terça-feira, 14 de julho de 2009

Sem açaime





A estória é curta. Passou-se com Fátima Coelho, costureira na empresa Fersoni-Comércio Internacional, S. A., em Joane, Famalicão.

Fátima Coelho é delegada sindical e dirigente do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes. Tem apenas 38 anos de idade e desses 38 anos, 25 foram passados a trabalhar sempre na mesma empresa. Esta empresa esteve habituada, durante anos e anos, a não ter operárias sindicalizadas, não suportando, por isso, a presença de uma delegada sindical e muito menos os frutos do seu trabalho entre as companheiras.

Em 2007 foi despedida. Com motivos tão despropositados que o Tribunal de Trabalho de Famalicão considerou o despedimento nulo.

Reintegrada na empresa, nunca mais teve descanso. As perseguições e humilhações públicas, são constantes e de toda a ordem. A última humilhação foi pagarem-lhe o ordenado em dinheiro, num saco de plástico contendo 333 moedas de um euro, mais uma de 5 cêntimos. Era o ordenado deste mês de Junho... ficou ali, exposta ao gozo, quase meia hora, a contar moedas.

A “justificação” foi o facto de ela não ter conta no mesmo banco da empresa. Ficam três perguntas:

- Quanto estofo é preciso ter e quanta necessidade deste “fabuloso” ordenado de 333.05 euros, para suportar isto?

- Em que altura da nossa vida democrática é que este tipo de “empresários” se convenceu de que pode fazer seja o que for, impunemente?

- Quem atiraria a primeira pedra a um operário que, nestas circunstâncias, se esquecesse momentaneamente das boas maneiras e rachasse "as hastes" deste patrão de alto a baixo?

25 comentários:

Maria disse...

Devem ter começado a "ensaiar" logo em 1976...
Já disse por aí que no lugar dela eu me enganaria a contar as moedas, e repetia a contagem pelo menos 10 vezes. No horário de trabalho...

Abreijos

oasis dossonhos disse...

Tão triste, tão miserável este quotidiano, tão parecido com os antigamentes. Sufoca-se aqui todos os dias. Como é possível que o meu amigo J - ambílope - marido de uma cega e pai de um rapaz sem íris, - esteja ainda a trabalhar num serviço de risco infeccioso - depois de, enquanto desempenhava as suas tarefas profissionais, ter perdido um olho?
Sufoca-se aqui todas as horas...É preciso que isto mude e as pessoas jamais voltem a ser tratadas como gado.
Luís

anamar disse...

Imprssionante...
Abreijo

Pata Negra disse...

Por trezentas e trinta e três moedas dum euro
Foi decretada a tua humilhação.
Um patrão que não suporta a tua altivez
De fronte digna capaz de dizer NÃO
Quer dobra-te à sua pequenez
Incapaz de entender o que é ganhar o pão
Neste universo macabro de surdez.

Trezentos e trinta moedas dum euro o que são?
São dores infindas de quem não se sustenta,
De quem vive morrendo e se aguenta
Mas a espinha não dobra, isso não,
Porque a alma não se compra por tal preço
A quem sempre se opôs à servidão.

Trezentas e trinta e três moedas que envergonham
Se vergonha houvesse em tal patrão.
DO Blogue Silêncio Culpado

GR disse...

A entidade patronal do nosso país é constituída por gente sem o mínimo de formação académica e moral.
Como é possível esta humilhação? Será que este patrão não terá vergonha de pagar tão pouco a quem lhe dá fortuna?

Este é mais um post que terá que ser enviado por mail.

Bjs,

GR

Miguel disse...

Era não deixar nem um dente para contar a história.

do Zambujal disse...

O ódio ao trabalhador(a) digno(a) que não se deixa humilhar, que tem direitos e os defende. Um saco com 333 moedas de 1 € e mais 50 cêntimos que é - deve ser! - um emblema de uma luta que pode ser, que tem de ser, que está a ser ganha em cada luta. E em cada "post" como este.
Um grande abraço

alex campos disse...

Em que altura da nossa vida democrática... deixa cá ver... bem, os empresários sempre foram assim, não é? mas é verdade que se excedem mais um bocado quando o "ps" está no governo, lá sentem as cosras quentes.

um abraço

J.S. Teixeira disse...

É sem dúvida uma situação vergonhosa. O mais engraçado é que ninguém pode fazer nada contra estes patrões que usam e abusam do poder para axincalhar os trabalhadores que em troca de um mísero ordenado lhes enchem os bolsos. Os senhores do dinheiro continuam a governar este país a seu bel prazer sem darem justificações a ninguém.

Só num país de terceiro mundo se tem de sofrer este tipo de injúrias por tão pouco dinheiro. Dobro-me perante esta senhora e pela coragem que tem para aguentar esta situação.

Já agora, vejam o artigo sobre a "barraca" do sindicato amarelo SINTAP na Câmara Municipal do Seixal no blogue O Flamingo.

Lúcia disse...

Esta atitude indecente que relatas só vem comprovar a culpa de deternminados empresários sem moral nem respeito por quem lhes dá o dinheiro a ganhar, na crise que se atravessa. Se dúvidas houvesse...
Beijos

Cid Simões disse...

Proponho que enviemos um postal ou carta manifestando a nossa solidariedade com esta corajosa sindicalista. Qual o melhor endereço?

Carlos A. Augusto disse...

É uma situação pungente. Pena é que não mereça honras de "primetime" nos telejornais.
Seria claro tudo menos um documentário de "silly season", daí que talvez nunca tenhamos o privilégio de o ver nas tv's.

zé do boné disse...

"Quanto estofo é preciso ter e quanta necessidade deste “fabuloso” ordenado de 333.05 euros, para suportar isto?"
-E depois ainda chamam malandros aos trabalhadores - que não querem trabalhar que são uns privilegiados.

é mandar um email a Saramago@antonioáscostas.ps
pode ser que escreva algo sobre A viagem a loja dos trezentos. Por exemplo.

vermelho disse...

A Senhora também não deve ter passado neste teste psicotécnico:

Um sujeito está numa entrevista para emprego. O psicólogo dirige-se ao candidato e diz:
- Vou fazer-lhe o teste final para a sua admissão.
- Perfeito! – diz o candidato.
O psicólogo pergunta:- Você está numa estrada escura e vê ao longe dois faróis emparelhados a virem na sua direcção. O que acha que é?
- Um carro. – diz o candidato.- Um carro é muito vago. Que tipo de carro? Um BMW, um Audi, um Volkswagen?
- Não dá para saber, não é?- Hum... – diz o psicólogo, que continua – Vou fazer-lhe outra pergunta: Você está na mesma estrada escura e vê só um farol a vir na sua direcção. O que é?
- Uma mota – diz o candidato.- Sim, mas que tipo de mota? Uma Yamaha, uma Honda, uma Suzuki?
- Sei lá, numa estrada escura, não dá para saber… (já meio nervoso)
- Hum..., diz o psicólogo. Aqui vai a última pergunta:
- Na mesma estrada escura você vê novamente um só farol, menor que o anterior, e você apercebe-se que vem mais lento. O que é?
- Uma bicicleta.
- Sim, mas que tipo de bicicleta? BTT, estrada, passeio…? - Não sei.
- Lamento, mas reprovou no teste! – diz o psicólogo.
Então o candidato dirige-se ao psicólogo e diz:
- Interessante este teste. Posso fazer-lhe uma pergunta também?
- Claro que pode.
- Você está à noite numa rua iluminada. Vê uma mulher com maquilhagem carregada, vestidinho vermelho bem curto, a girar uma bolsinha… o que é?
- Ah! - diz o psicólogo - é uma puta.
- Sim, mas que puta? A sua irmã? A sua mulher? Ou a puta que o pariu?

Abraço!

Anónimo disse...

E depois os Choras e outros que tais, Saramagos e Carmo vão tecer loas aos xuxalistas de m....
Abaixo a exploração capitalista f.p.
Viva o nosso glorioso partido sindical e comunista.
C. Brita

Fernando Samuel disse...

Este não é um caso nem do terceiro, nem do segundo, nem do primeiro mundo: é um caso do mundo capitalista.

Um abraço.

Antuã disse...

Assim se vê até onde podem chegar os F da P.

João Carlos disse...

bom dia a todos.
estou de volta depois de alguns problemas de saúde (estive internado no hospital com problemas de coracao) e outros de informática.

este extracto foi retirado dos comentários a uma noticia do Público sobre a nova Lei de Estrangeiros.

Chega para qualificar os patroes portugueses?

Os Portugueses estejam onde estiverem sao sempre reconhecidos como bons trabalhadores. Só em Portugal é que nao!

14.07.2009 - 19h16 - anónimo, lagos
Eu sou proprietário de um café, das 7h às 24h, e emprego 2 brasileiras e 2 são-tomenses. Só lhes posso pagar 250 € mas são bastante eficientes. Estou a pensar em legalizá-las até porque são muito trabalhadeiras. Infelizmente não posso pagar mais mas no final deste ano vou dar a cada uma 10€ de aumento. São muito melhores que as calonas das portuguesas.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Sabe-se quem dá a "benção" a estes desmandos sócio/comportamentais.
Como o cão que aparece na imagem, a Direita lenta e pacatamente arranhou, depois uns saltitos, depois começou a rosnar, e agora já morde, com permissão de um (Des)Governo dito Socialista (!!??).
Uma completa vergonha ...

Anónimo disse...

chama-se a isto fascismo !
Que a operária não vergue!

Anónimo disse...

Caro amigo Cantigueiro, costumo ler regularmente o seu blog de que aliás gosto muito - dou-lhe os meus parabéns! Não tenho por hábito fazer comentários, mas este post, faz-me ferver!
Não conheço a senhora em questão mas quero deixar-lhe aqui toda a minha solidariedade e mais profundo respeito, porque se me fizessem tal coisa, olhe que não sei se não me passava da cabeça...

Lutemos para que isto mude!
Eu ainda acredito que o sol vai nascer para todos nós :)

Ana

Anónimo disse...

Caro amigo Cantigueiro, costumo ler regularmente o seu blog de que aliás gosto muito - dou-lhe os meus parabéns! Não tenho por hábito fazer comentários, mas este post, faz-me ferver!
Não conheço a senhora em questão mas quero deixar-lhe aqui toda a minha solidariedade e mais profundo respeito, porque se me fizessem tal coisa, olhe que não sei se não me passava da cabeça...

Lutemos para que isto mude!
Eu ainda acredito que o sol vai nascer para todos nós :)

Ana

samuel disse...

É bom ver que não estamos todos anestesiados... e que ainda há casos que nos tiram do sério.
A propósito da solicitação do Cid Simões, parece-me que o sindicato mais à mão para fazer chegar notícias de solidariedade será:

Sindicato Têxtil do Minho e Trás-Os-Montes
Vila Nova de Famalicão - Joane
Largo 3 Julho Joane
4770-206 JOANE


Abreijos colectivos!

duarte disse...

EU CÁ OPTAVA POR TRANSFORMAR O PATRÃO NUMA SLOT-MACHINE. ADIVINHEM ONDE IAM PARAR AS 334 MOEDAS?
e sei lá, talvez ainda me saisse um já?!quepote!!!
abraços solidário e revoltoso.

N.Guerreiro disse...

Excelente Post......

Esta não é mais do que uma situação num mar delas....ou ocenao.

Pois eu acho que aqui,talvez seja inexpriençia minha,ou até mesmo alguma juventude no sangue....mas acho que quem tanto se abaixa o cú se lhe vê.

Eu também sou pai...tenho 2 filhos que ainda não compreendem quando não há pão mas recuso-me...recuso-me a dar o privilégio do gozo na minha cara...já passei por algumas e sempre pensei que enquanto tivesse duas mãozinhas para trabalhar,nenhum FDP me iria gozar desta forma.

O meu avô,descarregava noutros tempos bem mais dificeis,sacos de pirite na antiga cuf dos barcos que vinha abastecer a fábrica...por vezes,nem a camisa conseguia aguentar no ombro,já feito em bolha de tanta pedra por ali passar..esse sim ,coitado,era obrigado a ""engolir estes sapos"" para maneter o pão dentro de casa....
Mas agora pergunto eu...
De que revolução falam voçes todos....da imaginaria que apenas nos prendeu á ilusão que certas coisas desapareceram de vista mas continuam bem escondidas....
Pois este servo de sua mãe,não tolera estas injustiças....

Contava a minhas moedinhas,ria-me na cara dele....fazia-lhe bem o percurso....quando nos apanhessemos sózinhos,garanto-vos que recebiria 1 aumento...pois a vida consegue ser por vezes 1 inferno..
Contra canalhas,a ética não é bem vinda...não é a forma de luta mais digna,mas os canalhas não entendem outra linguagem...infelizmente.

A LUTA SAIRÁ Á RUA....