Num “mundo ideal”, recheado de países governados por partidos com maiorias absolutas, sempre que algum dos partidos na oposição tivesse a ousadia de exigir uma Comissão Parlamentar de Inquérito, fosse sobre que assunto fosse, haveria sempre dois caminhos a seguir:
1. Se o previsível resultado do inquérito fosse simpático para o Governo da maioria, tudo bem, a CPI faria o seu caminho normal.
2. Se o previsível resultado do inquérito fosse antipático para o Governo da maioria, alguém, responsável pela propaganda do partido elaboraria previamente um “relatório”, que outro alguém ligado ao partido se encarregaria de apresentar no final da CPI e onde estariam vertidas as mais convenientes conclusões. Independentemente do que nela se tivesse passado, inquirido, ou esclarecido... e, evidentemente, independentemente da opinião dos deputados da oposição.
E pronto! Num “mundo ideal” o assunto estaria arrumado, já que é conhecida a indiferença olímpica dos cidadãos para com quase tudo o que se passa no Parlamento, incluindo, obviamente, as Comissões Parlamentares de Inquérito.
Então o que é que correu mal neste nosso “mundo imperfeito”, apesar da maioria absoluta? Foi o facto de, desta vez, a CPI ter dado nas vistas. Por ser sobre um caso que interessava os cidadãos. Pela prestação particularmente activa dos deputados participantes. Pelo triste espectáculo a que o país assistiu, dado pelo Governador do Banco de Portugal, que pouco mais fez do que balbuciar desculpas para a sua incompetência e para a inoperância da sua supervisão. Pelo degradante espectáculo dado pelo “esperto” manda-chuva do BPN, que aproveitou as horas de reflexão passadas na cela, para organizar os seus apontamentos... e tão bem o fez que, já seguro dos nomes que pode arrastar consigo na queda, dá-se ao desfrute de ser arrogante e insolente perante os deputados.
Mesmo nestas condições, o Partido Socialista não entendeu que não passaria sem ser notada esta sua votação solitária, num “relatório” que lhe dá jeito.
Mesmo no meio de mais esta trapalhada “socrática”, ainda consigo extrair desta estória pelo menos três coisas positivas:
1. O termo “supervisão” deixa de estar ligado ao conceito de “ver muito bem”, passando definitivamente para o campo da ficção científica, como um dos super-poderes do Super-Homem.
2. A alta e bonita deputada Sónia Sanfona (“sereia”, a fazer fá nesta notícia) fez uma grande entrada na ribalta do mediatismo político, mesmo não tendo sido da melhor maneira, como “madrinha” do relatório do PS.
3. Toda esta conversa, trouxe para as televisões, jornais e revistas, a palavra “Sanfona”, nome desse extraordinário instrumento musical, que para além de ser um objecto fascinante, luta há muitas décadas para escapar à extinção, só o conseguindo à custa do amor à música tradicional por parte de alguns grupos europeus, nomeadamente, franceses, espanhóis e um ou outro de Portugal, com especial destaque para um dos seus grandes “apaixonados” e também reconhecido construtor, Fernando Meireles.
Não se perdeu tudo!
14 comentários:
Excelente post! Pela análise do processo e do trabalho da CPI e pelas 3 coisas positivas que retiras da "socretina" posição - há quanto tempo não ouvia falar de uma sanfona...
Abreijos
Ora bem. Salva-se a Sanfona (instrumento musical).
Que por acaso tem um som fantástico.
Fui ver o link para o Meireles. Está completamente correcto excepto num pormenor, num comentário que é feito quase no fim da história do construtor, é que ... nos conservatórios portugueses já se ensina Guitarra portuguesa. Nem tudo é mau.
Sanfona e Gaita de Foles é que não, mas havemos de lá chegar.
beijinhos
Cantigueirovki, lá para o paraíso que te serviu de "Estrela Polar" havia partidos minoritários?!
Eram todos Sanfonas, ou a Sanfona nem pegava na caneta?!
José (um camarada)
Maria:
Há sempre qualquer coisa boa... :-)))
Sal:
Basta pôr os olhos em países que nem estão assim tão longe e na sua atitude para com a música e instrumentos tradicionais e populares. Então se falarmos especificamente da Região Autónoma das Canárias...
Como dizes, lá chegaremos.
José Staline:
Brilhante!
Saludos gerais!
A sanfona, se um dia for instrumento de estudo, será mais brilhante. Por agora vai dando uns acordes desafinados na Assembleia da República.
continuas com a tua beleza, está lindissimo.
quanto à sanfona, é um instrumento demasiado importante para tanta javardice.
um grande abraço!
uns tocam gaita outros sanfona, até há quem toque dos dois(o paulo preto dos gallandum- a gaita é dele , já a sanfona é emprestada)...
abraço do vale
A deputada Sanfona pode ser alta, sereia ou princesa, mas mulher que pariu um relatório daqueles, para mim é homem.
Acresce que altura não é sinónimo de beleza e Sanfona não fica por isso mais bonita; alguns centímetros a mais apenas lhe proporcionam uma maior capacidade de armazenagem de hipocrisia política; só isso. Ademais, quando Sanfona morrer, ninguém se lembrará mais da sua altura, e o tira-medidas lá de Alpiarça fará contas é ao seu comprimento.
Porém, a gaja é boa! E move-se! Move-se bem na chafurdice política onde chafurda este governo e o partido socialista.
@braços e DIAS TRANQUILOS!
espero que em Alpiarça a saibam vender como a tipa ceguinha que faz tudo o que o PS quer e não como a filha da terra que até aparece na TV e por isso é uma estrela
:) Que texto!:)
Por algum motivo sou contra as maiorias absolutas.
Beijos
Sempre admirei o trabalho pioneiro do Fernando. Quando nos cruzávamos em Coimbra trocávamos sempre um sorriso de cumplicidade. Quanto à outra rabeca nada a dizer, não passa de um peão néscio que o P.S. avançou com a lição já muito bem estudada. São cada vez mais. Cartão do partido, uma licenciatura, e lá vão eles para o parlamento com ares de quem sabe tudo. Uma miséria...
Abraço.
Valha-nos a publicidade à sanfona, o que dadas as circunstâncias já não é nada mau...
Um abraço.
a publicidade à sanfona ainda a leva a ganhar alpiarça, é o que é
Antuã:
Infelizmente...
António Hilário:
E ainda por cima, muito mais bonito que a homónima!...
Duarte:
A cultura é que nos salvará!
Dias Tranquilos:
Move-se... mas com movimentos tão óbvios...
Anónimo:
Isto de “aparecer”, por vezes resulta.
Lúcia:
Embora possa haver excepções... fazes bem!
Vermelho:
Artistas como ele é que são importantes e não estas aparições fugazes de vedetas políticas vazias.
Anónimo:
Espero bem que não!
Abreijos colectivos!
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