quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desemprego - Indicador e surpresa...



Desde que seja mantido num patamar que não provoque o caos social e a ruína irreparável do consumo interno, um nível de desemprego elevado é uma espécie de “abono de família” do patronato sem escrúpulos nem sombra de consciência social. Um forte desemprego e falta de estabilidade nas relações de trabalho são a melhor garantia de poderem impor baixos salários (um baixo salário é melhor que nenhum salário) e condições contratuais miseráveis (há sempre alguém que quer o lugar, em quaisquer condições) a um exército de “colaboradores” dóceis, aterrorizados, sem direitos, sem capacidade reivindicativa e pouca ou nenhuma relação com os sindicatos.

Daí achar que na esmagadora maioria dos casos, as lacrimejantes declarações de grande preocupação com a taxa de desemprego, por parte dos patrões e das suas organizações de classe, não passam de tremendos exercícios de hipocrisia.

Foi a vontade de dar também a minha opinião sobre este aspecto do fenómeno do desemprego, vontade potenciada pela inspiração da grande canção do Fausto, proposta pelo "Anónimo do Sec.XXI", que me levou a escrever estas linhas e “sequestrar” esta magnífica imagem da “Mafalda”, que encontrei num post publicado no “Aldeia Olímpica”.

Entretanto, descobri que a nova Ministra do Trabalho, profissional da UGT desde 1981, de onde seguiu para Bruxelas, chegando aí a número dois da Confederação Europeia de Sindicatos, em 2003, organização que (ao que se diz) se preparava para dirigir quando foi convidada para integrar o governo de Sócrates, ter-se-á confessado surpreendida pelos números do desemprego no nosso país. O currículo da ministra Maria Helena André, como se pode ver, faz dela uma verdadeira especialista em assuntos do trabalho e do emprego! Pronto... uma especialista, vá lá... um pouco distraída, mas especialista.

Sendo assim e já que “sequestrei” esta imagem, aproveito para aconselhar vivamente a sua leitura à novel governante. Desta página e, se tiver tempo, de toda a “Mafalda”. Aprende-se sempre alguma coisa!

7 comentários:

Francisco Trindade disse...

"Desde que seja mantido num patamar que não provoque o caos social e a ruína irreparável do consumo interno, um nível de desemprego elevado é uma espécie de “abono de família” do patronato"

Correctíssimo!!!
E é por isso que em capitalismo há sempre desemprego...porque interessa e convém ao sistema que ele exista...

Só uma pequena dica: repare Samuel, que na minha citação do seu texto acabei em "patronato" e não o citei até ao fim da frase.
Falta esta parte: "sem escrúpulos nem sombra de consciência social."

Não há patrões com escrúpulos e com consciência social pelo simples motivo que essa postura é contrária ao capitalismo... e isso não significa que o "patrão" tenha que ser uma "má pessoa". Tem a ver com a posição social que cada um ocupa no sistema...

Um abraço
Francisco Trindade

Antuã disse...

E a ministra precisa mesmo da cruz de Santo andré pois não vale nada.

Maria disse...

Faz bem ler de vez em quando sobre a importância do 'exército de desempregados' que tanto serve ao patronato. Para nunca esquecer.
O Quino continua genial, a ministra deve saber melhor onde fica a grand place do que sobre o trabalho em Portugal.
E agora vou aos links e aos posts abaixo...

Abreijos

svasconcelos disse...

Um distração gravíssima dadas as suas funções... o que não augura nada de bom para os que têm sido atingidos pelo desemprego e/ ou retrocesso dos direitos laborais. O
Esta é uma luta que tem de se travar!

lino disse...

Especialista da treta pintada de amarelo.
Abraço

Fernando Samuel disse...

De facto, é esse exército de reserva que permite ao capitalista arranjar mão-de-obra ao preço da chuva, mas hoje não são só os desempregados que estão nessa situação,são também os precários.

(Fabulosa Mafalda!)

Um abraço.

samuel disse...

Francisco Trindade:
Toda a razão... só que, na verdade, quando escrevi patronato, não me referia à “entidade” genérica, mas sim aos patrões, tomados individualmente... e aí, felizmente, ainda vai havendo um ou outro pequeno empresário pessoalmente honesto e pequenos e micro empresários que, no limite, se identificam mais com os trabalhadores, seus vizinhos e amigos, do que com os seus “colegas” tubarões das grandes empresas.
Mas lá que passa a ocupar um lugar específico no sistema, mesmo que não tenha o proveito... isso passa.

Antuã:
Coitada...

Maria:
Não se deve esquecer. Nunca!

Smvasconcelos:
Teve um bom treino para a “distracção” na UGT...

Lino:
Ao fim de tantos anos a tinta já chegou lá bem dentro...

Fernando Samuel:
Para o esquema funcionar é preciso que os precários se sintam tão ou mais desprotegidos do que os desempregados...


Abreijos colectivos!