segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Brincadeiras de garotos - Que desculpa terão?



Sou do tempo em que as brincadeiras da garotada eram na rua, nos quintais, no campo. Eram a nota de cor de um país cinzento, eram a alegria de vilas e aldeias. Era o pião, a cabra-cega, a macaca, o agarra. Eram as duras negociações nas trocas de repetidos das preciosas colecções de cromos. Era o intercâmbio cultural do "livros de quadrinhos" e a excitação da chegada da Bibliotaca da Gulbenkian... que ia ter connosco, em estranhas carrinhas Citroen. Era a canseira boa de correr durante horas atrás de aros ou pneus de bicicleta, lançar papagaios, subir a árvores tendo como recompensa fruta que sabia bem... ou joelhos esfolados, eram saltos para o rio, eram zangas de minutos, que davam amizades para a vida inteira.

Encenávamos guerras terríveis, dizíamos o que não lembrava ao diabo enquanto íamos atirando uma pedras, sem fazer grande coisa por acertar... até decidirmos mudar de brincadeira, em jornadas de contínua e "olímpica" irresponsabilidade.

Tínhamos uma grande desculpa: éramos mesmo garotos. Que desculpa terão estes?


E por aí fora... até à náusea...

10 comentários:

RC disse...

Eram essas as minhas brincadeiras também. Grandes tempos e que saudades eu tenho deles...
Os garotos de hoje, refiro-me aos "grandes" e aos garotos crianças, mesmo, não brincam: agridem-se uns aos outros, malham uns nos outros, insultam-se uns aos outros e imitam personagens de telenovelas ou filmes. Há lá brincadeiras mais deprimentes do que estas?! Depois juízo e responsabilidade, também têm pouco!

Maria disse...

Não têm desculpa. Metem nojo!

Beijo.

Dona Sra. Urtigão disse...

Fora elogiar a pintura, e as lembranças de infancia, de alegria comum, não posso, de fora, tecer comentários. Mas de tanto ler sobre as indagações de tantos amigos daí, que tenho feito neste espaço, tenho me posto a refletir: não é só mal dos políticos, que faz um pais não avançar e não falo desse desenvolvimento cruel do capitalismo. Mas me causa estranheza e nisso os brasileiros tambem me espantam, a quantidade de gente que desiste de sua pátria e vai buscar enriquecer fora, em terras que sabidamente são dos exploradores, dos causadores da pobreza. Não buscam a melhora do todo, partem para uma perspectiva egoista abandonando sua nação à sorte ingrata.

Antuã disse...

Os garotos de antigamente eram responsáveis.

Anjos disse...

“Brincadeiras de garotos” – muito bem dito!
Mas temos de reconhecer que muita coisa mudou desde esses tempos: as aldeias já não têm crianças e as poucas que existirem brincam com o “Magalhães”; cromos já não é possível coleccioná-los, são tantos… basta olhar para os exemplares do nosso actual (des)Governo; as bibliotecas itinerantes (muitos dos seus livros li) já não existem; das brincadeiras desses pequenos, nos quintais ou ruas, raramente resultava prejuízo para alguém, e a haver arranjavam-se desculpas. Agora: temos um país em que garotos, com aspecto físico de adulto, brincam aos governantes inventando “brincadeiras” que prejudicam milhões de pessoas e nem precisam de desculpas pois eles são "os iluminados que tudo sabem e nós os estúpidos que nada compreendemos".
…Até quando esta situação?

Graciete Rietsch disse...

São os ensaios para fingir que são diferentes.

Um beijo

Fernando Samuel disse...

Desculpa, não têm, mas como também não têm ponta de vergonha lá vão brincando... connosco...

Um abraço.

maia disse...

Cuidado com os saudosismos. A minha infância tnha espaço, brincava na rua, mas eu, nos anos 40, era uma privilegiada, porque fui para a escola. A maioria dos miudos ia trabalhar. Não era proibido o trabalho infantil. Então havia Salazar, censura, prisões políticas, Tarrafal, mais de metade da população não sabia ler nem escrever, aumentando a percentagem no caso das mulheres.
Está hoje tudo bem? Não, não está. Temos de ser exigentes e estar alerta, denunciando, denunciando sempre. Mas cuidado, que aquilo que PS e PSD querem é mesmo voltar para trás no que de pior existia. Não podemos ser nós a dizer que dantes é que era bom. Eu nunca mais quero o dantes, mesmo com todo o espaço que a Azervadinha me oferecia.
Nas "10 Estratégias de Manipulação Mediática" de Chomsky, está lá tudo o que eles querem: criar problemas, para oferecer as soluções, distrair, criar crises, para ser mais fácil ir gradativamente, suprimindo direitos, privilegiar os aspectos emocionais mais do que a reflexão, manter-nos na ignorância e na mediocridade, tratando-nos como crianças ou deficientes mentais, etc, etc.
Temos de não ir neste canto do cisne, procurando não perder o que foi bom, enterrando o que foi mau, lutando para não deixarmos que considerem que os direitos são uma esmola.

Op! disse...

Já li Marck Twain!

José Rodrigues disse...

A diferença está nos garotos que nós fomos,e nos canalhas que estes(a azul) no texto são...

Abraço