quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ranking das escolas - Competir, competir, competir!



Embora correndo o risco de atrair à caixa de comentários algum "maduro" saudosista que nos venha vender a ideia de que o ensino no tempo de Salazar é que era bom, independentemente do facto de ser só para alguns (pequeníssimo pormenor...), ensino onde as aulas decorriam na paz e colorido que a imagem tão bem ilustra... mesmo assim aí vai.

Mais uma vez, cumprindo o que é já um hábito tão novo quanto inútil, aí temos o ranking das escolas portuguesas. Mais uma vez, inexplicavelmente, mistura-se alhos com bugalhos, compara-se o que não tem comparação possível, juntam-se a esmo escolas públicas perdidas no campo do interior do país, ou nos bairros miseráveis eufemísticamente apelidados de bairros problemáticos, perdidos nas periferias das grandes cidades, com colégios privados, de várias cambiantes de luxo.

Mais uma vez, vêm uns génios explicar-nos terem “descoberto”, certamente com grande espanto, que as escolas particulares, frequentadas pelos filhos da classe média-alta e pelos francamente ricos, que, salvo excepções, têm em casa todas as condições para apoiar o trabalho da escola, escolas onde na maior parte dos casos se impõe uma rígida selecção à entrada e uma disciplina férrea que não permite a menor perturbação do ambiente produtivo das aulas, em turmas correctamente dimensionadas e com professores motivados pelas excelentes condições de trabalho... quase sempre têm tendência para produzir melhores resultados do que a esmagadora maioria das escolas públicas, sobrelotadas, onde várias décadas de “eduquês” pouco mais que inútil, erradicou das estudantis cabeças qualquer noção de trabalho e esforço, de respeito pelo saber e pelos professores, professores esses martirizados por trabalho administrativo, desrespeitados ainda mais gravemente pela tutela do que pelos alunos, professores que pouco depois dos trinta anos já estão a fazer contas à reforma e a contabilizar os anos que lhes restam de pesadelo, professores diariamente aterrorizados pela possível entrada na sala de aula de algum encarregado de “educação” que venha esclarecer uma negativa do filho à força de pancada, professores impotentes perante o falhanço estrondoso de um conceito de educação que, na ânsia de transformar a escola num espaço lúdico, apenas conseguiu transformá-la numa bandalheira.

Existem, como sempre, várias excepções a estes cenários, tão lamentáveis no primeiro caso, como louváveis, no segundo. Como sempre, também, umas e outras apenas vêm confirmar a regra.

Não vislumbro, como já se percebeu, qualquer utilidade ou sentido, nestas comparações espúrias e na futilidade destes rankings. Qualquer leitor mais conhecedor do mundo da educação, professor ou não, poderá trazer valiosos contributos para este mistério.

Uma coisa é certa. A experiência que eu gostaria mesmo de ver, seria a ida de uma ou duas turmas com alunos em excesso, originárias de uma escola pública situada num dos tais “bairros problemáticos”, directamente para um colégio de luxo, por troca com os alunos de uma ou duas turmas de “génios” do colégio, que iriam frequentar a tal escola pública, juntamente com as restantes várias centenas de residentes habituais. Adoraria apreciar os resultados do colégio, por um lado e dos “génios”, por outro, ao fim de um ano lectivo ou mesmo apenas um período!

Mas claro... posso estar completamente enganado.

10 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Subscrevo integralmente este postal.

A acrescentar alguma coisa seria uma observação muito pessoal: sim, depois de muitos anos de uma "pedabobogia" parola ("os professores também aprendem com os alunos..." -é tudo igual, portanto...- "os alunos são portadores de culturas que devem ser respeitadas blá, blá, blá" - mesmo que se trate de miúdos de dez anos... -, etc, etc...), as escolas tornaram-se lugares onde a maioria dos alunos está por obrigação e onde não têm qualquer interesse nas actividades escolares.
Julgo que se trata também de um problema de civilização, de estilo de vida marcado pelo consumismo, o hedonismo, o facilitismo, a desresponsabilização dos jovens.

Muito haveria a discutir sobre isto...

Saudações cordiais!

Isabel Cardoso disse...

Cara Méon,
quer-me parecer que não entendeu lá muito bem o que no post o Samuel quis defender!Não foi a sociedade do facilitismo e do hedonismo como diz, que destruiu a Escola Pública dos últimos 35 anos que foi, de facto, palco de muitas experiências pedagógicas de grande interesse e que teriam tido um alcance social relevante se o poder político não tivesse investido sistematicamente na sua descredibilização. As crianças e jovens que hoje frequentam as escolas pior classificadas nesse "ranking" que como o Samuel diz mistura o que não podia ser confundido, são as principais vítimas da ofensiva neoliberal levada a cabo por quem quer a velha escola salazarista que promoveu o elitismo, a exclusão e reproduziu fielmente o "status quo" da ditadura. As escolas públicas têm que desenvolver os seus projectos educativos numa resposta qualitativa aos meios sociais em que estão inseridas e em conformidade com o princípio da defesa intransigente de uma escola inclusiva, de qualidade e democrática. Acredito que esta escola pública para todos é uma das soluções fundamentais para sairmos destes ciclos intermináveis de crise e para tal é necessário construirmos uma nova escola arredada destas contaminações "estadonovistas" que só prejudicam a lucidez do debate.Para finalizar,
Samuel, parabéns pelo blogue. Desde há algum tempo que sou uma frequentadora assídua, interessada e em tudo "concordante"(a palavra não existirá?)desta vez enchi-me de coragem e registei o meu comentário porque este é um dos assuntos que me é particularmente caro.
Abraços
Isabel

Manuel Norberto Baptista Forte disse...

Eu no meu simples modo de ver acho a classificação das escolas uma completa aberração, pois não tem em conta diversíssimos factores nomeadamente pôr no mesmo molho, Escolas Públicas e Privadas. Há muito e bom ensino em escolas públicas como o inverso será verdade, assim como para o ensino privado; agora tudo na mesma "gamela"?. Além de que classificar as escolas é uma fuga ao essencial, que sabemos que é discutir com acerto a Educação em Portugal, e vê-la à luz das suas diversas realidades. Assim não ...

Zé quarta classe disse...

Sem me referir ao post que é mais do mesmo, dá vontade de realçar as diferenças entre o texto de Méon e o de Isabel:O primeiro, desencantado mas lúcido, não deixa de apontar os problemas e os erros, acrescentanto os contextos envolventes, as achegas dos nossos comportamentos na forma como se chega à escola. A segunda vai a eito nos lugares comuns, não percebe a diferença dos tempos em que era indiferente quantos ficavam de fora e os actuais onde não se pode ficar de fora. No fundo a diferênça entre educar cinquenta num regime autoritário e fazê-lo para cinquenta mil onde a fácil exclusão antiga custaria caríssimo e já não é encarada com indiferênça, felizmente.
Falar é fácil D. Isabel.Encontrar mártires para garantir o imobilismo também, ó Samuel.

vermelho disse...

É a abertura do caminho ao ensino privado como único local onde se poderá aprender alguma coisa válida. Devagar lá chegarão e quem tiver filhos com os quais se preocupe, tendo dinheiro para isso, não vai hesitar pelo ensino privado. Para esta vereda aberta à custa de catanada muito contribuiu já a Sinistra Ministra, mas outros lhe seguirão as pisadas que violam grosseiramente a Constituição. Para o Zé quarta classe, ele que se anime porque se pode inscrever nas Novas Oportunidades. Não aprende nada, mas isso não interessa porque lhe dão um certificado de equivalência...
Abraço.

duarte disse...

mais um daqueles assuntos, que deve ser urgentemente tratado com a devida lucidez, que parece ter faltado aos nossos governantes.
será que queremos chegar ao ponto de existir uma quantidade suficiente de "revoltosos", para que de repente o caos se instale?
a informação, neste momento, está ao alcançe de muitos. e com ou sem canudos, o povo não vai continuar calado. o rastilho está aceso...
abraço do vale

Fernando Samuel disse...

Estou em crer que essa experiência que sugeres esclareceria luminarmente a questão...

Um abraço.

Julieta Real Ferreira disse...

Sabem o que me faz lembrar este ranking? Esta espécie de ordenação das escolas?

O liceu e as escolas comerciais e industriais e tudo o que isso implicava do ponto de vista social naquele tempo

Zé quarta classe disse...

Vermelho,enquanto não tirares a cabeça debaixo do Avante não conseguirás ver mais do que Sinistras Ministras atrás das pedras. E parece-me que nem com várias oportunidades lá vais!
Toma um abafado e vai dormir. Digo-te eu que sou encarnado...

samuel disse...

Méon:
É uma mistura de muito de tudo isso.
Realmente... “era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto” desde que não fosse aos gritos... que é uma das coisas quem tem inquinado todas as discussões.

Isabel:
Não sei se há assim uma tão grande diferença de interpretações. Vocês estão antes, a falar de coisas diferentes... mas que estão no texto. O Méon escolheu falar da posição de fragilidade em que se encontram os professores. A Isabel, das causas... daquilo que anda manobrando na retaguarda. Na destruição objectiva da imagem do ensino público, através da bandalheira, do facilitismo para “decorar” estatísticas, disfarçado de inclusão. Do mal escondido eneltecimento do ensino privado.

Manuel Norberto:
É uma aberração, mas que serve um objectivo...

Zé quarta classe:
Referindo-me ao seu comentário, que embora seja o primeiro (que me lembre) também é mais do mesmo... essa grande e profunda divisão entre o comentário “bom” e o comentário “mau”, mostra que entendeu muito pouco do post a que (talvez por isso) não se referiu.

Vermelho:
É esse o “produto” que querem vender.
O Zé não precisa. Já deve estar bem instalado no esquema...

Duarte:
O primeiro ministro é a própria negação de uma ideia de ensino de qualidade... mas pode ser que uma nova direcção nos destinos do Ministério da Educação venha a contar com o contributo de todos os envolvidos no processo educativo, que são (pasme-se...) quem mais sabe.

Fernando Samuel:
Como sempre, foste direito ao alvo...
Seria uma experiência altamente “intrutiva”.

Julieta Real Ferreira:
Alguns de nós vivemos isso... sabemos exactamente qual é o sabor.

Zé:
Eu bem disse... mas pelo menos esclareceu-se o mistério de saber quem era o tal português adepto da “sinistra ministra”...
Tem mais uns dias com ela no ministério. Goze-os bem! ☺ ☺ ☺


Saludos generalizados!