sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Trejeitos do passado




Até ontem à hora de jantar, estava convencido de que o elemento mais inútil das nossas forças de segurança, seria o agente (pessoa decerto extremamente sensível, possuidora de um refinado gosto e magnífico praticante da arte da decoração de interiores) que incansavelmente percorre o país, de esquadra em esquadra, pondo ordem nos diversos materiais que as ditas forças da ordem vão apreendendo aos marginais, materiais esses que aparecem nas fotografias, mais “arranjadinhos” do que nas fotos de casamentos. Ainda não vi nenhuma fotografia dessas com os fatinhos Armani, os sapatos da Prada, colecção de canetas de ouro, “bugigangas” da Cartier, quadros de grandes pintores, Bentleys, Ferraris, etc, etc, na posse de alguns figurões da nossa praça... mas não perco a esperança.

Como ia dizendo, este, que eu pensava ser o tal elemento mais inútil das nossas forças de segurança, foi agora ultrapassado de forma contundente, por outra figura, a crer no que os polícias dizem, alguém de uma “instância superior”, que tem como função, inventar as desculpas estúpidas que os agentes têm que dar aos cidadãos, sempre que não conseguem desarrincar uma explicação inteligente para justificar as suas acções.

Eu esclareço. Estava mui descansado a ver um dos telejornais, quando passa uma peça mostrando um grande grupo de jornalistas, a não fazer nada, nem de bom nem de mau, em franca cavaqueira uns com os outros no passeio público da via pública, em frente às instalações do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), esperando novidades dos interrogatórios a gente envolvida no caso FRIPÓR.

Parece que a certa altura, os polícias lá de dentro terão dito qualquer coisa bem fundamentada como “os senhores não podem estar aí!” e como os jornalistas, certamente, não perceberam muito bem, foi imediatamente chamada uma carrinha da Força de Intervenção Rápida da PSP, cheia de fortes, intervenientes e rápidos agentes da PSP, que informaram os “senhores jornalistas”, num discurso já entrecortado de vários “está bem?” bastante crispados, que por razões de segurança (não entendi se os jornalistas estavam em risco ou se eram a ameaça), ia ser feito um “perímetro” da dita segurança... e os “senhores jornalistas terão que funcionar fora dele! Está bem?!!!”

- Desculpe... essa ordem vem de onde?

- Instâncias Superiores!

E pronto! A coisa lá prosseguiu, com os repórteres fora do “perímetro”... e dezenas de transeuntes, que continuaram pacatamente a fazer o seu caminho, ostensivamente por dentro do sagrado “perímetro”, de que nem chegaram a ter conhecimento.

Temos um país inquietantemente polvilhado de idiotas, que para nossa desgraça logo foram arranjar emprego (e em grande número) exactamente nas “instâncias superiores”.

10 comentários:

Anónimo disse...

Pois também te digo uma coisa, valeu-lhes ser jornalistas, gente fina, porque se fossem sindicalistas já se tinham entretido a "malhar" neles...

Maria disse...

As bestas estão instaladas nas "instâncias superiores". É hora de os tirar de lá!

Abreijos

Orlando Gonçalves disse...

Bem eu estou como tu, ainda não perdi a esperança de ver alguns desses colarinhos brancos por de tráz das grades. Mas com esta justiça não sei não, quando uma procuradora (que não deve ter mais nada que fazer), censura uma fotografia... não sei bem onde isto irá parar.

Justine disse...

Mais um sinal dos ares fascizantes que andam a soprar por todo o lado...de tão ridículo chega a ser assustador, este abuso de poder, esta prepotência

Fernando Samuel disse...

Pergunta ao menino: o que é que queres ser, quando fores grande?
Resposta do menino: quero ser instância superior...


Um abraço.

João Carlos disse...

essa faz-me lembrar "os mensageiros secundários" e a instituição social que são os pequenos poderes.
O poder que alguém tem sobre um outro que aceita ou é obrigado a aceitar as suas ordens e imposições.
E são tantas e tantas as situações.
Vais a ver foi um Chefe de Brigada que sabendo que a imagem ia passar no telejornal e entendeu que as reuniões de mais de uma pessoa dão má "imagem" da PSP.
Os pequenos poderes vivem mesmo de mesquinhices assim.

Anónimo disse...

Nas instãncias superiores zurra-se muito.

samuel disse...

Salvoconduto:
Isso tinha sido na hora e com muito menos conversa!

Maria:
E à bruta, senão não entendem...

Orlando Gonçalves:
Não podemos perder a esperança.

Justine:
Ainda há pouco, em conversa com um nosso amigo comum, dizíamos que os fascismos que fomos conhecendo estavam recheados de pormenores profundamente ridículos, como por exemplo, os trejeitos idióticos dos discursos de Mussolini... etc, etc...

Fernando Samuel:
Dá pouco trabalho e basta fazer de conta que se estudou alguma coisa na escola...

João Carlos:
Os pequenos poderes são tão perigosos e tirânicos como os grandes.

Antuã:
E muito alto...


Abreijos!

Anónimo disse...

Amigo Samuel, desta vez não venho aqui lhe informar que mudei de blog, mas que, definitivamente, não vou mais blogar. Motivo? Ameaças, que cada vez se tornaram mais sérias.

Não vou mais gastar meus dedos e meus neurônios para apresentar opiniões para depois, meia dúzia de sujeitos, escondidos sob a máscara da tecno-burocracia atentarem minha pessoa com injúrias e até ameaças.

Infelizmente, aqui no Brasil apresentar uma opinião é questão de vida ou de morte. Preferi viver.

Grande abraço e sempre lhe prestigiarei como leitor.

Passarei por aqui.

Ah, não se esqueça de tirar o link do Carta Latina.

samuel disse...

Caro amigo Caim:
Lamento profundamente esta "novidade". É sempre uma má notícia perder-se uma voz lúcida e interveniente, num meio em que fazem tanta falta, aí como aqui.

Um abraço!