quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Portugal - Argentina


Não... não vou comentar e analisar o jogo de futebol que pôs ontem frente a frente as seleções nacionais de Portugal e da Argentina. Primeiro, porque não quero. Segundo porque não sei. Ou então... na verdade não sei porque não quero, ou não quero porque não sei... não interessa!
Uma ida ao café da esquina mostrou-me que o tão (e tão mal) anunciado jogo, estava mesmo a acontecer. Mesmo sendo curto o tempo de uma bica acompanhada de umas frases de circunstância, ficam duas constatações:
1. O aspecto patusco da composição das equipas, quase apenas com jogadores que não jogam nem em Portugal, nem na Argentina... e que, nalguns casos, até jogam “para o mesmo lado”, como acontece, pelo menos, com o português Ronaldo e o argentino Di Maria, ambos jogadores do Real Madrid.
2. A miserável motivação que devem levar para o campo muitos dos jogadores, que viram durante vários dias o jogo ser anunciado nos média como um fantástico “embate de estrelas”... mas apenas entre dois jogadores: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
Na verdade, pensando bem, onde é que está escrito que é obrigação do jornalismo desportivo ser interessante e inteligente?
Claro que, para além do estatuto de únicas estrelas, também têm em comum a “arte” de levar para casa todos os meses, os dois somados, à volta de dois milhões de euros, o mesmo ordenado que cerca de 4.000 trabalhadores portugueses auferindo o salário mínimo nacional. Quatro mil! Todos os meses!
Mas isso é uma discussão inútil, sobretudo para aqueles que já se “converteram” à pura lógica do “espetáculo desportivo” e desculpam todos estes excessos dos seus ídolos e do sistema demente que os produz, esquecendo que já houve um tempo em que os “ídolos” do futebol (e não só) praticavam realmente desporto, feito do famoso “amor à camisola”, sem deixarem de dar grandes espetáculos... mas vivendo dos empregos que tinham fora do clube, ou, se eram pagos pelo clube, era com vencimentos que tinham que ver com "a realidade" da vida das pessoas. Nem por isso, pelo facto se não serem multimilionários, eram menos craques ou menos admirados e amados pelos seus adeptos.
Para quem não ia dizer nada... já me “estiquei” a falar de coisas que, como disse logo a abrir, pouco sei.

17 comentários:

Anónimo disse...

Para quem diz que não percebe nada do assunto, está muito, mas mesmo muito bem escrito.

Campaniça

Maria disse...

'Esticaste-te' bem... eu nem sabia que a selecção jogava. Também não sou dada a futebóis, mas fico escandalizada com os montantes pagos a certos jogadores...
Saudades de te ler :)

Abreijo.

Ana Martins disse...

Pois é, isso é tudo verdade e eu sei disso tudo e tudo isso me indigna. Mas ainda assim, eu gosto de ver um jogo de futebol uma vez por outra... Até porque, não são menos craques por serem multimilionários, nem o futebol deixa de ser um desporto bonito por ter uma máquina envolvente muito feia.
Mas a razão ninguém ta tira.

jrd disse...

Tens razão. O futebol em si não é um insulto. 'Insulto' é o que fazem dele e com ele...

Antuã disse...

Nem sei como ficou o jogo!... Aquilo não é futebol, mas uma mafia

César Ramos disse...

Boas,

Se calhar a m/conversa é mesquinha e sem fundamento; porém, arrisco ter ouvido - e nem quero acreditar - que havia bilhetes a mais de 300 euros!??

Desculpem a m/falta de patriotismo, mas nem sei quem ganhou!...

Quanto às estrelas serem apenas duas, uma em cada equipa, o melhor era efectuarem uma disputa corpo a corpo e poupava-se arame até dizer chega!

Esta atividade opiácea ainda vai acabar em "playstation": é cómoda, mais barata e dá... com os pés e pontapés nos tipos dos chutos [na bola, claro]!

Saudações amistosas, e desportivas só se, for, das que ainda são saudáveis!

Abraço
César

José Augusto disse...

Para quem confessa pouco saber sobre o assunto em causa, o seu texto está muito bom,é pena que não fosse mais longe e não denuncie outras situações ainda mais escandalosas, como por exemplo os montantes que envolve os salários por vezes superiores que ganham os ditos gestores que comandam os clubes de futebol,e ainda o não menos importante branqueamento de capitais que gira em torno desta modalidade desportiva.

Por simples curiosidade,já agora uma pergunta: Como ainda vai fazendo uma perninha a cantar as suas canções, e como por norma nunca é conhecido os montantes que envolvem a contratação dos nossos artistas e cantores, só para me dar uma ideia, quanto cobra, por concerto ou nas simples participações que é convidado a fazer.

Os meus cumprimentos

José Augusto
Ex-futebolista

Suq disse...

Samuel fala de música e de músicos e não te faltaram palavras para descrever e comparar o que de analogias encontras no mundo do futebol e da "música espectáculo". Como todos sabemos ambos são usados politicamente e ambos têm verdadeiros milionários, vá-se lá saber porquê? - Mas o que eu penso ninguém liga!

samuel disse...

José Augusto:

Meu caro José Augusto

Fazer segredo de quanto se ganha por mês é um luxo a que os milhões de portugueses que trabalham por conta de outrem não se podem dar. Sendo assim, embora a sua pergunta seja pouco habitual, mas em compensação muitíssimo direta... aí vai.

Nesta coisa das cantigas, em Portugal, os cachets podem ir dos cerca de 50.000 euros por espetáculo, do Tony Carreira... a nada, que é o que uma grande parte dos “organizadores” do tipo de cantigas que eu canto, têm (muitas vezes) para oferecer.

Independentemente de, por vezes, ter que cobrar um cachet com que possa pagar aos quatro excelentes músicos que (infelizmente, poucas vezes) me acompanham, pagar sistema de som, deslocações, essas “minudências”... o número de sessões em que acabo por cantar sozinho e não cobrar nada - vírus apanhado por contágio de um tal Zeca Afonso – faz descer violentamente a média, com sorte, para os 500 euros por “evento”... sendo que há mais meses no ano com ZERO SESSÕES do que com uma... ou duas... mas, felizmente, a minha atividade musical não se resume a cantar.

Assim e já que estávamos a falar do Cristiano Ronaldo, para ganhar todos os meses o MILHÃO de euros que ele ganha, teria que fazer 66 CONCERTOS POR DIA.

Se considerarmos que um concerto normal pode ter uma hora de duração, cada dia teria que ter 75 HORAS... para dar tempo de dormir qualquer coisa, comer uma bucha, telefonar para casa...

Fora de brincadeiras com milhões... quero acreditar que, cada vez mais, seja possível ir diminuindo as “borlas” e dando a este “género” de canções (e a esta maneira de as cantar) a dignidade que exigem e merecem.

Espero ter sido elucidativo. ☺ ☺ ☺
Saudações.

JOSÈ GAGO disse...

Bravo Samuel! Para que não percebe
nada do assunto futebol,digo-te que
acabaste de marcar dois grandes golos...!
Um pelo excelente post,e outro pela
resposta ao nosso amigo ex-futebolista José Augusto. (Se for o
José Augusto que eu penso,só deve
lamentar-se de ter nascido uns cinquenta anos mais cedo) talvez
se falasse agora em mais alguém
para alem do Cristiano Ronaldo...
Portanto, em termos de resultado
nesta altura:
DIGNIDADE-2 HIPOCRISIA-o

Um abraço, JOSÈ GAGO

Léo Nogueira disse...

Touché!

Anónimo disse...

Samuel
Eu vou criticar outra ideia que não vi até aqui aflorada. Que governo é este que dá à federação do Madail( que não quer largar o tacho de maneira nenhuma) dinheiro para irem brincar para a Suiça a jogar à bola quando anda a roubar a quem trabalha dinheiro até do ano de 2010. É que estou convencido que esta brincadeira custou mais de 300 mil euros do dinheiro público. Sobre os jogadores, penso eu, são trabalhadores que ganham do seu trabalho uns muito bem e outros muito mal chegando ao ponto, alguns, de nem receberem aquilo que os dirigentes se responsabilizam a dar.
Se fizerem como eu que aos 60 anos nunca entrei em nenhum estádio de futebol pois tenho asco aos estádios de futebol porque foi num que mataram Victor Jara (para o Zé Augusto) e não qualquer jogador de futebol, veriam que as coisas não estariam como estão com eles a roubar os trabalhadores e a aumentarem os ordenados dos futebolistas.
Vitor sarilhos

Fernando Samuel disse...

Para quem não quer e não sabe...não está nada mal, não senhor...

Um abraço.

José Augusto disse...

Eu achei o seu texto interessante e apoiei as suas denuncias e até lhe sugeri que fossem alargadas a todos os intervenientes e lavagem de capitais que existem, como práticamente todos sabemos.

Quanto ao seu esclarecimento, penso que ficou aquem daquilo que podia informar,pois o meio artistico também é fruto de muita ESCURIDÃO e como em todas as industrias essa não é excepção.

Sobre o seu caso, fiquei esclarecido e só tenho pena que os dias não tenham 75 horas..., mas com os tempos que correm, penso que vai ser bastante solicitado, quanto às BORLAS é que tenho DÚVIDAS.

Vitor Sarilhos?
Essa de não ir aos estadios de futebol, porque o Victor Jara foi ASSASSINADO dentro de um,não cabe na cabeça de ninguém.O que é que os estádios de futebol ou qualquer outro recinto desportivo ou outros tem a ver com a BRUTALIDADE FASCISTA dos CARRASCOS de Pinochet?
Cure-se e deixe-se de demagogia.

José Gago
Nâo sou esse José Augusto,sou outro, mas pelo sinal que deu, já vi que só acompanha o futebol dos MILIONÁRIOS.

Os melhores cumprimentos e agradecimentos
José Augusto

samuel disse...

José Augusto:

Se dissesse que o meio artítico é um modelo de virtudes, estaria a mentir descaradamente! É exactamente por isso que eu não pertenço ao "meio artístico". Faço canções, canto poetas, canto o Zeca, o Adriano... tantos outros... e se isso faz de mim, aqui ou ali, um artista, faz-me muito mais uma pessoa com uma tarefa a cumprir.
Seja como for, salvo raríssimas excepções, os meus "colegas" das cantigas comerciais são verdadeiros escuteiros, ao pé dos "boys" e dos tubarões do sistema...

Obrigado pela visita e pelo interesse,

Saudações.

Graciete Rietsch disse...

Ai o desporto amador onde já vai!!!
Como eu gostava de ver os Jogos Olímpicos!!! Mas até esses,agora, estão nas mãos do grande capital!!!

Um beijo.

Mouzinho disse...

Os culpados dos ordenados pornográficos das "estrelas" do pontapé na bola não são os jogadores, são os dirigentes que lho dão.
E se um de vós tivesse um filho que até tivesse jeito e lhe oferecem-sem esses balúrdios o que diziam? "não lhe dêem tanto, isso é muito, metade disso chega...." ou pelo contrário, queriam ainda mais?
Quando toca a dinheiro somos todos iguais, é sempre pouco.