quarta-feira, 8 de abril de 2009

Voltando aos medicamentos genéricos



Antes do mais, começar por explicar a fotomontagem de hoje. A senhora, primeira a contar da esquerda, é a Dra. Ana Jorge, ministra das doenças, aqui apanhada num intervalo das filmagens do Harry Potter. O segundo é o Dr. Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos e que serve basicamente para nos mostrar que a nossa geração não foi particularmente feliz com o “Pedro Nunes” a que teve direito, por comparação com o pessoal que viveu em meados do Século XVI. O terceiro, não sei quem é. O quarto é o Dr. João Cordeiro, presidente da Associação Nacional das Farmácias.

Agora voltando para trás. O Dr. João Cordeiro preside ao negócio das farmácias, negócio esse, não poucas vezes, de contornos algo “mafiosos”, eternamente nas mãos de famílias que passam os títulos de farmacêuticos de pais para filhos, de geração em geração. Trata-se de um negócio em que é virtualmente impossível entrar, se não se pertencer a uma das “famílias” que já estão no ramo e que quando, por algum acidente de percurso, muda de mãos, por mais aparentemente insignificante que a farmácia em causa pareça, o trespasse atinge valores absolutamente milionários. Por uma qualquer tentação populista, somada ao interesse que a sua associação e (ao que parece) ele próprio têm na distribuição e fabrico de medicamentos genéricos, resolveu iniciar uma cruzada contra as receitas “blindadas” em que os médicos não permitem a troca de medicamentos de marca, por genéricos, informando que as farmácias passarão a fazer a troca, mesmo contra a vontade dos médicos. Joga com a miséria das pensões de reforma de milhares de doentes, que assim veriam bastante reduzidas as suas despesas mensais. Joga ainda com o facto de o Estado poder poupar ainda muito mais dos que os doentes, nas comparticipações.

O terceiro, continuo a não saber quem é, nem o que está a fazer aqui.

O segundo, ataca as farmácias e nem quer ouvir falar na possível deterioração da bela relação que existe entre uma boa parte dos médicos, os medicamentos de marca, as férias e congressos em ilhas exóticas... com tudo pago pelos laboratórios farmacêuticos.

A primeira, a ministra, quanto mais não seja para nos mostrar o real poder que tem a indústria farmacêutica e quem é que manda, realmente, no negócio da saúde, veio imediatamente pôr-se ao lado da Ordem dos Médicos, ameaçando não pagar as comparticipações do Estado às farmácias, mesmo sabendo que o Estado pouparia milhões de Euros que poderia investir em melhores serviços de saúde e, sobretudo, que a troca dos caros medicamentos por genéricos a metade do preço, se devidamente acompanhada, não implica nenhuma espécie de risco para os doentes.

No meio disto tudo, o terceiro, que não sei para que serve, mas alguma coisa deve fazer, já que os outros lhe chamam “chefe”... não diz nada.

Entretanto, os muitos milhares de doentes, na esmagadora maioria idosos pensionistas com doenças crónicas e portanto, dependentes das medicações, já poucos ou nenhuns impostos pagam, já poucos votos rendem, já pouca voz têm para gritar a sua indignação. Para o poder, aqui representado por estes trastes, é como se já tivessem morrido.

11 comentários:

salvoconduto disse...

Já que tens o Photoshop à mão, repara que tem lá aquilo que se chama "eraser tool" ou borracha, como queiras, porque não pegas nela e começando pelo terceiro, e fazes uma limpeza na imagem?!

Abraço.

BlueVelvet disse...

Eu bem digo que este blog anda com uma desgraça de fotografias.
Não sabes usar o photoshop?
E não tenhas a menor dúvida que a tua última frase é verdadeira.
Basta ver como tratam os idosos nos hospitais.
Uma tristeza.
Abreijinhos

Maria disse...

Não é justo, para os meus vizinhos, eu estar a rir-me desta maneira a esta hora...
Comecei com o Harry Potter. Continuei com o "terceiro".

Agora, que me passou a fase hilariante, digo que este post é tremendo. Põe o dedo na ferida (sobretudo naquela dos "medicamentos de marca, as férias e congressos em ilhas exóticas... com tudo pago pelos laboratórios farmacêuticos."

É a mais puar verdade! Infelizmente.

O terceiro, espero que continues sem saber o que está aqui a fazer, LOL

:)))

Abreijos

Orlando Gonçalves disse...

Como eles não precisam, pois o dinheiro que "roubam" chega-lhes para tudo e muito mais, quem se lixa é sempre o povinho. Cambada de chulos, parasitas da sociedade.

duarte disse...

Pois neste país de faz de conta, já não são só os velhinhos a terem de fazer contas à (pouca)vida...de dia para dia vai aparecendo um exército de novos pobres.
abraço do vale

alex campos disse...

E ninguém me diz quem é o terceiro?
Faz-me lembrar qualquer coisa parecida com friporte, mas não chego lá...

vermelho disse...

Ó Samuel, o terceiro é o Pinóquio caramba! Não te lembras que foi criado pelo Gepetto? Ou terá sido pelo Gutepo? Ah, já me lembro, foi pelo Guterro!
Contra as multi-nacionais da farmacêutica, os maiores traficantes de droga do mundo, ainda por cima com actividade legalizada, o Pinóquio nem os olhinhos mexe para não darem por ele. A Merck, Sharp & Dome (M.S.D.), por exemplo, que é uma das maiores a operar no mundo, apenas deixa em Portugal 10% da sua facturação. Estás bem a ver? 90% directamente para os E.U.A. sem passar pela casa da partida! E tudo porque a medecina ocidental se baseia não na prevenção, mas sim no corte e costura e droga para cima com força. Nesse campo temos mesmo muito a aprender com a medicina oriental, mas o valor do mercado não deixa. São muitos milhões...
Abraço.

Fernando Samuel disse...

É claro que para esses fotografados o que menos conta são os muitos milhares de doentes - ainda por cima idosos...

Um abraço.

João Carlos disse...

tens toda a razao.
Já lá vai o tempo dos aumentos cirúrgicos das pensões de reforma em ano de eleições.
O Ps do Pinóquio já está noutra dimensão do capitalismo corrupto.

É negociata atrás de negociata.

Continuo a pensar que este PS é a verdadeira politica de esgoto.

samuel disse...

Para todoas e todos:
Talvez se retirássemos "o terceiro" de cena... não resolvia tudo, mas melhorava bastante o ambiente.


Abreijos colectivos!

Manuel Mesquita disse...

Boas, Não sou profissional na área da saúde, nem tenho nenhuma relação com a indústria farmacêutica. Tenho desenvolvido e aprovado pela ACSS um sistema de apoio à prescrição electrónica de medicamentos que por Principio Activo ou Marca Comercial ordena as embalagens pelo menor preço para o utente do SNS (por embalagem ou Dose).

A base de dados é actualizada ao dia pelos dados do INFARMED.

Sobre a questão dos preços basta pesquisar e ver qual o de menor custo. (clique com o rato direito na linha da embalagem dá toda a informação do medicamento segundo o INFARMED).

Espero que seja útil (é uma aplicação Java. Tem que ter java instalado e se estiver por detrás de um firewall a porta 4899 de TCPIP tem que estar disponível, para o acesso ao servidor.).

O link é http://72.167.60.11/JDESIGNERPRO/GH/GHAPPS/GHPE_LISTAFARMACOS.html


Pode verificar-se que para um utente do SNS com receita, nem sempre os genéricos são os mais baratos

Dou como o exemplo para o Principio Activo o Diclofenac http://www.ghosp.com/demos/ecrans/ExemploDeConsultaDiclofenac_1.htm

O genérico 10un-blister da Ratiopharm é mais caro para o utente que as embalagens de 12 un e Fenil-V e Olfen que não são genéricos. O que se pretende é que os utentes paguem menos não é? Vale a pena prescrever 12 un ao invés de 10un…

Nota: Como referi este produto (diclofenac) é um exemplo (de entre outros), foi escolhido ao acaso, não tenho nenhum interesse para com a indústria farmacêutica, mas sim para com os utentes. O sistema foi desenvolvido com o intuito de apresentar aos prescritores os fármacos ordenados pelo menor custo para o utente do SNS (com receita).