Em mais uma reflexão eleitoral, gostaria de falar de dois temas, o primeiro constituído por duas alegrias e o segundo por um facto que não sendo para mim propriamente uma tristeza (há que ser sincero) também não é de todo motivo de festa.
Primeiro as alegrias, neste caso, o facto de as populações de Felgueiras e do Marco de Canavezes, investidos da sua sabedoria popular e independentemente dos partidos em que votaram maioritariamente, terem escorraçado das suas Câmaras Municipais aquelas duas aberrações políticas que dão pelo nome de Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres, ao contrário, por exemplo, dos “licenciados” e altamente “tecnológicos” eleitores de Oeiras.
Também gostaria de poder comentar a eleição de Valentim Loureiro... mas à segunda frase do homem os meus ouvidos, em legítima defesa, bloquearam, razão pela qual não faço a mais pequena ideia do que possa ter dito. Mas imagino...
Passando para o segundo tema, desde as últimas eleições legislativas que embora não escrevendo aqui uma linha sobre o tema Bloco de Esquerda e a sua extraordinária performance eleitoral (o que poderia ser mal interpretado), tenho, em conversas privadas defendido a ideia de que teria sido muito bom terem, dirigentes e militantes, moderado a dimensão e ruído da festa, em alguns casos muito centrada na ultrapassagem da CDU pelo BE, festa apenas atenuada pelo facto de o próprio BE ter sido ultrapassado pelas propostas populistas e xenófobas do CDS-PP de Paulo Portas.
Teria sido bom, tenho eu defendido, porque vinham aí umas eleições para as autarquias locais e porque era evidente não ser fácil, em dez anos de existência, criar uma ligação às populações, criar um historial de trabalho e obra realizada, criar uma imagem de responsabilidade e credibilidade que, convenhamos, é o ingrediente que mais conta numa eleição autárquica, mesmo que aqui e ali isso não seja conseguido pelos métodos mais limpos.
Por tudo isso, fui prevendo que mais tarde ou mais cedo, o BE seria forçado a devolver ao Partido Socialista os milhares e milhares de votos que estava extemporaneamente a festejar e a chamar “seus”. Por culpa deste caprichoso calendário eleitoral a “coisa” deu-se muitíssimo mais cedo que tarde. Bastaram 15 dias!
São várias lições de uma assentada:
- O povo, felizmente muitas vezes, não está disposto a ser publicamente enxovalhado pelo seus representantes e dirigentes.
- Uma certa classe média alta, bem retratada pelos “licenciados” de Oeiras, desde que “se dê bem” e tenha “o seu” ao fim do mês, está-se completamente borrifando para tudo e todos.
- O Bloco de Esquerda tem muito trabalho pela frente e muito para aprender, como muito bem disse Francisco Louçã logo no rescaldo do anúncio dos resultados... e não, isto não é nenhuma vingançazinha pela festa esfusiante do BE na noite das legislativas ou "deboche" pelo compreensível velório da noite das autárquicas. Para isso, eu teria que estar muito contente com os resultados da CDU e ter feitio para dar golpes em quem está (momentaneamente) no chão e francamente... nem uma coisa nem outra!
A História e o percurso de todos os partidos e movimentos sociais que a vão fazendo, estão aí, como livros abertos. A arte está em identificar as coisas más e apreender as boas, que naturalmente serão (umas e outras) o pavimento dos caminhos que todos faremos.
Nota: Não, não me estou a “esquecer” da CDU. Esta coisa das reflexões é para continuar.
9 comentários:
ESta coisa de comentar as eleições até é fácil. Difícil é ter de aguentar o Valentim por mais quatro anos e isso é o que me espera. Xiça penico!
Excelente reflexão.
Um abraço.
Uma boa reflexão, mas creio que foi igualmente positiva a derrota de Pedro Santana Lopes na cidade de Lisboa e tudo aquilo que esse candidato representava.
O seu regresso como candidato e os vários apoios que foi colhendo, ao longo da campanha, foram perigosos, pois não havia uma coligação de esquerda para lhe fazer frente e deixar, assim, a população lisboeta mais descansada.
Pelo contrário, tivemos que esperar até à 1 da manhã para ter a certeza que esta faceta perversa de uma certa classe política tinha sido derrotada.
O problema agora é saber se este movimento de gente descontrolada e com ideias conservadoras, como também destabilizadoras, irá regressar.
Confesso estar um pouco fatigado de algumas guerras, ressentimentos e provocações trocados por membros do BE e da CDU.
Creio que já está na hora de alcançar um acordo para uma força necessária para, em casos perigosos, fazer frente aos conservadores de mentalidade arcaica e, desta forma, conseguir maior estabilidade para a nossa democracia.
Gostei desta reflexão. Venha a próxima.
Abreijos
(ai oeiras...)
Boa reflexão,como sempre!
:))
Não percebo a razão pela qual os votos perdidos pelo Bloco das legislativas para as autárquicas, são a devolução ao suposto dono o PS e as percas da CDU que em Lisboa ficou bem demonstrado foram inteirinhas para o PS, não são elas também uma devolução?
Não creio que a questão de quem tem mais votos, vulgo força, se o BE ou o PCP é assim tão importante para as gentes do Bloco, vejo a CDU/PCP bem mais preocupada e isso sim, incapaz de aceitar o veredicto. Mas tem mais... o Samuel sabe, e não lhe fica bem fingir que não sabe, que as legislativas não são comparáveis às autárquicas... portanto tirar ilações da suposta descida do BE... é no mínimo mau perder... No que confere ao que é comparável, autárquicas com autárquicas o Bloco até subiu, tem mais eleitos e mais votos, isto apesar do desaire em Lisboa... que infelizmente não foi apenas do Bloco, ao que parece o mesmo mal atingiu a CDU...
Se calhar o Samuel deveria estar zangado com o camarada Carvalho da Silva. Aquela declaração de apoio que depois não era, ao António Costa, deixa muito a desejar… não parece ter sido acidental, parece até que foi muito bem orquestrada... Mas digo mais, aquela declaração foi a certidão de óbito do vosso segundo vereador...
Mais que os malefícios que o Bloco vos possa causar deveriam preocupar-se com a vossa própria casa. As declarações de apoio ao Costa vieram de muito lado, mas vieram sobretudo de nomes ligados ao PCP, a sabe: José Saramago, Carlos do Carmo e Carvalho da Silva.
Porquê essa raivinha surda para com o Bloco? Porquê camaradas?
Salvoconduto:
Realmente... ☺
Fernando Samuel:
Abraço.
Miguel Botelho:
Claro que foi positivo pôr uns patins no Santana! E na “croma” de Leiria e na Sanfona de Alpiarça, e... e... e...
Vá lá... não se fatigue ainda. Os ressentimentos e provocações não são nada, se comparados com o que há de realmente importante para fazer.
Maria:
Viva, Maria! E que tal estão as coisas pelo Oeste? A tribo do Zambujal chegou em paz? ☺ ☺
Gabriela:
☺ ☺
JotaCê:
Mais uma vez, a inexplicável e extraordinária hiper-sensibilidade dos militantes do BE... estragou-te o comentário.
Primeiro, fruto do tal super sensível alarme para qualquer referência ao BE, não viste mais nada no texto.
Segundo, mesmo isso que viste, viste mal!
Terceiro, ainda gostava de perceber onde diabo é que, neste texto, finjo não perceber as diferenças entre legislativas e autárquicas. Aliás, onde raio é que as comparei?
Tudo o resto que foste acrescentando apenas para justificar a acusação de “mau perder”, é apenas a prova de que não me conheces mesmo. ☺
Se nas legislativas a CDU aumentou o número de votos, de onde raio veio aquela maré alta de eleitores que inundou o BE, maré que até a vocês deixou embasbacados? Do CDS? Não... esses também subiram muito. Do PPD? Não me parece... esses foram todos para o CDS. Então porque é que é tão ofensivo dizer que o regresso em massa dos votos que tinham vindo do PS, foi uma “devolução” de votos? É a palavra “devolução” que dá a ideia de terem ido lá pessoalmente entregá-los e pedir desculpas?
Não era o que eu queria dizer, mas se é o caso, pronto, eu peço desculpa pela palavra! Não posso fazer mais para ajudar. Para além de alguns amigos, já contribuí com o meu único irmão para o BE, foi candidato e tudo... ☺ ☺ ☺
Preferia que os vossos comentários fossem como os de alguns anónimos reaças a que normalmente apenas respondo “pois”. Que trabalheira!!! ☺ ☺ ☺
Abreijos generalizados!
Samuel,
BOA MALHA!
já agora, espero que o JotaCê tenha entendido.
Um Abraço
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