sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A terra (com)prometida




Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egipto.

Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.

(Primeiro livro do profeta Samuel, Capítulo 15, Versículos 2 e 3)


Esta pequena passagem bíblica é bem representativa do espírito que perpassa por todo o Velho Testamento (salvo poucas e poéticas excepções misturadas com algumas fábulas), onde reina pelo terror um omnipresente e omnipotente “Deus dos Exércitos” cuja agenda diária inclui invariavelmente algum castigo para os “seus” e para os todos os “outros”, indiscriminadamente, doses maciças de pragas, “efeitos especiais” no Mar Vermelho, gente passada ao fio da espada, aniquilação de cidades inteiras, chacina de primogénitos, etc, etc... ad nausea.

Que pessoas, no Século XXI, queiram dar crédito a textos escritos há milhares de anos, em regiões assoladas por lutas tribais, num tempo de grande violência, sede de sangue e sacrifícios humanos (desde que dos outros) e de animais, textos escritos, como dizia, por homens que eram o fruto natural desse meio e que (mais uma vez há excepções) eram, mesmo enquanto líderes, grandes canalhas, aldrabões, traidores, mulherengos e sanguinários e que têm como única “desculpa” para os livros que legaram à Humanidade o “facto” de terem sido ditados ou inspirados pelos deuses... é um direito que lhes assiste, cada pessoa lê e acredita no que quer.

Que algumas dessas pessoas continuem a fazer uma interpretação literal destes textos, transpondo-os, inalterados, para os nossos dias, tentando aplicar os seus conceitos e ditames, é no mínimo revelador de alguma “indigência intelectual”.

Dramático, é o facto de alguns desses “indigentes” estarem à frente de igrejas, seitas, países e terem poder suficiente para transformar aquilo que podia não passar de um anacronismo ridículo, num pesadelo para milhões e milhões de seres humanos, diariamente vítimas de chacinas, perseguições, discriminação e sistemática violação de direitos fundamentais.

Voltando (mesmo) ao princípio: Haja luz!

Adenda: Tenho vários amigos que me dizem terem Deus. Eu, embora não acredite em Deus, acredito nesses amigos... mas escutando-os, vendo a sua vida e os seus exemplos, parece-me bem que não será exactamente o "Deus" desta história.

15 comentários:

Anónimo disse...

Belo trabalho Samuel. Como já disse as religiões acabam sempre por ser criminosas. Se deuses existem não são os das religiões. os meus contemporâneos, que pensassem, bastava-lhes ter o 3º. ano do Liceu para concluir que as religiões e os deuses são fruto da imaginação do Homem e estão subordinadas ao seu grau cultural. Infelizmente hoje há quem tenha a mentalidade de há muitos milhares de anos. E o pior é que dominam o Mundo. Todavia, lutaremos.

Anónimo disse...

É com a benção de deus, é com aquela "luz divina" que fazem espirrar o sangue naquela região.

duarte disse...

é a crise...de neurónios.
neste momento a tendencia é para a radicalização.
E nimguem escapa, o zé está radicalmente burro, o aníbal está radicalmente nulo, o mario está radicalmente senil,a manela está radicalmente insana, o paulo está
radicalmente desaparecido(foi dar uma volta de submarino)...
o ratzinguer está radicalmente homofóbico, e pronto ...
E eu estou(quase) radicalmente pobre.
abraço sem radicais

Maria disse...

A memória dos homens é curta...
... e esta "coisa" das crenças é complicada...
Excelente pois, mais um! (andas inspirado!)

Abreijos

Miki disse...

Que este novo ano, seja para ti como a SAKURA, que quando chega se mostra na plenitude do nascimento das suas flores!

Kisu

Camolas disse...

No excerto do "Velho testamento", não vejo senão O velho bode cornudo, De_Eus nem sombra. Deve ser por isso que o testamento é velho.
"...o novo sempre vence..."
(parte do texto de uma canção de Elis R.)

Aurora disse...

Números, 33 50-56

50 Onde o Senhor disse a Moisés:
51 Ordena aos filhos de Israel, e dize-lhes: Depois de passardes o Jordão, entrando na terra de Canaan,
52 Exterminai todos os habitantes deste país: quebrai os seus padrões, e fazei em pedaços as suas estátuas, e deitai abaixo todos os seus altos,
53 Purificando a terra, e habitando nela: porque eu vo-la dei para a possuirdes,
54 A qual repartirei entre vós por sorte. Aos que forem em maior número dareis a maior porção, e aos que forem menos, porção mais pequena. Cada um receberá a sua herança, conforme o que lhe cair em sorte. E a repartição se fará por tribos e por famílias.
55 Se vós não quiserdes matar os habitantes do país, serão para vós, os que ficarem, como uns cravos nos olhos, e umas lanças nas ilhargas, e eles vos darão que fazer, na terra da vossa habitação.
56 E todo o mal que eu tinha resolvido fazer-lhes a eles, o farei a vós outros.

E assim os sionistas têm vindo a cumprir as ordens de Jeová. Amen.

BlueVelvet disse...

Excelente texto.
Linda imagem.
Título apropriado.
O ano novo ainda o deixou mais acutilante.
Abreijinhos

Anónimo disse...

Samuel, o que acha do novo acordo ortográfico da língua portuguesa? Gostaria de ver publicado aqui no Cantigueiro sua opinião sobre o assunto. Abraço.

Fernando Samuel disse...

O deus desta história é um velho mau, vingativo, rancoroso, perverso - não é o deus desses amigos, de certeza...



Um abraço.

Rosa dos Ventos disse...

Dizes bem:
Fiat lux!

Abraço

Anónimo disse...

Acredito que existe Deus e o Demónio,mas não como entidades exteriores ao ser humano.Nós somos capazes de dar o melhor de nós aos outros,mas tambem somos capazes de sermos monstros.Procurar a justificação dos nossos actos nos ditames divinos,seja o Deus dos Judeus ou o Deus dos Muçulmanos é uma forma de cobardia e uma tentativa de enganar os outros com as nossas acções.

oasis dossonhos disse...

TEU NOME, PALESTINA

Teu nome, Palestina
Corre o Mundo nos
Lábios solidários e
Nas mãos que anseiam
Cidades de crianças
Sem medo.

Teu nome, Palestina
Resiste entre escombros
E rios de sangue
Na custosa esperança
De vencer o tempo
Das flores esmagadas.

Teu nome, Palestina
Também faz parte de mim:
Não é possível sorrir
Se choras; não consigo
Cantar se morres.

Teu nome, Palestina
Lembra a luta dos que buscam
Na liberdade o afago da paz
o voo da sabedoria
o elixir da vida contra
os tanques e os canhões
dos opressores.

Teu nome, Palestina
É a lágrima e o grito
De um povo sufocado
Pelo roubo do futuro
Sempre adiado.

Teu nome, Palestina
É uma rosa de cinzas
Sonho teimoso
No coração dos que não
Se rendem dos que não
Se vendem dos que não
Desistem!

Luís Filipe Maçarico 2002

Ana Loura disse...

Felizmente que entretanto Jesus nasceu e foi escrito o Novo Testamento.

Beijinho

Anónimo disse...

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