“Que Deus-Nosso-Senhor nos dê muita saúde...
... e muitos clientes a tê pai!”
Esta frase ficou famosa na Angra do Heroísmo dos anos sessenta do século passado. Era uma frase-feita muito repetida pela mãe de um jovem angrense, um pouco mais velho do que açoriana que ma ensinou. A frase é de um tremendo humor negro, já que o pai do rapaz e marido da senhora era proprietário de uma agência funerária. Daquelas à antiga, que fabricavam os seus próprios artigos. O forte apego da senhora às questões materiais podia admirar-se também nos seus famosos presépios, que exibia orgulhosa e cujas numerosas figuras eram vestidas com restos das sedas dos caixões... presépio “monumental” que, para aproveitar o roxo, contava até com uma procissão do “Senhor dos Passos”.
Até hoje, todos os terceirences que se lembram deste dito da sua conterrânea, continuam a achar-lhe muita graça... e a não levar a mal aquilo que realmente significava.
Noutro contexto, o senhor secretário de estado do turismo do Governo de Portugal, um tal Bernardo Trindade, ainda não conseguiu perceber que não lhe fica nada bem, nem como governante, nem como ser humano, insistir na ideia de que as convulsões que ocorrem em países como o Egipto, a Tunísia, Marrocos, ou Líbia... são boas para Portugal (!!!)... e isto, porque no entender do secretário de estado, os turistas poderão fugir desses países, optando por passar férias por cá. É, no fundo, o mesmo “desejo” da esposa do cangalheiro... mas envolvendo muito mais mortes e milhões de euros de “ganhos”.
Então porque é que eu, embora também achando muita graça à senhora da Terceira, considero o secretário de estado um piolhoso político?
Primeiro, porque aquilo que se está a passar no Médio Oriente não se deve ao mau tempo. As “convulsões” que, em teoria, podem trazer para cá umas centenas de turistas assustados, sendo movimentos sociais e políticos que poderão vir a transformar a face de uma grande área do planeta, estão, nesta fase, a custar centenas de vidas de cidadãos desses países, se não forem já milhares.
Segundo, porque o secretário de estado não está a falar com o filho, nem é uma senhora semianalfabeta da Ilha Terceira dos anos sessenta, mas sim um membro de um governo que se diz socialista e em 2011.
Terceiro, porque ainda que o governante e o governo sejam suficientemente reles para pensarem assim, deviam ter ao menos o decoro de não o dizer em público.
Quarto, porque acho que já perdi a paciência para estes pequenos pormenores... que nem por serem pequenos, nem por serem pormenores, são menos asquerosos.
11 comentários:
"piolhoso político" é uma expressão tão boa, quanto a que dá o título a este post. Gostei!
Boa,Samuel! Cinco estrelas!
Só que essa do "piolhoso politico"
Gostaria de ter sido eu a inventar.
Que parvo que eu sou...
JOSÈ GAGO
Grande post.Por acaso também ouvi o palerma do secretário Bernardo (santíssima )Trindade e pensei:arre porra que é demais!
Abraço
Tens toda a razão, já não há pachorra para tanta tacanhez e espírito pacóvio! Mais vale a tal senhora com a procissão dos Passos no presépio:))))
Samuel
Só espero que o secretário da treta não pague com lingua de palmo aquilo que disse. Digo-te que nem todos têm a tua capacidade de análise pois eu também ouvi o que disse "a besta" mas "só" pensei que "o piolhoso" estava a fazer contas com o ovo no cu da galinha.
Digo-te só que a tua análise vale 100 pontos.
Vitor sarilhos
Estes incompetentes não se importam de ganhar dinheiro nem que seja à custa de dezenas, centenas, milhares ou milhões de vidas humanas. É assim o Capitalismo!
Tinha "ouvisto" essas verdadeiramente inacreditáveis afirmações desse boyzinho e pensava comentar, mas tu disseste tudo. E bem!
Eu meti-me por outros caminhos... e tinha perdido o tal "menino".
Um grande abraço (também para logo)
Boa malha
Em matéria de abjecção, esta cambada não pára de nos surpreender...
Um abraço.
Não podes comparar, Samuel. A senhora da Terceira era muito mais inteligente que o senhor do turismo. "Só nos saem duques", como se diz de uma disribuição de cartas que não nos calhe bem. Com a desvantagem de que não podemos influenciar a distribuição das cartas, mas, teoricamente, temos poder de escolher quem nos governa.
Um abraço.
Daniel
Que falta de humanidade!!!!!!!
Um beijo.
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