o PS só pode querer matar-nos de riso.
A desculpa esfarrapada do PS sobre a votação é a melhor anedota que já me contaram!
E é caso para perguntar se noutras matérias o PS tem seguido sempre o seu programa eleitoral?

Anónimo disse...

Meu Caro Samuel
Da pátria una com um só povo do Minho a Timor, passou-se para a fragmentação das minorias. Bem sei que a ideia nem sequer é nossa, mas, pretendendo ser democrática, é uma perversidade. Definir minorias já é uma diferenciação, e toda a diferenciação corre o risco de criar subalternidade. Para isto lembro sempre a maneira como Érico Veríssimo respondeu a uma alínea que teve de preencher uma vez que foi à Universidade da Califórnia. Dela constava “raça”, e ele escreveu “humana”.
Gosto tão pouco do feminismo, por exemplo, quanto detesto o machismo. Quando foi discutida a primeira vez a questão das “quotas” num congresso regional do PS, nas Lajes da Terceira, quem aprovou essa lei foram homens e uma mulher. Eu fiquei do lado das que protestaram contra a declaração de menoridade mental ou intelectual ou cívica, seja lá o que for, que isso representava para as mulheres.
Aqui a nossa casa, nos tempos gloriosos logo a seguir ao 25 de Abril, é que apoiava quase invariavelmente todos os partidos menores pelos parâmetros regionais. Estiveram aqui o M.R.P.P., o M.E.S., o P.C., todos os que precisaram de descansar ou de meter uma bucha na boca. Foi aqui que o Mota Amaral e os que o acompanhavam se refugiaram numa noite em que as coisas não correram muito bem, e nem sequer tinham gasolina no carro.
Para finalizar, mais uma história. Um dia, minha mulher, que estava de avental e, como nesse tempo lá de vez em quando fumava um cigarro, sentou-se a descansar fumando um. Quando a viu nesse preparo, a nossa filha mais nova, que teria uns três anos, disse-lhe: “Estás como os homens.” A mãe já ia dar uma explicação para o cigarro, quando ela completou: “Com esse avental...”
Afinal, finalizo mesmo é com esta. A Santa Casa da Misericórdia da Maia, cujos actuais estatutos foram redigidos em parte por mim e aprovados por unanimidade quando eu era presidente da Mesa da Assembleia Geral, é a única que prevê, a nível nacional, que possam ser irmãos pessoas não católicas. Claro que o Senhor Bispo os aprovou também, pois isso faz parte do processo.

Orlando Gonçalves disse...

Este PS é " maricas" ...tem medo, não se assume, enfim são uma cambada de hipocrates.