No dia de ontem, três de Janeiro, apenas há umas horas e mais cinquenta anos, para ser exacto, um punhado de homens que há muito tinha decidido não deixar o seu futuro nem o do país nas mão dos tiranos, fugiu do Forte de Peniche.
Foi uma inspiração que muito animou a luta dos que levariam a sua resistência até Abril e a luta até hoje. Foi uma violenta pancada no fascismo, que nunca mais se recompôs. Arrastou-se por mais catorze anos até se render, vergonhosamente, perante a ameaça do desassombro, alguns canos de espingardas, muitos cânticos, uma avalanche de flores e um mar de gente.
Numa altura em que os “decoradores e paisagistas” da história, ao serviço do capital, se encarregam de branquear, alindar, quando não mesmo arrancar, as páginas que nos falam da tristeza em que vivemos, dos crimes que suportámos e da miséria social, moral e cultural que até hoje nos tolhe como alcatrão nas asas, é importante, é imperioso não esquecer.
A escritora Eugénia Cunhal, irmã de Álvaro Cunhal, um dos fugitivos, dá-nos uma visão que não é a mais lida. A experiência vivida à época pela família, amigos... e por ela, cautelosamente, mas sem regatear a solidariedade, com receios, mas sem regatear a determinação.
9 comentários:
É uma excelente entrevista, com a naturalidade e sensibilidade a que Eugénia já nos habituou.
E hoje lá estava ela, cansada mas feliz, com o olhar doce como o mel...
Abreijos
Que me desculpem a Eugénia, o Álvaro Cunhal, todos os outros e tu, Samuel, mas hoje quero deixar aqui apenas uma homenagem a outra heroína, aquela jovem de 26 anos que morreu atropelada quando tentava ajudar as vítimas de mais um acidente numa estrada portuguesa.
Sem querer ofende ninguém pergunto
Onde estava Deus?
E assim se combateu o Fascismo.
Gsotei de ouvir Júlio e acompanhantes e só lamento que em Portugal a RTP faça tudo menos serviço público!!
Quanto à efeméride também a assinalei, porque é indispensável conservar a memória.
Desejo-lhe um bom 2010, com algum tempo para deixar os seus apreciados comentários lá em casa, rrss
Samuel:
Saúdo-te hoje de forma especial por nos proporcionares o ensejo de relembrarmos [e celebrarmos]colectivamente o heroísmo de uns quantos de nós que nunca desistiram nem se renderam perante a ameaça ignominiosa da Besta e, no limite, a oportunidade de recordá-los simbolicamente na figura e no Exemplo inesquecíveis de Álvaro Cunhal, juntamente com Vasco Gonçalves, umas das figuras mais estupidamente maltratadas e mais tragicamente injustiçadas da nossa História colectiva recente---duas perdas irreparáveis que nunca ultrapassaremos nem superaremos.
É preciso, no entanto, dizer que com Homens como estes que se evadiram de Peniche ou como aquele outro que o País não soube merecer é sempre de VIDA, não de morte que se trata---sendo que VIDA [e dignidade e coerência e inimitável verticalidade pessoal e cívica] é sempre aquilo que, a propósito deles, estamos realmente a falar!
Maria:
Imagino o mundo de recordações que ia naquela cabeça... as conversas com o irmão...
Grandes figuras!!!
Daniel:
Mais uma das coisas que nem com boa vontade têm explicação...
Graciete:
A ajudar na recolha de assinaturas pelo referendo contra o casamento de pessoas do mesmo sexo...
Estafermococus:
Com eficácia!
São:
Recebido o “toque”... ☺ ☺
Carlos Machado Acabado:
E esse é um património que tanto nos invejam!
Abraços gerais!
É fugir... para dar mais força à luta...
Um abraço.
Durante muitos anos, passei alguns dias naquela zona. Fui ao Forte, durante vários anos, com os meus filhos, para que vissem o espaço onde homens corajosos se bateram pela liberdade. A história de Álvaro Cunhal era sempre a primeira a ser contada. Espero que tenha valido a pena tanta coragem. Desculpa este pessimismo manhoso, mas hoje foi mesmo um dia diferente.
Abraço.
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