Alguns intelectuais caem por vezes na armadilha de pensar que a cor da pele e/ou as misturas étnicas, ou de raças, como se dizia dantes, tem alguma influência, seja para o mal, seja para o bem, no comportamento intelectual, social e político das pessoas resultantes dessa miscigenação, ou com determinado tipo de epiderme. Mesmo na sua forma mais benigna e pretensamente elogiosa, isso não passa de racismo! Racismo algumas vezes “pela positiva”... mas racismo!
Muitos dos adoradores de Obama estão neste grupo. Não conseguem apontar a Obama, para além dos belos discursos e de algumas intenções apenas anunciadas, um conjunto de obras que justifiquem a “adoração”, mas adoram-no pela maneira como fala, pelo simbolismo do negro na Casa Branca, o simbolismo dos escravos americanos, muitas vezes por simples descargo de consciência, etc., etc.
O “cantautor” brasileiro Caetano Veloso é, infelizmente, um desses. Para além da necessidade que teve de comparar Marina Silva, a sua candidata preferida à corrida presidencial, a Obama, pela cultura, pela habilidade para falar e pelo facto de ser mestiça, não resistiu à sobranceira tentação de classificar o ex operário, sindicalista e actual Presidente, Lula da Silva, como analfabeto e “cafona”, um brasileirismo que quer dizer piroso, ou parolo.
Se ao menos Caetano Veloso e a casta de “intelectuais” que como ele, sofrem desta espécie de hipertrofia do ego, soubessem o quanto eles próprios podem ser analfabetos, cafonas e ridiculamente pretensiosos...
12 comentários:
Há um ano e pico atrás, num blogue que também conheces o "isto tem dias" e a propósito do convite da Ana para ouvirmos Caetano Veloso escrevi isto na caixa de comentários dela:
"...Quanto ao Caetano Veloso, algum dia tinhamos de discordar, não sou perfeito, tenho-lhe aqui uma pedrinha no sapato, mas isso são contas de outro rosário...".
Não era bem uma pedrinha, são várias. Uma delas pões tu a nú mas há mais, muitas mais...
Depois, defeito meu, reconheço, não consigo em muitas situações abstrair-me da pessoa e do artista e acabo por ter alguma dificuldade em apreciar as boas músicas dele. Isto dava obviamente pano para mangas...Fica para outra altura.
Bom fim de semana.
Não o sabia tão... ignorante...
Abreijos
A «vedetite aguda» ataca estes intlectualoides à pressão que não enxergam mais do que o que lhes recomendam para continuarem a adiar o fim do «carnaval»...
Nem respeito pelas entidades, nem pelas pessoas, só porque as origens são da classe operária.
Que democrata é este afinal?
Um abraço
Joseph
Esta vou ter que ler melhor! Tenho andado distraída!
Abreijos
Para além das infelicidades do Caetano Veloso o Lula também deixa muito a desejar porque traiu a sua classe.
Caro Samuel,
interessante como é que a partir da mesmo notícia fizemos um post totalmente diferente um do outro...
mas bem vistas as coisas e de certa maneira, no mesmo sentido!
http://franciscotrindade.blogspot.com/2009/11/caetano-veloso-classifica-woody-alen.html#links
Um bom fim de semana
Francisco Trindade
É caso para dizer ao Caetano: quem te manda a ti, rabecão... tocar sapateiro?...
Um abraço.
É pena! Ele até é um bom artista, acho que não havia necessidade.
Mas quem vai ouvindo umas coisas e outras de Caetano, acho que não fica admirado. Curioso que me lembrei de Caetano Veloso agora, na hora da morte de Levy Strauss, que ele refere numa canção que, se não me falha a memória, se chama ou tem a ver com a Baía de Guanabara. Já aí hostilizava quem não tinha a mesma sensibilidade que ele. Caetano é fantástico em muitas das suas composições, não é a sua cretinice intelectual que vai tirar mérito a muitas das suas intervenções (enfim, vamo-nos esforçar por isso), dêmos-lhe, portanto, um certo, mas relativo, desconto.
Abraço
DORA KRAMER
Origem e destinos
Do que fala Caetano Veloso – que, aliás, será apontado como preconceituoso por isso – quando diz que Marina Silva não é “analfabeta” como o Lula? Fala sobre o esforço da senadora em se aprimorar e aproveitar as oportunidades dadas pela vida. Fala da recusa da senadora em fazer da adversidade de origem um proveitoso destino.
Fala de uma mulher nascida nos seringais da Amazônia, alfabetizada aos 14 anos de idade e que tem hoje na expressão do idioma de seu país um de seus melhores atributos. Marina não precisa da grosseria para se identificar com seu povo. Ao contrário: oferece-se a ele como prova de que o aperfeiçoamento – de palavras, pensamentos e comportamentos – vale a pena.
Marina não nivela o Brasil por baixo, mostra o valor do esforço e não celebra a indulgência.
A voz tem cor? A inteligência depende de pigmentos? A destreza física idem?(Ai o Hitler a abandonar furioso o Olímpico de Munique porque o Jesse Owens limpou as medalhinas guardadas para os seus caucasianos...)
Daniel
Samuel,
Não é a primeira vez que o Caetano Veloso exprime os seus preconceitos. Na comemoração dos Quinheitos teve uma expressão ainda mais boçal sobre nós. Não a sei reproduzir de memoria mas foi muito lembrada a proposito da transmissão recente pela Globo de um video vulgar que estimulou os comentários mais baixos de um e outro lado do atlantico ...
Pena ainda porque estas palavras tenahm sido proferidas a proposito de uma figura respeitavel como Marina Silva.
Nuno
Per tutti:
Como devem calcular, pelo meu lado, não é este deslize de Caetano Veloso, embora seja mais um de vários, que altera o prazer de o ouvir, mesmo que, ao contrario do que me acontece com outros criadores da música popular brasileira, eu só goste verdadeiramente de uma cantiga aqui... outra acolá... desde há muitos anos.
Abreijos colectivos!
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