Devo começar pedindo desculpa aos visitantes do “Cantigueiro” por ter misturado na ilustração as fotografias de Mário Soares, Tony Carreira e Eugénio de Andrade, um acto que alguns podem mesmo considerar uma obscenidade, ofensiva da sensibilidade tanto dos “fans” de Tony Carreira e Soares, como dos leitores de Eugénio... mas estou convicto de ter uma boa justificação.
Vem isto a propósito de uma entrevista televisiva feita ao meu colega de profissão, o autor e intérprete Tony Carreira, entrevista que fui seguindo quase na totalidade. Confirmei aquilo de que já tinha ideia: o meu colega António Manuel Mateus Antunes, nascido em 1963 em Armadouro (Pampilhosa da Serra), mais conhecido como Tony Carreira, deve ser uma boa pessoa. Tem uma história de vida estimável, com raízes no sacrifício e coragem do seu pai emigrado para França, seguido da mãe, que finalmente o levou também, ainda criança. Uma vida de trabalho árduo, durante parte da juventude, enquanto ia crescendo dia a dia o sonho de ser artista, sonho que o acompanhava desde pequeno. O resto é História. O Tony Carreira aí está. Homem simples, de cara sincera, de bom trato para quem com ele trabalha, amado e ouvido por milhares de portugueses que não se cansam de o aplaudir, amor que ele retribui com uma fidelidade sem falhas para com o seu público e um profissionalismo invejável.
Claro que nenhum destes aspectos da sua vida pessoal e profissional me obriga a gostar das suas opções musicais. Este post deve-se a um único momento da entrevista, em que se falou de um plano da autarquia da sua terra no sentido de transformar uma velha escola primária desactivada (que o cantor frequentou) em “Casa Museu Tony Carreira”.
Aí o meu pensamento fez agulha para outras paragens... nomeadamente para a notícia que já anda por aí há tempos, confirmada, há dias, pelo Prof. Arnaldo Saraiva num programa de televisão... e que até agora não provocou reacções dignas desse nome. Disse o Prof. Arnaldo Saraiva que a direcção da “Fundação Eugénio de Andrade”, a que ele preside, solicitou às autoridades competentes a extinção daquela Fundação... por há muito tempo não haver dinheiro para pagar o que quer que seja das despesas correntes e muito menos realizar quaisquer eventos culturais, palestras ou edições, sob a égide do seu patrono, o imenso poeta Eugénio de Andrade.
O meu pensamento fez novamente agulha para outra linha... e fiquei a pensar nessa outra Fundação, a multimilionária “Fundação Mário Soares”, instituição privada que todos vamos (involuntariamente) alimentando com milhões de euros públicos, para que Soares se possa pavonear perante os seus luxuosos convidados internacionais na antiga e belíssima casa junto ao Parlamento, imovel que lhe foi dado pela Câmara Municipal de Lisboa.
Pensei mais demoradamente neste pormenor da casa milionária de Soares, por contraste com a casa da “Fundação Eugénio de Andrade”, pois essa pertencia ao poeta, que a doou à Câmara do Porto (mais todo o espólio)... sendo que desde então, se aqui e ali foram entrando na Fundação alguns míseros Euros, foi sempre “por favor”, a conta-gotas, até à exaustão. Até se verem forçados a pedir a extinção da Fundação!
Depois pensei novamente no entusiasmo em fazer-se a “Casa Museu Tony Carreira”... e mesmo sabendo que os “fans” do cantor têm todo o direito de ter uma Casa Museu do seu artista preferido... fiquei triste... mas confesso que nem sei muito bem com o quê!
"Balança"
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
(Eugénio de Andrade)
11 comentários:
A confirmar-se o que dizes, é um post muito triste.
Os versos que deixas no fim, do Eugénio, dizem tudo.
Abreijos.
Nem sei que te dizer, além de que... estou como tu!
Há coisas que nos fazem "bater"!
Um abraço
Sempre o poder teve inveja dos poetas.São perigosos... a verdade é sempre perigosa.
Tristeza e preocupação.
Campaniça
Quanto vale a vida de Eugénio de Andrade? Apenas um imenso verso seu que não chega sequer para manter a sua Fundação.
Mas o"talento" de Tony Carreira e a grande fortuna de Mário Soares são suficientes para alimentar as suas Casas e Fundações aumentando ainda a sua fabulosa riqueza, pelo menos no caso de Mário Soares.
Que mundo ingrato!!!!!
Um beijo.
Para os que apunhalaram os seus povos há sempre dinheiro. Até quando os povos se deixarem levar!
Afinal trata-se de uma situação típica do tempo que vivemos, desta democracia soarista/cavaquista...
Um abraço.
É triste, tão triste! Deixemos as lágrimas aliviar a tristeza. Nos pratos da "nossa" balança a riqueza de Eugénio é muito mais pesada que a fabulosa riqueza lá do outro. Porque é que os povos se deixam apunhalar? Há sempre os Tony Carreira para distrair.
Aqui está o retrato do nosso triste e miserável país no século XXI. Há 36 anos tivemos tantos sonhos e tanta esperança e porém, aqui chegados percebemos que regressamos à longa noite escura da ditadura só que agora camuflada por uma democracia débil e doente. Onde iremos encontrar forças para honrar os nossos compromissos de geração e para deixar este mundo mais justo e melhor?
Greve Geral
sem pestanejar
Prefiro Eugénio de Andrade.
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