quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bento dezasseis - um rescaldo




Um dos portões do campo de extermínio de Auschwitz, onde (tal como noutros campos idênticos) os nazis mostravam o seu nojento "sentido de humor", exibindo a frase "Arbeit macht frei", quer dizer, "O trabalho liberta".

No rescaldo da pontifical borrada descrita no post anterior e na sequência de algumas ideias aqui deixadas na respectiva caixa de comentários, gostaria de voltar ao assunto, quanto mais não seja para que não pareça não ter ligado a algumas “pontas” aparentemente soltas.

Um dos comentadores, chama a atenção para o facto de não terem sido exclusivamente os judeus as vítimas do Holocausto nazi, dando mesmo como exemplo o caso dos ciganos.

Está carregado de razão, embora tanto aqui, como noutros blogues ou quaisquer outros meios de comunicação, isso apenas se deva ao carácter absolutamente esmagador do número de vítimas entre a comunidade judaica. A dimensão demencial desses números faz com que qualquer referência a essa verdadeira vergonha para o ser humano, tenha sempre à cabeça os milhões de judeus assassinados, deixando, embora injustamente, para segundo plano, as outras vítimas. De qualquer modo não são (nem podem ser) esquecidos, por exemplo, os muitos milhares de militantes de tudo o que fosse (ou parecesse) organização de esquerda, os ciganos, os homossexuais e (é bom não esquecer) os deficientes físicos.

Outro comentador, lembra que para além do facto de a Igreja Católica ter sido ao longo de séculos a maior “acirradora” do ódio aos judeus, como se Cristo, o homem que dizem seguir e que foi morto pelos tais judeus, não fosse ele próprio judeu, acabou, durante a Segunda Guerra Mundial, a fechar os olhos ou mesmo a colaborar nos crimes nazis. Logo, um papa com fama de tão inteligente e perante o triste historial da sua organização, devia ter capacidade para disfarçar melhor as suas verdadeiras tendências, em vez de ter o descaramento de pensar que se safa com a "exigência" feita ao "ultra" Richard Williamson, para que se "distancie" das afirmações que fez sobre as vítimas do nazi-fascismo, um exercício de pura hipocrisia, já que ninguém está a ver bem como é que o canalha se poderá "distanciar" do que ostensivamente pensa e disse. Aliás, o papa apenas inventou esta condição para a entrada em funções do fascista Williamson, depois do alarido que o seu perdão provocou.

Finalmente, ainda outro leitor, lembra a mais recente “ideia brilhante” do papa: resolver os problemas do mundo mediante o regresso à prática do jejum, entre os fiéis. Mais exactamente, o jejum e a esmola, para ajudar nomeadamente os pobres e os que vivem tempos difíceis.

Quanto a este último tema gostaria de deixar duas sugestões ao senhor Ratzinger. A primeira é que seria uma “bênção” se ele próprio decidisse jejuar destas baboseiras que produz. A segunda, que seria bem melhor que o dirigente de uma grande colectividade como é a Igreja Católica, exortasse os seus consócios a lutarem pelo fim das injustiças, crimes e desigualdades que provocam a fome e o jejum forçado a milhões de seres humanos, alguns deles, católicos.

Resumindo, é bom não deixar muitas pontas soltas nestes assuntos... e é óptimo ter leitores e comentadores assim!

13 comentários:

Maria disse...

E finalmente disseste tudo. Não, quase tudo. Porque há ainda "assuntos delicados" na I.C. que não abordaste, mas que são do conhecimento generalizado.

É um excelente post, Samuel...

Abreijos

Anónimo disse...

Deixa-te de tretas, e depois sob que capa é que ele se esconderia?

Quanto mais injustiças, quanto mais crimes, quanto mais desigualdade, mais igreja. Alimentam-se uns aos outros...

Anónimo disse...

jejum?!... É a maneira que ele encontrou de enviar os diabéticos antecipadamente para o céu através de hipoglicenias?!...

Anónimo disse...

este papa é como a maioria dos governantes,só diz asneira...
já agora a igreja pode começar a distribuir os seus (muitos) bens,pelos necessitados.

Anónimo disse...

Eu defendo o jejum e a esmola...a começar pela Santa Sé. AH! mas quem lá vive não deve ter feito voto de pobreza...deve ser isso
Lúcia

cicuta disse...

Que pena o Inferno não existir pois lá é que eles estavam bem.
Como eles próprio não creditam no Céu e no Inferno, passam a vida a cria-los, o Céu na terra para eles e o inferno para os outros.

Parabéns pelos excelentes textos com que nos brindas.

João

BlueVelvet disse...

Samuel,
não comentei o post anterior porque vinha comentá-lo hoje mas assim deixo os dois comentários aqui:
Correndo o risco de me considerares racista, fiquei logo muito de pé atrás quando este Papa foi escolhido, só pelo facto de ser alemão.
Que hei-de fazer? Não os engulo.
Depois, e como católica, faço sempre uma grande diferença entre a igreja de Deus e a dos homens. E são Papa e os Santos Inquisidores que fizeram da Igreja aquilo que ela hoje é. Lamentavelmente.
Esta reintegração é vergonhosa s razões invocadas. Agora vem o jejum só falta começar-se a pagar bulas outra vez para a remissão dos pecados.
Infelizmente o Papa tornou-se um político e como tal sofre dos mesmos males que eles.
Só falta ele fazer o mesmo que o Presidente do Irão e vir dizer que o holocausto nunca existiu.
Oh corja!
Desculpa se me alonguei, mas este assunto e a Igreja tiram-me do sério.
Abreijinhos

Fernando Samuel disse...

Com um papa destes, os católicos não precisam do diabo.



Um abraço.

Nocturna disse...

Samuel,
A Igreja é o que é. Têm a inteligência de, de vez em quando, fazerem aparecer uma figura mais «aberta»,mas é pura mentira. De facto e como muito bem salientas, não foram só judeus que foram exterminados no regime fascista. Visitei um antigo campo de extermínio na Alemanha(antiga RDA), onde tinham morrido , sobretudo sindicalistas,opositores aos regime e só na parte final, judeus.
Está lá o museu para nos informarem de tudo isso.Custa muito ver tantos sinais do horror, mas devemos fazê-lo para não esquecer .
E não é de admirar que assim seja, nenhum ditador suporta quem a ele se opõe ( até nos nossos dias de democracia formal, existe algum risco em mostrar desacordo). Onde estava a Igreja dos Papas quando as câmara de gás e fornos crematórios funcionavam sem parar ? Em Roma é claro e a ajudar quem ? A Igreja está normalmente do lado dos poderosos.
Desculpas 50 anos depois,integração de fascistas, apelos ao jejum ( em tempos de desemprego e fome) são tudo pelo do mesmo animal.
Um fascista pode distanciar-se daquilo que pensa?
Não brinquem comigo !!
Um abraço nocturno

Lília Abreu disse...

subscrevo o caro fernando Samuel...
Deviam existir uns campos "terapêuticos" para estes senhores...
Parabéns pelo texto!

samuel disse...

Maria:
Fica sempre muito por dizer...

Salvoconduto:
Quando se tem um paraíso para vender... é preciso manter a clientela.

Antuã:
Olha que se calhar...

Júlio:
Distribuir o quê?! Só em sonhos!

Lúcia:
Na hora dos voto de pobreza... a abstenção é muito grande.

Cicuta:
Obrigado! Se não inventassem o inferno, como é que venderiam o céu?

BlueVelvet:
Alongue-se à vontade senhora!...
É seguro afirmar que este é o comentário de uma católica algo irritada...

Fernando Samuel:
Presumo que levarão a coisa como mais uma penitência.

Nocturna:
Acabas com uma boa pergunta... e a respectiva “resposta”.

Dulcineia:
O melhor tratamento de choque seria mesmo conseguir que deixem de mandar na vida, mesmo de quem não tem nada que ver com aquele filme de terror.


Abreijos per tutti!

Ana Camarra disse...

Ora bem, faz-me especie catalogar as vitimas do holocausto por "secções", judeus, ciganos, dificientes, homosexuais, artistas, comunistas, anarquistas, russos, polacos, franceses...
A verdade é que mataram muita gente, quanto ao Vaticano, olhou para o lado, nada viu, não aplicou o mandamento de amar o semelhante como a si proprio, quanto ao novo espantalho do Vaticano, parece que era da Juventude Hitleriana, mas já o anterior tinha um passado duvidoso.
Já agora relembrar que nessa imensidão de gente morta existiram imensos alemãs, não eram comunistas, ciganos, Judeus, homosexuais, artistas mas não eram cegos, surdos e mudos.

beijos

samuel disse...

Ana Camarra:
Morreu um grande número de alemães e sim, muitos eram comunistas...

Abreijo