terça-feira, 10 de agosto de 2010

Dificuldade de governar



Da desgraça que todos os anos (nuns com maior violência, noutros menor) se abate sobre as nossas florestas e até sobre o casario de pequenas freguesias rurais, pouco há para dizer. Normalmente, limitamo-nos a ficar esmagados perante as tremendas imagens e o indizível desespero dos que perdem em minutos os, tantas vezes, parcos frutos de uma vida de trabalho.

Pouco há para dizer, mas mesmo assim... há que reconhecer que, em dias de tal calor e perante o crescente fenómeno doentio do fogo posto, é inevitável que aconteçam os incêndios. Já sobre a intensidade, extensão e gravidade desses mesmo incêndios, começa a ser insuportável ouvir falar da falta de prevenção, cuidados na limpeza das florestas, etc., como todos os anos, invariavelmente, ouvimos falar, sem que entretanto alguma coisa tenha sido feita para minimizar a sempre anunciada tragédia.

É igualmente de notar que a esmagadora maioria dos incêndios e da destruição se dá nas florestas, ou de proprietários desconhecidos, portanto, tecnicamente, florestas abandonadas, ou em pequenas propriedades de pobres, ou mesmo de remediados que até cuidam dos seus pinhais ou eucaliptais... mas que, dada a vizinhança com as leiras dos pobres, vêem o que é seu ser igualmente destruído. Já as florestas dos muito ricos, como as grandes empresas de pasta de papel, só por grande acidente são beliscadas, pois as grandes áreas das explorações permitem investir nos cuidados continuados de limpeza, abertura de caminhos, construção de corta-fogos, vigilância, meios privados de combate a focos de incêndio, etc.

No meio da tragédia, uma coisa é indiscutível: a coragem interminável e a entrega admirável dos corpos de bombeiros, que quando não estão a lutar contra os incêndios, estão a lutar contra a falta de meios que lhes são proporcionados pelo Estado para combater esses mesmos incêndios.
Meios e material que está sempre quase a chegar, ou em períodos eleitorais, ou nos flashes de entrevistas a autoridades oficiais, durante os fogos e para as câmaras de televisão.

Entretanto, enquanto o Governo está mais virado para o calor, mas das férias, e a catadupa de notícias sobre incêndios florestais e perdas materiais e humanas que entope os telejornais nem deixa os cidadãos pensar em mais nada, lá “sobrou” para o desgraçado do Dr. Rui Pereira, ministro da Administração Interna, ir dar a cara por um dos maiores desastres destes últimos dias. Comecei a “comover-me”, primeiro, com a descrição da excelência da actuação governamental na resposta à calamidade, deu-me um nó na gargante quando declarou que leva deste incêndio «as melhores recordações de solidariedade que viveu com o presidente da Câmara»... mas quando durante a descrição das suas várias reuniões, o ministro realçou o facto de uma delas, ontem, ter acontecido «já passava das duas da manhã»... confesso que quebrei e fiquei lavado em lágrimas com pena do ministro e esmagado pelo peso do seu sacrfício pessoal.

Bem dizia o Bertold Brecht:

«Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros… … »

8 comentários:

Suq disse...

Teus olhos ardem de tanto lacrimejarem?!

São lágrimas São lágrimas

São lágrimas São lágrimas

Vivo Zéi Cabra!!!!

Maria disse...

Os ministros trabalham que se fartam incluindo sábados domingos e feriados não têm férias estão sempre prontos a aparecer nas televisões vão aos fogos às festas às falésias e tu ainda dizes..... ai que estou cansada só de escrever imagina eles que fazem isto tudo.

Abreijos.

Op! disse...

Consisero-me um defensor das nossas florestas, mas nunca tinha reparado no pormenor que apontas sobre as florestas dos mais ricos serem intocáveis pelos incêndios. Sinto embaraço por isso!

Quanto à falta de meios há que salientar que uma vez em época de incêndios compramos submarinos à Alemanha.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Quanto a mim o (des)Governo relativo Português tem sérias responsabilidades neste estado relativo aos incêndios.
Sim, as matas dos desconhecidos efectivamente são as que mais depressa ardem, como também são das que continuam por limpar. Penso que há Legislação que permita aos Municipios e penso que em parceria com a IGF, pugnarem por um efectivo ordenamento e gestão da floresta de maneira que se evite ciclicamente esta ctatástrofe anual, e que muito lesa o ambiente.
Depois diga-se temos uns Senhores de boina (quse sempre mal posta) que falam do andamento do combate aos fogos numa linguagem que só eles que são técnicos percebem alguns com pouca prática face à sua idade. Assim efectivamente é muito dificil.
Diga-se que o combate a incêndios é da responsabilidade do Ministério da Administracção Interna, precisamente um dos ministérios que mais e mais tem falhado não só a este nível, como ao nível da própria Segurança
Interna.
Sem sombra de dúvidas que o que tem salvo males maiores tem sido: "a coragem interminável e a entrega admirável dos corpos de bombeiros". PARA TODOS ELES O MEU SINCERO APREÇO, E RECONHECIMENTO.

Anónimo disse...

O senhor está velho para essas tardias reuniões pois claro, se ele e o resto do governo fossem para as Bermudas, todinhos e, ás vezes os aviões pregam partidas, cruzes canhoto como diz o outro.
Então e se senhor pegasse na mangueirinha durante toda a noite para apagar a incúria do seu governo em tomar medidas no terreno para que a nossa floresta tivesse mais a ver com os nossos carvalhos, castanheiros, etc... e não mandassem para casa os vigilantes que alguma coisa faziam.
Arde menos dizem eles pudera, já ardeu...
E o depois nada se faz é um desconsolo viajar pelo interior, despovoado e só se vêem pedras.

Fernando Samuel disse...

Já passava das duas da manhã?: que acto de heroísmo, que exemplo de sacrifício!...

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

A minha simpatia e homenagem vai para os bombeiros e o pobre povo que vê ameaçados os seus parcos haveres. Para ministros não porque grande parte da responsabilidade é deles.

Um beijo.

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Uma fonte do M. A. I. classificou ontem dia 10, o "clima de fogos como uma guerra". Ora bem eu na minha pacata forma de pensar disse logo: temos tropa de engenharia de muito boa qualidade e com bom material para construir estradas e pontes ... em outros teatros de guerra e fora de Portugal, porque não mandá-las regressar e começarem a fazerem diversas e utilissimas tarefas de arranjo de terrenos, em que são especialistas?.
Existe na Força Aérea corpos de Bombeiros com pessoal muito bem preparado e que só periódicamente faz exercícios de treinamento para sua operacionalidade e manutenção de equipamento, porque não também utilizar estes homens e mulheres na ajuda aos bombeiros voluntários e municipais?.
Prevenção. Temos na G. N. R. a especialidade de cavalaria, em que existe um corpo de elite (para manutenção de ordem pública) e até só pisteiros; porque não estes homens e mulheres na "pré-epoca" incendiária fazerem vigilância nas estsrdas rurais vigiando monte s e vales e até nos agregados de casas mais dispersos?.
Era ou não era uma optimização de "recursos humanos" em ... Portugal, e para os Portugueses?.
Uma certeza tenho eu; poupava-se dinheiro e não se sobrecarregaria mais posteriormente os já sacrificados contribuintes.