quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Ensino – A interesseira cobardia




Não sou pessoa para encontrar “vantagens” nos tempos do regime fascista em Portugal... a não ser as explicadas pelas naturais saudades da juventude e de uma certa forma mais simples de viver, desde que essa “simplicidade” não esteja directamente ligada à miséria.
Posto isto, não tenho pejo em lembrar que o ensino nos tempos da “escola fascista”,  tinha campos muito bem definidos e oficialmente assumidos: um ensino privado pouco mais que residual, reservado à elite das elites... e o ensino público, claramente dividido entre o ensino para os mais ou menos ricos (os liceus), para os mais ou menos pobres e remediados (as escolas comerciais e industriais) e para os mais pobres... que acabava na quarta classe... se o aluno lá chegasse e tivesse sequer, ido à escola.
Lá em cima, o ensino universitário, como era evidente, estava reservado às elites e aos filhos de remediados, cuja inteligência e empenho pudesse convencer os pais a fazerem o gigantesco sacrifício de fazerem os seus filhos “doutores”. A única alternativa era aceitar o “patrocínio” (quase sempre um investimento) da “madrinha” da família rica lá da terra... e aceitar tornar-se padre.
Hoje, como podemos verificar todos os dias, temos exércitos de ex-governantes que se serviram das sua passagens por governos do PSD/CDS ou do PS e respectivas bancadas parlamentares, para legislar e contratualizar a seu favor o financiamento do enxame de escolas privadas que por aí vemos, financiadas pelo dinheiro que é roubado à Escola Pública.
Quanto à tal Escola Pública, definha a cada dia que passa. É uma vítima nas mãos de lacaios dos interesses privados, que vão fazendo tudo o que podem para a estrangular e destruir.
Hoje, o Estado e o ensino estão nas mãos de saudosos da “escola fascista”... mas invertebrados, incapazes de ter a coragem de admitir a sua opção, escondendo-se cobardemente atrás de explicações supostamente “técnicas”, de “eficiência”, de “liberdade de escolha”, de “menos Estado”... os vários eufemismos que usam para falar das suas contas bancárias e escamotear o seu ódio de classe.

8 comentários:

Anónimo disse...

Vamos ter, novamente, um país onde a cultura será só para alguns. Não que "ELES" querem só analfabetos para melhor manipularem.
Vicky

São disse...

A Universidade de Coimbra foi este ano classificada como uma das melhores do mundo, houve quatro Universidades portuguesas integradas num dos mais exigentes padrões de qualidade e que faz o Governo PSD/CDS, com a conivência do reformado de Boliqueime? Ordena (mais) um corte ao ensino universitário: 15 milhões de euros!

Salazar era mais honesto, pois assumia o seu objectivo claramente e houve até um ministro que afirmou ser bom o povo ser ignorante.

Tenham excelente dia

Antuã disse...


In illo tempore eu frequentei o seminário, o colégio particular e o liceu. os alunos dos colégios tinham que ir fazer exame ao Liceu ou à escola comercial públicos. Normalmente os alunos do público tinham melhores notas que os do privado. Convém dizer que os professores do Liceu eram todos licenciados o que não acontecia com os dos colégios. Não sou fascista, faço apenas uma constatação.

trepadeira disse...

Desse tempo só me ficou na memória e expressão de uma besta, ali em Coimbra, parece que família de uma outra besta essa hoje no governo:
"Para tirar o curso de direito é preciso ter dês e is no meio do nome".

Abraço,

mário

Anónimo disse...

Caro Samuel, acompanho os eu blogue, tal como fazem muitos democratas. Por isso mesmo gostaria de lhe pedir para, se puder, falar também dos professores contratados. Somos milhares em risco de desemprego no fim de Agosto - a juntar aos milhares que já ficaram desempregados. Muitos de nós têm quinze, vinte ou mais anos de serviço e agora somos corridos como se fossemos uns cães pelos fascistas que nos desgovernam. Durante anos já fomos roubados porque fazemos o mesmo trabalho que os do quadro e recebemos menos. Um ano colocado em Bragança, outro em Viseu, sempre sem qualquer estabilidade, a pagar casa, viagens, etc. É verdade que ninguém nos mandou sermos professores, mas também é verdade que o estado tem a obrigação de vincular quem tem mais de três anos de serviço. Sempre fomos vistos pelos governos como mão-de-obra mais barata, apesar de termos as mesmas habilitações dos outros. Agora os fascistas que salvaram o BPN e o Banif preparam-se para "poupar" despedindo milhares de contratados. Enquanto isso continuam os milhões para as escolas "privadas", que de privadas não têm nada porque são pagas pelo contribuinte. Escolas controladas pelos amigos. Recordo que a obrigação do estado em relação a essas escolas é de financiá-las quando não houver oferta pública. Isso não se passa. Nas Caldas da Rainha, por exemplo, as duas secundárias da cidade perdem alunos enquanto as "privadas" os recebem pagos pelo estado. Em outras zonas passa-se o mesmo. Deixo aqui este alerta até porque os canalhas rejubilaram com a descida do desemprego há um mês, mas agora que ele vai subir com os professores que são dispensados vamos ver o que dizem. Certo é que estão a destruir a escola pública. Peço desculpa por permanecer anónimo, mas como os bufos do governo devem passar por aqui prefiro não arriscar. Cumprimentos e obrigado.

Graça Sampaio disse...

O querido (C)rato não enganou ninguém! Naquele seu miserável livro sobre o «Eduquês», por sinal bem mal escrito, ele mostrava bem o que queria. Lamentavelmente, grande parte dos professores não leem e por isso não conheceram a sua maquiavélica visão para a educação - direi melhor: para o ensino (que é uma coisa diferente). Diga-se também de passagem que grande parte dos professores, eles próprios, são tão elitistas que não estão longe daqueles que defendem o ensino privado (usando os dinheiros públicos, claro!) tanto assim que grande parte deles arranjam as desculpas mais esfarrapadas para porem os filhinhos nos colégios...

augusta disse...

Era uma vez… o meu comentário é uma estória feita de história.
.
Era uma vez uma menina. Uma menina que nasceu "durante o reino do medo". Uma menina que não andou descalça, não passou fome não repartiu duas sardinhas por três pães. Teve de tudo essa menina. Até amigas que lhe pediam para provar o que ela levava para o lanche dentro do seu pão. Amigas a quem nunca via uma garrafinha de leite como a dela. Aí a menina abriu os olhos e viu que havia meninas que comiam pão com pão. Meninas que via serem tratadas de forma diferente - umas estudavam, outras não. E as escolas eram diferentes. e dentro da mesma escola havia meninas e ... meninas. E com isso essa menina sofria. E havia meninas que via descalças e não tinham sapatos como os dela.
Uma menina que teve de tudo. Até à porta de casa, uns muito estranhos senhores, de gabardina, óculos escuros e chapéu que a seguiam até ao colégio perguntando-lhe pelo pai…
Aí, a menina percebeu que havia um outro lado que não era o seu. Sem saber o que isso era, teve a sua primeira consciência de classe…

E a menina cresceu… e "apostou na viagem quando os frutos amargavam e o luar sabia a azedo"

E continua abominar esses tempos que não quer ver mais. E a detestar estes agora abomináveis senhores que desses tempos saudades a outros, que não ela, fazem ter…
.
em nome de todas as meninas desses tempos vítimas, principalmente daquelas daquelas que nunca foram meninas,
Obrigada, Samuel.

Olinda disse...

E o papel da igreja catôlica,que na sombra,se "abifa" aos dinheiros pûblicos para financiar os seus colêgios.A igreja movimenta-se ,junto dos partidos de alternancia,e ê um veneno no meio de isto
tudo.

Um abraco