quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Os novos “negreiros”



Belmiro de Azevedo, o milionário merceeiro do regime, incontestável cabecilha do Gang dos Hipermercados, vive tempos felizes. Sabe que conseguirá atravessar o deserto da crise sem ver os seus lucros muito beliscados, já que quem sofre principalmente com a falta de poder de compra dos portugueses é o pequeno comércio, esmagado pelos mesmos Hipermercados, pois mesmo em dificuldades, a classe média e média baixa tentam manter o seu nível de consumo, até na comida, à custa dos cartões de crédito... e depois lá resolve como pode os seus problemas com o outro Gang, o dos Bancos, que os assalta com juros que podem chegar aos 30 por cento.

Ao contrário do que seria de esperar em seres humanos dignos do nome, o facto de mais de 600.000 trabalhadores estarem no desemprego e desses, uma parte escandalosamente grande nem ter sequer acesso a subsídio de desemprego, não impressiona os nossos gangsters da venda a retalho. Para já, porque não são pessoas muito impressionáveis; depois, aqueles que estão mesmo a passar fome, são ajudados, por exemplo, pelo Banco Alimentar, que vai buscar os artigos onde? Exactamente! Aos Hipermercados, onde são pagos pelos cidadãos com emprego, praticamente “obrigados” à solidariedade; finalmente, o gigantesco desemprego não os impressiona, exactamente porque é a maior bênção dos patrões.

Um exército de pessoas desesperadas por um emprego é o sonho de qualquer patrão com o carácter miserável que estes exibem. Saberem que têm alguns milhares de “colaboradores” que vivem sob a ameaça de serem substituídos por outros tantos milhares, dispostos a aceitar seja o que for, trabalhando sem direitos, como “independentes”, ou com contratos renováveis ao mês.

Daí, sentirem-se seguros para fazer esta provocação obscena de proporem horários de trabalho que podem passar das 40, para chegarem às 60 horas semanais, horários marcados de forma aleatória, desprezando o facto de as trabalhadoras ou trabalhadores serem mulheres e homens com uma vida privada, familiar, fora do emprego. Daí, o mostrarem-se visivelmente “ofendidos” por os trabalhadores resistirem a esta provocação. Daí, o acharem tão estranha a resistência e a sugestão de uma greve, que lhe chamam “pequeno ataque de baixa qualidade!”

São os novos “negreiros” que continuam, séculos depois, a “marcar” os seus escravos, embora com outros ferros.

Defendo que quando a oportunidade se apresentar novamente na nossa História, este tipo de canalhas não deve ter uma segunda oportunidade... e não consigo censurar-me por isso.

14 comentários:

isabel disse...

Correctíssimo. Aí estão os negreiros do século 21. Nem mais!

salvoconduto disse...

O pior é que esses negreiros têm seguidores entre aqueles que, dependendo só do seu trabalho, mas que olham mais para o seu umbigo do que qualquer outra coisa, juntar-lhes-ão a voz a dizer que estão a ser prejudicados, que sim senhor, que isto não se faz.

Daniel disse...

Samuel, a expressão pode não significar muito para ti, mas vou repetir o que uma pessoa do povo da minha Maia diria se te ouvisse dizer isto: "Boca santa!"

Maria disse...

Excelente post! Com TUDO dentro...
Sem 'papas na língua'!

Abreijos

Antuã disse...

Excelente texto. O esclavagista Belmiro anda a precisar duma lição.

Fernando Samuel disse...

Magnífico texto!

Abraço.

Talina disse...

Olá Samoel

Excelente post: Abaixo o esclavangismo do século XXI.

Festas Felizes

Abraço

Talina

Camolas disse...

E lá vamos nós todos contentes como se nada se acontecesse, a caminho do hiper onde é tudo mais barato. Falta tudo...principalmente ética de "consumidor", já que o homo sapiens pensante ficou à muito perdido lá para trás.

Isaflores disse...

Muito Bom!
E o mais grave é que estes não são os únicos.
Os compradores também têm alguma culpa têm sim senhor!!

pintassilgo disse...

E o outro que diz que é tão bom pagar tão pouco aos trabalhadores!

Pata Negra disse...

- Agora começo a perceber porque é que aquela coisa do "Novo Código de Trabalho" era para tramar alguém!...

Para milhares de portugueses Belmiro deveria governar o país. Se isso vier a acontecer talvez eu venha a ser considerado louco por ter amandado com uma estatueta á cabeça dum magnata!

Um abraço de apoio à greve

Julieta Real Ferreira disse...

Recomendo a leitura do livro de Kevin Bales, editado em 2001: “Gente descartável”

Da apresentação do livro: “Os escravocratas actuais controlam os seus escravos pela força e pelo medo e, quando estes já não representam uma mais-valia económica, são «dispensados»: os escravos de hoje são gente descartável.”

Cada vez mais real e actual, não acham?

Formiga disse...

Faço a mim próprio, muitas vezes, a pergunta:
Estes senhores que fazem dos trabalhadores escravos, tentando retirar todos os direitos que foram conquistados com muitos sacrifícios;
Praticam actualmente um tipo de escravatura ainda mais económica do que a “falecida”, pois antigamente:
a) Tinham que ter um “sítio” para os escravos dormirem;
b) Tinham que lhes dar uma espécie de comida;
c) Quando o escravo adoecia tinha que comprar outro;
d) Etc…
Agora pagam o mínimo possível de forma a que o trabalhador possa ir no dia seguinte trabalhar… se adoecer o trabalhador vem outro a preço de custo, e o que ficou doente que “vá morrer longe”…
A pergunta que eu faço é, se estes senhores que exploram os trabalhadores desta forma são DOENTES MENTAIS OU CRIMINOSOS?

samuel disse...

Isabel:
E em força!

Salvoconduto:
Há sempre uns mais fracos, ou interesseiros, que acham ficar melhor do lado do opressor...

Daniel:
Obrigado! Agora fizeste-me lembrar duma estória com mais de trinta anos, passada aí na tua Maia, envolvendo um pescador e um baladeiro... mas já aqui a contei.

Maria:
Beijo!

Antuã:
Há muitos anos!

Fernando Samuel:
Abraço!

Talina:
Dentro do que for possível... ☺

Camolas:
Já passaram uns dias desde que escrevi este post. Entretanto anda por aí um corrupio de mails a tentar boicotar as compras a 24... seria giro se resultasse, nem que fosse um pouco...

Isaflores:
Como sempre!...

Pintassilgo:
Pudera!...

Pata Negra:
Seria, sem dúvida, um bom motivo! ☺

Julieta Real Ferreira:
Hoje tudo é descartável: a cultura, os artistas que a produzem, os trabalhadores, a Natureza...

Sopro leve:
Realmente, os esclavagistas de hoje têm bastante menos “aborrecimentos” com os seus escravos...
É uma grande pergunta!


Abreijos colectivos!