sábado, 19 de fevereiro de 2011

Deolinda – Estou esperançado...


(Os "Deolinda" fotografados por Rita Carmo)

As canções têm regras, mas não existe a fórmula do êxito. A canção “marginal” mais intrincada e menos condescendente para com o ouvinte, pode tornar-se um ícone; uma canção “pimba”, fazendo os possíveis por integrar todos os clichés do sucesso popular, pode ser um fiasco comercial.
Também a “autenticidade” não garante coisa alguma. Uma canção carregada de verdades cantadas e escritas olhos nos olhos, pode não dizer nada a ninguém... ao passo que uma canção simples, com meia dúzia de versos de amor sem "destinatário" e uma dose ainda menor de pretensão... pode comover milhões.
Nada é portanto garantido neste mundo das cantigas, sejam elas como forem, de quem forem, ou sobre o que forem.
E assim chegamos ao “Que parva que eu sou”, dos “Deolinda”, e o seu sucesso tão grande quanto repentino. Nada explica o acontecido nos coliseus, embora tudo o justifique. Quase todas as canções dos "Deolinda" são melhores que esta. “Movimento perpétuo associativo”, ou “Um contra o outro”, são apenas dois exemplos disso... mas dois muito bons exemplos. A verdade é que a canção, com as suas palavras aparentemente correntes, escritas sobre uma melodia aparentemente simples demais... acertou em cheio em alguns elementos do público, que reagiu. Reagiu de tal forma, que “acordou” mais alguns, que ainda estavam ali apenas por diversão, e no verso seguinte mais outros, depois quase todos... e foi o que se viu. Conclusão evidente: as notícias sobre a morte das canções “de intervenção” tinham sido manifestamente exageradas.
Dando um salto para trás no tempo, queria recordar-vos a cantiga dos Xutos e Pontapés”, dedicada a um tal “Senhor engenheiro”... e dos verdadeiros engarrafamentos de trânsito sonoro que provocou em 2009. O alarido foi tal e o rótulo instantâneo de “música de intervenção” queimou tanto, que os próprios protagonistas do inusitado feito artístico “panicaram”, desdobraram-se em entrevistas pedindo calma a toda a gente, dizendo que a cantiga não era dedicada a ninguém... e não descansaram enquanto não puseram um dos elementos do grupo sentado numa mesa, com outros artistas “decentes”, apoiando o “engenheiro” José Sócrates publicamente, na sua campanha eleitoral para o segundo mandato à frente do Governo.
Regressando ao presente, passados já todos estes dias sobre a explosão do “Que parva que eu sou” e vendo a evidente diferença entre os dois grupos, estou esperançado de que não verei os “Deolinda” virem a público fazer a triste figura que, então, fizeram os “Xutos e Pontapés”.
Falando agora diretamente com os “Deolinda”... ao contrário do excelente “vão sem mim, que eu vou lá ter”, o verso final do vosso “Movimento perpétuo associativo”... nós, os que já (ainda!) cá estávamos, damo-vos as boas vindas!

20 comentários:

Jane disse...

Os Deolinda são pessoas inteligentes. Por isso nos tocam tão profundamente. Concordo com tudo, excepto na qualidade da canção. Acho que é uma das melhores canções deles. Aquela melodia tem muito que se lhe diga...
**

samuel disse...

Jane:

Talvez por isso mesmo eu tenha escrito "aparentemente correntes" e "aparentemente simples demais", sobre a letra e a música... :-)))
Seja como for, gosto mais das que destaquei. Com as canções é assim... também nunca sabemos exatamente porque preferimos esta ou aquela.

Saudações.

Maria disse...

A canção de intervenção está viva, de boa saúde e recomenda-se!
Há vários 'deolinda' por aí, só que não têm a mesma projecção. Talvez um dia, quem sabe...

Abreijos.

DOCTOR NO, NO, NO VIEGAS NO PLEASE- JUST SAY NO disse...

as notícias sobre a morte das canções “de intervenção” tinham sido manifestamente exageradas....depende do que se entende por canção de intervenção

se se considerar o talvez phoder do abrunhosa a dita canção de....

então também uma canção sobre umas dezenas de milhares que todos os anos cheios de expectativas
esperam que o estado lhes forneça as mesmas mordomias que forneceu aos pais

porque convenhamos é um Hino aos burocratas

tirei um curso de advogada da comunicação social e trabalho num call center

ou sou engenhêro agricola ou agrónomo tanto faz em telheiras

pois.....

se defender os que foram imbecilizados pelo sistema educativo e canção de internação
entã ok

e os da mesma idade que andam a acartar tijolo em espanha e a apanhar morango 10 horas por dia

essa canalha que anda na estiva e na limpeza do lixo por toda a europa obviamente não merece ser
intervencionada

tivessem tirado um curso e já o eram

como o palavreado muda

burgueses de merda (anos 70 assi apelidados por outros burgessos do mesmo teor

geração perdida...pois

LAM disse...

E tão viva está a canção de intervenção que hoje o Zé Mário Branco, e para quem pudesse ter dúvidas, encheu por completo o Rivoli no Porto.

do Zambujal disse...

Ótimo "pequeno ensaio".


Um abraço

Antuã disse...

Normalmente as canções mais intelectualizadas não entram nos ouvidos das pessoas. Todavia, há cantores que, começando por canções simples, vão ao longo dos tempos qualificando os seus trabalhos sendo acompanhados pelo público.

RC disse...

A música de intervenção deve ter hoje, ainda mais razões para existir.
Ainda acredito que é pela música que podemos conquistar o mundo, as pessoas e despertá-las para a vida.
Bom fim-de-semana

irlando disse...

Os pontos nos iis.
Um abraço

Suq disse...

A intervenção vai a intervenção vem ...

aos soluços também ... Engasgos destes não lhe ficam bem!

Ou então como dizia o outro: a mim ninguém me cala!

São disse...

Eu, que já coloquei a canção mo meu blog, espero que tenham vindo para ficar.

Bom fim de semana para vós.

samuel disse...

Hirodito Saikaru:

Se, ostensivamente, não entendeu nada do que se passou à sua volta desde que nasceu, não entende o que se passa agora e, manifestamente, deve ser surdo… como haveria de ter entendido o post, ou ser sequer capaz de o comentar numa "língua" inteligível?
De resto… o "nickname" escolhido, já denuncia a profunda idiotia do que vem a seguir...

Sam disse...

Bem dzido

Samik disse...

A souq (Arabic: سوق, also souk, esouk, suk, sooq, souq, or suq; technical transliteration sūq) is a commercial quarter in an Arab or Berber city. The term is often used to designate the market in any Arabized or Muslim city, but in modern times it appears in Western cities too. It may also refer to the weekly market in some smaller towns where neutrality from tribal conflicts would be declared to permit the exchange of surplus goods. In Modern Standard Arabic the term refers to markets in both the physical sense and the abstract economic sense (e.g., an Arab would speak of the souq in the old city as well as the souq for oil, and would call the concept of the free market السوق الحرّ as-sūq al-ḥurr).

Clube Europeu ESJAL disse...

Gosto bastante! Não vou dizer que gosto mais do que de outros grupos ou
músicas ou letras, que fui conhecendo desde sempre, mas gosto!

JOSÈ GAGO disse...

Parabéns pelo post,Samuel.
Em relação aos Deolinda,corroboro
a cem por cento as tuas opiniões.
O que eu verifico é que eles têm
uma musica "muito á frente" para
certas pessoas que, a única musica
que aprenderam na vida, foi o hino
da Mocidade...
Mas deixa-os cantar - eles até
cantam em japonês,por isso...

Um abraço e bom fim de semana.

JOSÈ GAGO

jrd disse...

A maneira mais inteligente de se afirmar que não se é parva.

Abraço

Fernando Samuel disse...

Magnífico texto!

Um abraço.

Graciete Rietsch disse...

A música de intervenção é tão útil como discursos e com+ciois . Têm o seu local próprio mas chegam muito depressa ao povo.

Um beijo.

Anónimo disse...

se a intervenção é na base da "geração" então estamos mal. Não é uma questão de gerações, mas sim de classes! Qual geração estamos a falar?

Os famosos "mercados" são pessoas maioritariamente entre os 25 e os 40 anos, que vivem de extorquir desempregados de 55 anos e a roubar pensionistas de 70 anos que ganham 200 euros. E lá se foi a tanga da geração!