quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Palestina, Abu Ghraib, Angola...



Vivi há muitos anos a infelicidade de ter a minha juventude conspurcada pela visão de fotografias que alguns filhos de pessoas conhecidas dos meus pais enviavam de Angola. Estavam na guerra colonial. Participavam, sorridentes e de charuto na boca, em poses colectivas para a posteridade, com as G-3 na mão, um sorriso imbecil na cara e uma das botas em cima da última peça de "caça" abatida, que tanto podia ser uma pacaça, como uma palanca-negra... como um preto "turra" morto.

Recentemente, todos fomos abalados pelas fotografias tiradas por jovens militares dos EUA, violentando barbaramente prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib. Agora chega mais esta notícia de uma miúda de pouco mais de vinte anos, militar israelita, que se diverte visivelmente com a humilhação de prisioneiros palestinianos amarrados e vendados.

Todos estes “desvios” do comportamento humano têm um fio condutor. O cenário é a guerra e os “inimigos” que são abusados estão, ou mortos, ou sem qualquer capacidade de oferecer resistência.

Estes rapazes e raparigas nasceram assim, maus e cobardes? Não, nem tampouco nasceram anjos. São, parafraseando o poeta Aleixo, nem espertos, nem brutos, são simplesmente o produto do meio em que foram criados. Para essa “criação” muito contribui o treino militar que recebem, ainda a sair da adolescência, treino militar regido pela apologia da violência e disciplina de contornos sempre a roçar uma espécie de ideal nazi.

Claro que quando os resultados desta “educação para a vida” são vistos “cá fora”, para escândalo de milhares de cidadãos, como foi e é o caso desta mania das fotografias para a posteridade, até os generais que os “educaram” se vêem forçados a mostrarem-se muito chocados e indignados. Desta vez também não vai falhar. A jovem israelita Eden Aberjil, embora já não possa ser julgada militarmente, por ter acabado o seu serviço militar, será “fortemente censurada”!

É por estas e por outras que quando ouço alguém lamentar que agora, com o fim do Serviço Militar Obrigatório, os nossos jovens já não são educados para serem “Homens a sério”... fico sempre a pensar coisas que, por decoro, não escreverei aqui.

9 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Fotografias muito tristes e que bem ilustram o que o sistema de educação e a sociedade podem fazer de um ser que não nasce nem bom nem mau. Mas se esse ser nasce num meio já degradado pelas condições sociais e sem qualquer espécie de oportunidades, então no que poderá transformar-se? Tanto que há a dizer sobre isso!!!!!!!

Um beijo.

Maria disse...

Memórias tristes de um tempo que não queremos que volte.
Noutros pontos do globo queremos é mesmo que acabe...

Beijo.

Antuã disse...

Estes crimes são o resultado da intoxicação feita aos militares por sistemas nazi-fascistas. Quanto ao serviço militar obrigatório sou a favor dele já que representa opovo em armas ao contrário do que acontece hoje com soldados mercenários dispostos a tudo menos defender os seus povos. Além disso são tão poucos que o governo caga nos seus direitos.

svasconcelos disse...

Chocantes, as imagens...:((
bjs

Luis Ferreira disse...

O animal no seu esplendor, o homem é assim mesmo quando não é preparado em condições. Não precisa de grandes literacias, precisa isso sim de educação e são logo os pais que a devem dar e depois a escola e no seu todo a sociedade. Numa sociedade, enfim como a nossa e imagino a israelita em que não existem valores, as pessoas são números e médias o que se pode ter são exemplos destes e nós por aqui vamos tendo outros que diferentes mas para lá caminham.
Fugindo do assunto, estou a ouvir um ministro dizer que a área ardida em Portugal não tem nada a ver com os numeros de 2005, então o homem acha que ainda pode arder mais...porra!

Suq disse...

Quando se nasce com "direitos" assegurados como é o caso da "educação" e sucesso garantidos, menospreza-se o valor e sentido da verdadeira Educação.

O indivíduo não se cultiva por viver no País X ou Y e não se educa por frequentar escolas. Ao centrar-mo-nos na peculiaridade do indivíduo, quase como o centro do mundo escolar, afastamos dele a inerente responsabilização como ser social e em sociedade, a favor de uma auto-confiança que não nada de estimável.

trepadeira disse...

Enquanto não conseguirmos um sistema em que o valor absoluto não seja o dinheiro.
Enquanto não denunciarmos,gritando,os monstros que vivem,crescem e engordam à custa destes horrores.
Não sremos nem libres,nem cultos.
Um abraço,
mário

Op! disse...

Sem um serviço militar obrigatório temos um agora um exercito de "carreiristas", o fim do smo monopolizara a posse das armas e a aptidão para o seu uso...
Enfim já deu para perceber que sou defensor do smo.
A questão que se levanta quando nos surgem estas imagens é: Que género de treino devem ter os militares de uma nação? A verdade é que cada país tem um exercito à semelhança dos objectivos políticos do seu governo! Temos portanto para um governo nazi (em Israel) um exercito nazi (israelita).

Fernando Samuel disse...

Talvez um dia destes um governante israelita venha pedir desculpa e pronto, passa a falar-se só da desculpa...

Um abraço.