Petições, manifestações, observações... e uns tantos "senões"

Mote:

          “P’ra mentira ser segura

          E atingir profundidade

          Deve trazer à mistura

          Qualquer coisa de verdade”

                                          (António Aleixo)

Tema nº1:

Desde há uns tempos que quase todos os dias a minha bica matinal é abrilhantada pela lista de notáveis, mediáticos e assim-assim, que aderem à Petição do Correio da Manhã. Quase todos os que conseguem ter o seu nome divulgado no matutino, enquanto apoiantes da iniciativa do CM, deixam ali algumas palavras que ilustram a sua condenação ao “Enriquecimento Ilícito”, contra o qual se manifestam todos os subscritores da dita petição, pedindo a sua criminalização. Como não apoiar tal iniciativa? A menos que...

A menos que se vá ler o texto da petição e se fique irritado, como eu fiquei, por ver que a dita cuja aponta a sua artilharia num único sentido, a saber: «O titular de cargo político ou equiparado que, durante o período de exercício das suas funções…»” e vai por aí fora.

Apenas detentores de cargos políticos ou similares? E os outros todos… que, obviamente, são bastantes mais? Podem enriquecer da forma ilícita que bem vemos todos os dias?

E por que razão, de cada vez que os comunistas apresentam no Parlamento propostas exatamente no sentido de criminalizar todo o enriquecimento ilícito, ninguém dá atenção ao assunto... nem dentro do Parlamento, nem cá fora? Por ser uma coisa "lá dos comunistas"? Por ser contra todo o enriquecimento ilícito?

Tema nº2:

Numa parola e oportunista tentativa de imitação dos movimentos desencadeados recentemente na Tunísia, Egipto, Iémen, Líbia, etc., anda por aí um documento a circular nas caixas de correio electrónico, freneticamente reenviado, até por pessoas já com boa idade para “verem” melhor os mails que reenviam, convocando nada menos do que um milhão de pessoas para uma manifestação, com o objectivo de correr com «toda a classe política». Não fazem por menos. Um milhão... e toda a classe política!

Depois, lendo os numerosos “argumentos” da coisa... lá estão, entre algumas verdades óbvias, as mentiras do costume e todas a velhas "reivindicações" ultra reacionárias contra muito daquilo que faz parte – mesmo que com defeitos – do regime democrático. Todo o discurso inflamado contra os partidos, contra a política, contra os políticos. Todos os partidos, toda a política, todos os políticos. O velho discurso do “eles são todos iguais”... já rançoso de tão “salazarento”.

Epílogo:

Poderá bem ser uma teimosia pretensiosa estar a denunciar estas "espertezas"... mesmo que com a intenção de evitar que pessoas bem intencionadas continuem alinhando entusiasticamente em tais "comboios" populistas.

Eu, no entanto, ou por ter prestado mais atenção, ou por simples mau-feitio... nem assino *, nem vou!

* Já antes aqui tinha escrito “não digo que não se deva assinar”... e não o devia ter escrito antes de ler o texto da petição do CM. É mais uma lição!